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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

MC Marcinho tinha 17 anos quando a sua vida começou a mudar rapidamente. Ele ainda jogava bola com seus amigos na rua de terra em frente de casa, na comunidade de Laureano, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, mas já fazia cerca de 20 de apresentações por semana e levava para casa um cachê de respeito, graças ao sucesso de seu "Rap do Solitário", que estourara naquele ano de 1995.

O imóvel onde o menino morava com mãe, padrasto, dois irmãos e avó era pequena e bem simples, mas o interior estava todo reformado: móveis, aparelho de som, TV e videocassete, tudo novinho. O dinheiro dos shows já permitia à família almejar até uma casa melhor, no bairro 25 de Agosto, em Caxias. "Mas meu sonho é morar na Tijuca", disse o cantor numa entrevista ao GLOBO, na época.

Márcio André Nepomuceno Garcia, que morreu neste sábado, aos 45 anos, só tinha estudado até a 6ª série do Ensino Fundamental (atual 7º ano). Pouco tempo antes de estourar, ele trabalhava em uma estamparia perto de sua casa. Pediu as contas quando as apresentações nos bailes espalhados pela Região Metropolitana do Rio já pagavam todos os boletos.

MC Marcinho com a família na sua casa, em 1995 — Foto: Marizilda Cruppe/Agência O GLOBO
MC Marcinho com a família na sua casa, em 1995 — Foto: Marizilda Cruppe/Agência O GLOBO

No miolo dos anos 1990, o funk carioca havia estabelecido identidade própria, com letras refletindo o dia a dia das favelas embaladas pelo batidão. O gênero ganhava espaço no rádio e na TV, com seus expoentes conquistando fama e dando adeus à dureza financeira, comprando tênis caro, cordões de ouro, carros e apartamentos. A música se tornara um meio para melhorar de vida. Esse foi o caminho de duplas como Claudinho & Buchecha e Cidinho & Doca, entre vários outros no mesmo período.

Marcinho escreveu seu primeiro hit quando estava na fossa, depois de uma desilusão amorosa. O fruto daquela fase dolorida foi o seu bilhete premiado. Em pouco tempo, as pessoas começaram a cantar bem alto versos como "Estou arrasado/Sou MC Marcinho e estou apaixonado", enquanto dançavam como se não houvesse amanhã. Em um espaço de meses, "Rap do Solitário" se tornou hino de uma geração, e a vida do adolescente que o escrevera nunca mais foi a mesma.

O artista de Laureano passou a ser parado na rua por pedidos de autógrafo. Durante os seus shows, mulheres o agarravam e gritavam seu nome. O coração do funkeiro, porém, já estava com a namorada, MC Cacau, de 21 anos, cria da Rocinha que também desfrutava da glória. Graças ao seu "Rap do baile", a mãe dela tinha largado o trabalho como faxineira, e a filha estava indo estudar em escola particular.

O casal lançou um disco em parceria, "Porque te amo", em 1997, pelo selo do DJ Marlboro, grande revelador de talentos da época, produtor de discos clássicos como "Funk Brasil" (1989) e "Funk Brasil Especial" (1994). Um ano depois da estreia com Cacau, Marcinho lançou seu primeiro álbum solo, "Sempre solitário", com hits como "Princesa" e "Garota nota 100". Pouco depois, viria "Glamurosa", seu maior sucesso, bastante tocado até hoje em festas de diferentes gerações.

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