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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

Houve uma época em que os craques do futebol brasileiro passavam suas carreiras inteiras atuando em gramados nacionais. Um bom exemplo disso é, justamente, o maior jogador de todos os tempos. Edson Arantes do Nascimento, o rei Pelé, passou quase toda a vida profissional defendendo o Santos e a seleção. Em 1974, o mineiro de Três Corações, aos 34 anos, anunciou que estava pendurando as chuteiras. Ele já tinha se despedido da camisa amarela, em 1971, e estava deixando o uniforme do clube paulista. Mas aí surgiu um articulador nato que, segundo o próprio Pelé, o fez mudar de ideia.

"Eu tinha me aposentado da seleção e havia decidido que iria deixar também do Santos. Tinha ofertas para ir à Itália e Espanha, mas recusava dizendo que ia me aposentar do futebol. Só que, então, Henry Kissinger veio para São Paulo", relembrou o eterno camisa 10 em uma entrevista à revista "Esquire" publicada em 2016, quando ele já tinha 76 anos. "Ele me convidou a um café e disse: 'Escuta, você sabe que sou dos Estados Unidos, que trabalho com política. O futebol está crescendo no país, os americanos estão jogando nas escolas. Você gostaria de nos ajudar a promover o esporte lá?'".

Na época, Kissinger era secretário de Estado do governo americano. Peixe graúdo da política externa, o diplomata vencedor do Nobel da Paz, que morreu nesta quinta-feira, aos 100 anos, também era grande fã de futebol. Ele se apaixonara pelo esporte durante a infância na Alemanha, onde nascera e vivera antes de escapar da perseguição antissemita, em 1938. Já era sabido que, em 1975, Kissinger tinha enviado um telegrama ao então chanceler brasileiro, Azeredo da Silveira, manifestando interesse na ida de Pelé pelo Cosmos. Mas o encontro entre os dois é bem menos conhecido.

Henry Kissinger e João Havelange durante partida entre Brasil e Holanda na Copa de 1974, na Alemanha — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO
Henry Kissinger e João Havelange durante partida entre Brasil e Holanda na Copa de 1974, na Alemanha — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO

Houve outro fator determinante para Pelé aceitar o convite para atuar pelo New York Cosmos. Em meados dos anos 1970, uma de suas empresas, a Fiolax, fabricante de peças de borracha, estava devendo milhões na praça. O craque havia dado a sua assinatura como garantia de um empréstimo e não tinha outra alternativa a não ser pagar. Então, em 1975, Edson Arantes do Nascimento aceitou esticar sua carreira e deu início a um período de dois anos nos estádios do Tio Sam.

"Eu aceitei. Disse que jogaria lá por um ano. Estava um pouco apenas preocupado porque o nível de jogo nos Estados Unidos não era alto ainda. Mas, então, quando começamos a promover o futebol, tudo ficou bastante interessante. Eles trouxeram Franz Beckenbauer e Johan Cruyff, além de Giorio Chinaglia. Foi quando eu disse, "Caramba, isso é ótimo", e concordei em ficar por mais tempo. O movimento seguiu, eles começaram a jogar em universidades, e o futebol cresceu bastante desde então", descreveu Pelé na mesma entrevista à "Esquire".

Em 1977, Pelé encerrou a carreira em um amistoso entre o Cosmos e o Santos, em Nova York. Em seu discurso de despedida do futebol profissional, o camisa 10 pediu que o público repetisse com ele, três vezes, a palavra "love" (amor), o que inspirou a Caetano Veloso a compor a canção "Love Love Love". Kissinger estava em meio às milhares de pessoas que assistiram à partida, no estádio dos Giants. ]

Despedida de Pelé no estádio dos Giants em Nova York — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO
Despedida de Pelé no estádio dos Giants em Nova York — Foto: Arquivo/Agência O GLOBO
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