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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

As emissoras de TV americanas transmitiam um jogo entre o Houston Rockets e o New York Knicks, pelas finais da NBA, na tarde de 17 de junho de 1994, quando a programação foi interrompida para exibir uma perseguição policial nas ruas de Los Angeles. As imagens mostravam carros com sirenes atrás de um utiliário Ford Bronco no qual estava ninguém menos que o ex-astro de futebol americano O.J. Simpson. Então o principal suspeito do assassinato de sua ex-mulher, Nicole Brown, e do amigo dela chamado Ronald Goldman, Simpson deveria ter se entregado às autoridades, como havia sido combinado, mas desistiu de comparecer a uma delegacia e acabou sendo perseguido.

Durante uma hora e meia, câmeras instaladas em helicópteros de TV exibiram, do alto, as imagens do carro do ex-atleta fugindo em baixa velocidade. Simpson estava no banco do passageiro com uma arma apontada para seu amigo Al Cowlings, que conduzia o automóvel. Com audiência estimada em 95 milhões de pessoas, a perseguição em Los Angeles é considerada um dos acontecimentos com o maior número de espectadores da história dos EUA. O ídolo do esporte seria preso na entrada da sua casa. Mais tarde, ele se tornaria réu em um processo acompanhado de perto pela opinião pública. Não é raro encontrar referências ao episódio como o "julgamento do século" devido à publicidade recebida.

O caso gerou grande debate no país. Divorciado de sua primeira mulher, Marguerite, com quem teve três filhos (em 1979, a caçula morreu afogada na piscina da família), Simpson se casara, em 1985, com a modelo Nicole Brown, com quem teve dois filhos. O casal viveu uma relação conturbada. Ciumento e agressivo, o ex-jogador chegou a ser preso, em 1989, acusado por Nicole de violência doméstica. Eles estavam separados desde 1992. Mesmo assim, quando a modelo e o amigo Ronald foram esfaqueados até a morte do lado de fora da casa de Nicole, na noite de 12 de junho de 1994, Simpson foi imediatamente considerado o principal suspeito.

OJ Simpson após ser preso ao fim de perseguição policial, em 1994 — Foto: Reprodução
OJ Simpson após ser preso ao fim de perseguição policial, em 1994 — Foto: Reprodução

O julgamento, que começou em novembro de 1994, dividiu a opinião pública pela questão racial. Entre os negros, a maioria acreditava na inocência de Simpson, enquanto, entre os brancos, a maioria achava que o ex-astro de futebol americano era culpado. De acordo com comentaristas que acompanharam o caso, a controvérsia de motivação étnica influenciou o julgamento. Havia diversos indícios contra Simpson, mas, após 11 meses de análise do caso, o júri de maioria negra absolveu o acusado.

Em 1997, porém, uma ação civil movida pela família de Ronald Goldman terminou com a condenação de Simpson, orbrigado a pagar para parentes das duas vítimas indenizações milionárias. Desde então, o ex-atleta passou a enfrentar uma série de problemas financeiros. Para arcar com as indenizações, ele leiloou, em fevereiro de 1999, troféus e outros objetos pessoais. Mas o resultado da medida se mostrou decepcionante: Simpson arrecadou apenas US$ 430 mil com as vendas.

Na década seguinte, em 16 de setembro de 2007, o ex-jogador voltou a enfrentar problemas legais. Ele foi preso em Las Vegas acusado de assalto à mão armada, sequestro e formação de quadrilha, após invadir um hotel-cassino com três outros homens e levar de lá peças esportivas de colecionadores que foram mantidos como reféns pelo grupo. Simpson foi novamente julgado e, no dia 4 de outubro de 2008, considerado culpado de 12 acusações por um tribunal do Estado de Nevada. O americano, então com 61 anos de idade, foi condenado a 33 anos de cadeia. Ele ficou cumpriu pena em regime fechado até outubro de 2017, quando saiu da prisão em liberdade condicional.

Em 2017, "O.J.: Made in America", com 7 horas e 47 minutos de duração, conquistou o Oscar. O filme, que superou "Guerra e Paz" (1969), com 7 horas e 7 minutos, é uma produção da rede de TV americana ESPN sobre a trajetória do ídolo de futebol americano. O documentário foi exibido como uma série televisiva, mas também teve lançamento no cinema, para que pudesse ser elegível ao Oscar.

O.J. Simpson após saber que teria liberdade condicional, em 2017 — Foto: Jason Bean/AFP
O.J. Simpson após saber que teria liberdade condicional, em 2017 — Foto: Jason Bean/AFP
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