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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

Uma das maiores manifestações políticas da história do Rio ocorreu há 40 anos, no dia 10 de abril de 1984, quando cerca de 400 mil pessoas se reuniram na Avenida Presidente Vargas, perto da Igreja da Candelária, no Centro, para exigir eleições diretas para a Presidência da República.

O Brasil vivia mais de 20 anos de ditadura militar, com suspensão de direitos, censura prévia, repressão política e tragédia econômica. No começo dos anos 1980, a inflação anual no país passava de 200%. Ninguém aguentava mais o "combo" de autoritarismo e incompetência.

Em 1979, o general João Figueiredo havia sido alçado à Presidência em mais uma eleição indireta no Congresso Nacional. O militar gaúcho assumira o poder prometendo reestabelecer a democracia, usurpada desde o golpe de 31 de março de 1964. Mas o tempo passou, e o povo decidiu tomar as rédeas da situação. Começou, então, em 1983, proposto pelo senador alagoano Teotônio Viela, um movimento reivindicando a realização das primeiras eleições diretas para presidente desde 1960.

Ao longo de meses, foram vários pequenos comícios pelo país reunindo alguns milhares de pessoas, até que a mobilização explodiu em janeiro de 1984, quando cerca de 300 mil se reuniram na Praça da Sé, em São Paulo. A partir dali, diversas cidades de Norte a Sul do Brasil, como Belém, Recife, Curitiba e Belo Horizonte, passaram a promover eventos cada vez maiores. O país queria votar!

Multidão reunida pedindo eleições diretas para presidente, em 1984 — Foto: Anibal Philot
Multidão reunida pedindo eleições diretas para presidente, em 1984 — Foto: Anibal Philot

O maior comício das "Diretas Já" aconteceu naquela terça-feira, 40 anos atrás, no Rio. O evento estava marcado para 17h, mas, às 13h30, o entorno da Candelária já estava tomado. Estimativas dão conta de 1 milhão de pessoas. Mas o respeitado engenheiro de trânsito Ferando Mac Dowell se baseou em critérios do Instituto Bettelle, da Suíça, e em estudos antropométricos para cravar em 370 mil o total de manifestantes naquele dia 10 de abrl. "Fiz um estudo técnico e considero esse número fantástico".

Tinha de moradores da Cidade de Deus a alunos do Colégio Santo Inácio. Tinha gente fantasiada e trabalhadores de terno e gravata. Tinha mães e pais com seus filhos e casais de namorados. Um grupo de alunos e professores da Escola de Teatro Martins Pena reviveu o "dragão das diretas", bicho de cabeça grande e corpo de cobra que desfilou no carnaval de Brasília daquele ano.

Políticos como os governadores Leonel Brizola (RJ), Franco Montoro (SP) e Tancredo Neves (MG), que haviam sido eleitos em 1982, na primeira votação estadual em 17 anos, subiram no palanque para discursar. Fafá de Belém, Milton Nascimento, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Beth Carvalho, entre muitos outros artistas, também deram seu recado e cantaram para a multidão.

Apesar do grande apoio popular, em 25 de abril de 1984, a Proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira, que previa eleições diretas em 1985, foi rejeitada no Congresso Nacional. Eram necessários 320 votos (dois terços da Câmara dos Deputados) para aprovar a emenda. Ao fim da votação, houve 298 deputados a favor, 65 contra a proposta, três abstenções e 113 ausências ao plenário.

Mesmo assim, o movimento "Diretas Já" teve grande impacto no país. Suas lideranças se tornaram a elite política nacional. O processo de redemocratização se consolidou com Tancredo eleito presidente em votação indireta (ele morreu antes de tomar posse, dando lugar ao vice, José Sarney) e com a promulgação da Constituição Federal, em 1988, que inaugurou a Nova República.

"Diretas Já": Políticos como Brizola, Tacredo Neves e Ulysses Guimarães com Beth Carvalho — Foto: Sebastião Marinho
"Diretas Já": Políticos como Brizola, Tacredo Neves e Ulysses Guimarães com Beth Carvalho — Foto: Sebastião Marinho
O hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comício por diretas no Rio, em 1984 — Foto: Sebastião Marinho
O hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante comício por diretas no Rio, em 1984 — Foto: Sebastião Marinho
Milton Nascimento durante comício das "Diretas Já" no Rio, em 1984 — Foto: Sebastião Marinho
Milton Nascimento durante comício das "Diretas Já" no Rio, em 1984 — Foto: Sebastião Marinho
Chico Buarque no microfone durante comício das "Diretas Já" no Rio em 1984 — Foto: Anibal Philot
Chico Buarque no microfone durante comício das "Diretas Já" no Rio em 1984 — Foto: Anibal Philot
Avenida Presidente Vargas tomada pelo povo em comício das "Diretas Já" — Foto: Hipólito Pereira
Avenida Presidente Vargas tomada pelo povo em comício das "Diretas Já" — Foto: Hipólito Pereira
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