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Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Rennan Setti

Se havia alguma dúvida de que o trio da 3G Capital viraria alvo no escândalo da Americanas, não há mais. Não passou despercebido entre executivos do varejo o duríssimo tom empregado pelos advogados do BTG Pactual contra Jorge Paulo Lemann e seus sócios na batalha judicial sobre a varejista. O banco acusa textualmente o grupo de ter arquitetado ao longo de anos a "maior fraude corporativa de que se tem notícia na história do país."

“O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil (com patrimônio avaliado em R$ 180 bilhões), ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial 'do bem', são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio”, diz um trecho da petição inicial que tentava derrubar a suspensão das dívidas da Americanas.

Segundo os advogados, o pedido de proteção liminar contra credores "é o fraudador pedindo às barras da Justiça proteção 'contra' a sua própria fraude."

"É o fraudador cumprindo a sua própria profecia, dando verdadeiramente 'uma de maluco para esses caras saberem que é pra valer', (...) fraudador travestindo-se como o menino da antiga anedota forense, que, após matar o pai e a mãe, pede clemência aos jurados por ser órfão", continua.

Os advogados do BTG classificam o trio da 3G Capital — Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — de “os homens por trás do ‘one trick pony —very very tricky’”. (O trecho em inglês significa algo como saber fazer bem apenas uma coisa, mas com expedientes maliciosos).

E vão além:

“O trio por trás do controle da Americanas (ainda que travestido da denominação “acionistas de referência”) dispensa introdução. Conquanto as trajetórias de sucesso estejam estampadas em best-sellers, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira construíram seus impérios em bases que não são tão sólidas quanto parecem.”

‘Sucesso a qualquer custo’

A petição assinada pelo escritório Galdino & Coelho, que representa o BTG, diz ainda que, embora tenham “fortunas bilionárias, capazes de alocá-los nos rankings da Forbes entre os mais ricos do mundo” e tenham sido os “ responsáveis por controlar, há 40 anos (atualmente acionistas de referência)”, a companhia controlada por eles “simplesmente não percebeu um rombo contábil de R$ 20 bilhões e (…), agora, aponta um credor relevante que fez uma compensação contratual legítima de crédito como o suposto vilão responsável por lhe conduzir à insolvência.”

Esse credor, claro, é o BTG Pactual, que tem créditos de R$ 1,9 bilhão com a Americanas.

“Ocorre que o modus operandi dos bilionários da 3G parece ser sucesso a qualquer custo, ainda que isso cause qualquer tipo de prejuízo ao mercado”, continuam os advogados do BTG, antes de enfileirar uma série de casos de irregularidades envolvendo companhias controladas pelos donos da 3G Capital.

“Em 2005, foram acusados, na qualidade de acionistas controladores, de terem atuado com abuso de poder de controle, ao desvirtuarem os objetivos do plano de opção de compra de ações da Ambev”, citam.

‘Ardil’

Os advogados do banco também acusam a Americanas de ter praticado uma fraude contábil semelhante à da Kraft Heinz, que foi multada em US$ 62 milhões nos EUA em 2021.

“Agora, a história se repete. Do que se viu do escândalo da Kraft Heinz, o traço característico para a prática de fraude parece ser a manipulação de informações contábeis. Foi isso o que ocorreu em 2019. E é exatamente isso que ocorre agora.”

O BTG Pactual também lança suspeitas de que a operação que levou à saída do trio da 3G do controle da Americanas, no ano passado, tenha sido um “ardil”:

“E tudo indica que todo esse ardil já está sendo planejado e operado há muito tempo. Ao apagar das luzes de 2021, a 3G Capital simplesmente abre mão do controle da companhia, curiosamente sem qualquer prêmio, criando a figura de ‘acionistas de referência’ para seguir controlando suas decisões por trás dos panos, sem a exposição ordinária de um controlador comum.”

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