Capital
PUBLICIDADE
Capital

Informações exclusivas, análises e bastidores do mundo dos negócios.

Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Mariana Barbosa

A depredação na Praça dos Três Poderes promovida por bolsonaristas radicais no último domingo em Brasília, para além do prejuízo material incomensurável, fortalece o governo Lula e poderá contribuir para unir o país, ou ao menos reduzir a polarização política — isolando o bolsonarismo mais radical em um cercadinho. Esta é a visão de Ricardo Lacerda, fundador e CEO do banco de investimentos BR Partners.

Assim como grande parte dos agentes do mercado financeiro que votou em Bolsonaro confiando na agenda liberal de Paulo Guedes, Lacerda é veemente na condenação das invasões praticadas por bolsonaristas radicais, que classificou de “canalhas terroristas que deveriam estar na cadeia”. Apesar de não poupar críticas ao governo Lula, acredita que o atual mandatário sai fortalecido do episódio, sobretudo pela forma “contundente” com que vem conduzindo a reação aos atos antidemocráticos.

Como o sr avalia os atos de depredação das sedes dos Três Poderes no último domingo em Brasília?

Os ataques golpistas merecem ser condenados sob todos os aspectos e aqueles que os praticaram são bandidos criminosos que deveriam estar na cadeia. Na verdade, são mais que criminosos. São canalhas terroristas. Isso foge de qualquer espectro ideológico. A reação do governo e das instituições tem que ser e está sendo muito contundente, o que mostra que o Brasil não é uma republiqueta. As instituições e a nossa democracia estão funcionando e quem foi negligente, como parece ser o caso do governo do Distrito Federal, tem que ser punido exemplarmente também.

O sr. foi crítico do governo Bolsonaro, mas acabou votando pela sua reeleição. Se arrepende, depois de tudo o que aconteceu?

Eu não votei a favor do Bolsonaro, votei contra o Lula. E acho que o Lula estava indo até pior do que eu achava até o domingo. Ele cresceu no domingo após os ataques porque nisso (articulação institucional e política) ele é bom. Os ataques podem reforçar o argumento daqueles que votaram no Lula por medo de ruptura. Eu sempre respeitei quem votou em um candidato ou no outro contra o outro. Mas eu não enxergava risco de ruptura durante as eleições e continuo não enxergando agora.

O sr. não vê ameaça à democracia?

Não vejo. Esse episódio serviu para reforçar ainda mais as nossas instituições e mostrar que a nossa democracia resiste a esse tipo de percalço. É lamentável, mas envolve um grupo extremamente radical, porém minoritário. Não representa os 58 milhões de votos que o Bolsonaro teve nas eleições. Agora cabe ao Lula buscar fazer um discurso de união. Ele tem condição de unir o país para a gente evoluir e sair dessa polarização, mas para isso precisa acenar para o eleitor de centro.

Como os ataques terroristas de domingo podem afetar a confiança de investidores estrangeiros em relação ao Brasil?

Cada vez mais o espectro de investidores dispostos a olhar o Brasil tem diminuído. Desde que o país perdeu o grau de investimento, em 2015, tivemos uma sequência de confusões. Houve a catástrofe da era Dilma, o impeachment, aí veio o (governo de Michel) Temer e depois o escândalo do Joesley. Entrou o Bolsonaro, com o ministro da Economia Paulo Guedes que era liberal, mas aí vem o Bolsonaro com todas essas as maluquices. É muita confusão para pouco retorno, para pouca oportunidade. Mas tem também alguns investidores que são mais fiéis. E esses entendem melhor o país e acho que conseguem enxergar que não somos uma republiqueta, que as instituições estão funcionando. Afinal, um país que passa por um episódio dessa magnitude, tal como a invasão do Capitólio nos EUA, e consegue ter uma reação contundente, mostra a força de suas instituições.

O que vai ser do eleitor de direita que estava com Bolsonaro pela agenda econômica liberal após esses ataques?

Acredito que os ataques podem ajudar a depurar os radicais de um eleitor que está cansado de sustentar um Estado grande e gastão, cansado de um projeto político que só pensa em auxílio e não pensa em educação, que não tem uma visão moderna para a economia. Com o Bolsonaro isolado em um espectro mais radical, essa direita precisa encontrar um novo líder. Não há condição, dado tudo aquilo que Bolsonaro fez e representa, dele continuar encabeçando esse movimento. A não ser que o governo Lula seja um desastre total. Aí ele pode ressuscitar o Bolsonaro como o Bolsonaro conseguiu ressuscitar o Lula.

E quem poderia ocupar esse espaço na direita?

Temos nomes já amadurecidos. Acredito que os governadores Romeu Zema (MG), Eduardo Leite (RS) ou Tarcísio de Freitas (SP) podem ocupar esse espaço. Tarcisio sai com uma grande vantagem e uma desvantagem. Ele pode rapidamente herdar os votos do Bolsonarismo caso o ex-presidente saia de cena ou fique inelegível. Se Bolsonaro insistir em voltar, ficará mais difícil brigar por espaço.

Por que Tarcísio sairia na frente?

Eu o vejo como herdeiro natural, por ser oriundo do bolsonarismo, mas nunca ter compactuado com o radicalismo. Ele sempre foi moderado, não tem declarações escorregadias. Se houver um vácuo de poder, ele tem chance de se colocar como liderança nacional.

Mais recente Próxima

Inscreva-se na Newsletter: Capital