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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Mariana Barbosa

A puxada de freio dos investimentos em start-ups no ano passado, quando a escalada global de juros reduziu o apetite para investimentos de risco, afetou o Brasil de forma mais dramática do que os vizinhos na América Latina.

Desde 2018, o Brasil costumava abocanhar quase 60% dos investimentos destinados ao ecossistema de empresas de tecnologia nascentes, fatia que caiu para 43% no ano passado, quando o país atraiu US$ 5,2 bilhões, de um total de US$ 12 bilhões investido em toda região. Os dados fazem parte do novo levantamento da plataforma de dados SlingHub, que reuniu investimentos no ecossistema de startups da região desde 2018.

O volume de US$ 5,2 bilhões investidos no Brasil no ano passado representa uma queda de 50% em relação a 2021 — considerado um ano excepcional, com US$ 10,5 bilhões de investimentos. Na América Latina, excluindo Brasil, o impacto foi de apenas 14%, saindo de US$ 7,9 bilhões para US$ 6,8 bilhões. Em alguns países, como Colômbia, não houve crise: lá houve alta de 21% nos investimentos.

— As condições de mercado tiveram influência no resultado e podem ser parcialmente responsáveis pela redução da participação do país no total arrecadado na região — avalia João Ventura, CEO da SlingHub. No entanto, alguns países, como Colômbia e Chile, cresceram e ganharam mercado sobre os demais países da região, o que, na avaliação da SlingHub, pode ser um "indicador do amadurecimento do ecossistema, mesmo sob condições desfavoráveis”.

UNICÓRNIOS

Além de superarem o Brasil, os países vizinhos também seguiram atraindo rodadas maiores e conseguiram produzir 8 unicórnios. Por aqui, depois de uma “colheita” de 10 unicórnios em 2021, apenas duas startups alcançaram o status atribuído a empresas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão: as fintechs Neon e a Dock. Foi a menor safra brasileira desde 2018, quando foram “produzidos” 7 unicónios.

O Neon foi avaliado em mais de US$ 1 bi pelo banco espanhol BBVA, que investiu US$ 300 milhões no negócio em fevereiro. A Dock alcançou o status em maio, em uma rodada de US$ 110 milhões que atraiu os fundos Lightrock, Silver Lake, Riverwood, Viking Global Investors e Sunley House Capital Management.

A mudança no cenário internacional levou a uma onda de demissões no ano passado e deu um choque de racionalidade ao setor, que passou a privilegiar a busca por resultados sobre crescimento a qualquer custo.

A queda nos investimentos afetou as empresas em estágios mais avançados e que estavam se aproximando de um IPO, e também aquelas em estágio muito inicial ou de validação do modelo de negócios (que buscam captação de menos de US$ 1 milhão).

O número de empresas captando pela primeira vez caiu de 507 para 432 no Brasil — e o ticket ficou menor. O volume de recursos de primeira rodada caiu pela metade, para US$ 1 bilhão. Nos demais países da América Latina, aconteceu um movimento contrário, com mais startups sendo contempladas com um primeiro cheque: 225 empresas receberam US$ 1,4 bilhão no ano passado, ante 162 que receberam US$ 700 milhões em 2021.

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