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Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Rennan Setti

As notícias de que a Tok&Stok está devendo aluguel de seu único centro de distribuição e, como revelou o repórter Bruno Rosa, contratou a Alvarez & Marsal para uma reestruturação acenderam o sinal amarelo em um setor ainda traumatizado pela bomba contábil da Americanas.

Enquanto a crise da Americanas é resultado de “barbeiragens” no balanço que já foram classificadas de fraude por mais de uma de suas vítimas, a fragilidade da Tok&Stok deriva de percepções distorcidas de uma gestão com pouca experiência em varejo que acreditou serem perenes resultados inflados pela quarentena. A realidade se impôs na forma de caixa esvaziado, justamente no momento em que fundos, bancos e fornecedores estão ressabiados com a escalada da crise da varejista de Jorge Paulo Lemann.

Assim como outras redes de lojas de decoração, a Tok&Stok foi beneficiada pela pandemia, já que, privadas de viagens e restaurantes, restava às classes médias trocar o sofá. O problema, segundo executivos que acompanham de perto a companhia, foi que a Tok&Stok entendeu que a quarentena mudaria o patamar do seu faturamento para sempre.

IPO da discórdia

O primeiro sinal disso se deu ainda em 2020. Naquele ano, a companhia conversou com fundos de investimento para a realização de um IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações). Como a obsessão das gestoras naquele momento eram empresas de alto crescimento, muitas vezes com componentes de tecnologia, a melhor proposta oferecida pelos fundos avaliava a Tok&Stok em R$ 2 bilhões — um múltiplo equivalente a mais ou menos dez vezes seu Ebitda (geração de caixa operacional), para uma empresa praticamente sem dívidas.

A cifra desagradou o fundo Carlyle, que comprara 60% do negócio por R$ 700 milhões oito anos antes. Embora o IPO desse à gestora a chance de sair do negócio, ela acreditava que conseguiria posteriormente um valuation de até R$ 3 bilhões. Até porque o múltiplo de outros IPOs que estavam ocorrendo à época eram mais generosos… Por isso, a Carlyle engavetou o IPO.

A desistência gerou um racha na Tok&Stok, que buscou um novo comando. Em setembro de 2020, assumiu a cadeira Octavio Pereira Lopes, que já era conselheiro da empresa e havia sido CEO da Equatorial e diretor da GP Investimentos, de Lemann. (Hoje, o executivo comanda a também encrencada Light…).

Mesmo sem qualquer experiência em varejo, Lopes propôs um plano de digitalização acelerada com a meta de preparar a Tok&Stok para um IPO muito mais robusto, que avaliaria a companhia em algo como R$ 5 bilhões, disse um interlocutor. A sede da companhia mudou de Alphaville para São Paulo, e o quadro de funcionários do escritório saiu de 300 para 700 pessoas.

Só que, com o fim da quarentena, as vendas começaram a cair a um ritmo na casa de 15% ou 20% ao ano em 2021 e 2022. Quando Lopes saiu do comando para assumir a Light, em meados de 2022, a companhia já estava com o caixa apertado e enfrentava um cenário de juros muito mais complicado.

Renegociação desde dezembro

A saída do executivo deixou a Tok&Stok acéfala, e a Carlyle decidiu empossar no comando um de seus próprios executivos, o carioca Daniel Sterenberg, que já era conselheiro da empresa. Isso coincidiu com uma mudança importante na própria Carlyle, cuja operação no Brasil estava sendo absorvida pela gestora SPX, de Rogério Xavier.

Uma fonte próxima à empresa classifica de “cereja no bolo” a decisão de não pagar o aluguel do centro de distribuição em Extrema.

— Embora os executivos da companhia tenham currículos e backgrounds excelentes, falta experiência em varejo. Quem opera no setor sabe que isso não se faz com o centro de distribuição, já que, sem ele, a companhia não funciona. Geralmente, o que se faz é atrasar aluguéis de lojas, daquelas com desempenho pior, e sentar na mesa para negociar — comenta essa fonte, que preferiu não ser identificada porque não está autorizado a falar publicamente sobre o assunto.

A interlocutores, o diretor financeiro da Tok&Stok, Guilherme Fávaro, tem dito que a empresa não foi notificada de “um atraso de menos de dez dias” no aluguel do CD e que já vinha discutindo com a Vinci (dona do imóvel) e com administradora Fulwood uma redução no valor do contrato desde dezembro de 2022.

Para observadores da empresa, a contratação da A&M mostra que a Tok&Stok se viu agora forçada a sentar à mesa de negociações com vários outros elos da cadeia, de credores a fornecedores.

Mais recente Próxima Intenção de consumo entre os mais pobres volta, enfim, ao nível pré-pandemia

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