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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por Rennan Setti

O pedido de recuperação judicial do Grupo Petrópolis, terceiro maior do setor cervejeiro brasileiro, já faz com que os bancos especulem quais concorrentes devem se beneficiar da situação e se há saídas societárias à vista.

Na opinião de Itaú BBA e Credit Suisse, a Ambev é quem mais tem a ganhar com o ocaso da concorrente menor — não à toa, os papéis da companhia saltam 4,8% na Bolsa nesta terça-feira, cotadas a R$ 14,59.

“No curto prazo, acreditamos que a Ambev está melhor posicionada em termos de portfólio e alcance de distribuição para continuar absorvendo potenciais perdas de market share (do Grupo Petrópolis), como vem fazendo desde 2020 — com aumento nos volumes de cerveja vendida da ordem de 9,3 milhões de hectolitros, 1,3 vez a perda de volume da Petrópolis no período”, analisou o Credit Suisse.

Segundo o banco, o consumo de cerveja per capita está no maior nível já registrado no país, o que torna mais difícil novos crescimentos orgânicos. Isso tornaria a participação do Grupo Petrópolis — estimada em 13% pelo Itaú BBA — um espólio a ser disputado pela concorrência.

Heineken, Coca ou nenhuma das alternativas anteriores?

Tanto Credit Suisse quanto Itaú apontam Heineken e Sistema Coca-Cola como potenciais compradores — com o Itaú acrescentando também um eventual concorrente externo que esteja interessado em operar no Brasil. (A Ambev, líder com mais de metade do setor cervejeiro por aqui, enfrentaria barreiras regulatórias.)

De acordo com os analistas do Itaú, “poderia ser um cenário perfeito para uma cervejaria estrangeira entrar na indústria brasileira.”

“A atual capacidade de produção anual de Petrópolis é de aproximadamente 50 milhões de hectolitros, o que seria um ponto de partida sólido para um player internacional atingir um patamar de participação de mercado que seja lucrativo. Ela não necessariamente precisaria adquirir todas as fábricas, mas uma aquisição parcial pode ser suficiente para atingir um ponto de partida mínimo”, escreveu.

Sobre a Heineken, segunda maior competidora do mercado local, o Itaú BBA enxerga potenciais restrições no Cade:

“Acreditamos que a Heineken poderia buscar a aquisição de diversas plantas específicas para impulsionar seus planos de expansão de capacidade no Brasil. A capacidade de Petrópolis vem de oito fábricas, e a Heineken poderia fazer lances por algumas delas que se encaixam em seu portfólio atual para acelerar sua expansão de capacidade.”

Para o banco, o Sistema Coca-Cola seria a alternativa menos óbvia para o Grupo Petrópolis, embora tenha comprado a cervejaria Therezópolis em 2021.

“No entanto, notamos que, após o término do contrato de distribuição entre Coca-Cola e Heineken, o Grupo Petrópolis pode agora ser uma alternativa para (a Coca-Cola) preencher a capacidade ociosa de distribuição que já existe, e os recentes anúncios de expansão de capacidade da Therezópolis podem ser um indicativo de que a empresa está disposta a ampliar sua exposição ao segmento”, observou.

A ‘culpa’ da Ambev

Em sua análise, o Itaú BBA corroborou a tese detalhada pelo Grupo Petrópolis em seu pedido de recuperação judicial: a companhia foi sendo espremida por concorrentes maiores dispostos a sacrificar margem agressivamente para ganhar mercado.

“A notícia pode ser interpretada como um sinal de que a rentabilidade do setor cervejeiro brasileiro opera em níveis abaixo do ideal. Notamos que a Ambev vem apresentando reduções em sua margem bruta desde 2012, levando a uma queda de lucratividade em toda a indústria. Com margens comprimidas, players com menor market share, capacidade de diluição de custos e eficiências de escala tendem a enfrentar problemas cada vez maiores”, escreveram os analistas do banco.

O banco cita dados de produção de bebidas alcóolicas divulgados pelo IBGE segundo os quais a indústria brasileira ficou praticamente estagnada entre 2020 e 2022. Mas, nesse período, tanto Ambev como Heineken registraram crescimento de dois dígitos à frente da média do setor — na prática, roubando fatia de mercado do Grupo Petrópolis.

No pedido de recuperação judicial, o Grupo Petrópolis sustenta que sua participação de mercado recuou de 15,3% para 10,6% desde 2020.

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