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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

Por — São Paulo

Diante da competição com asiáticas como Shopee e Shein e daquilo que chama de ausência de isonomia tributária, o Mercado Livre avalia estimular no Brasil as vendas “cross-border” — isto é, enviadas por vendedores estrangeiros. Hoje, esse volume é desprezível na operação do e-commerce por aqui, mas representa 15% do volume das vendas da companhia no México, observou Fernando Yunes, que comanda o Mercado Livre no Brasil.

— A gente defende a isonomia entre internacionais e nacionais. A isenção do imposto de 60% para zero (para compras até US$ 50), nas nossas contas, gera um benefício para as internacionais. A gente acredita que o imposto de importação deve mudar e buscar uma isonomia, embora não volte para 60%. Se não, os estrangeiros terão vantagem diante dos locais — afirmou o executivo, em conversas com jornalistas em São Paulo nesta quarta-feira.

Desde o início do mês, o programa Remessa Conforme permite que produtos de até US$ 50 importados via marketplaces como Shein, Shopee e AliExpress fiquem isentos do imposto de importação, cuja alíquota é de 60%. Incide sobre eles apenas o ICMS de 17%. Mas o governo federal já sinalizou que estuda voltar a cobrar imposto de importação desse tipo de produto, embora não tenha mencionado alíquotas. O movimento é uma aparente reação às críticas de varejistas locais, que vêm reclamando da isenção proporcionada pela Fazenda aos sites estrangeiros.

— A gente gosta de trabalhar com os vendedores locais, eles são o nosso foco. Por isso a gente nunca incentivou isso (a venda cross-border) no Brasil. Hoje o volume é desprezível. Mas, a partir do momento em que players estrangeiros tem vantagem, inevitavelmente vai haver um crescimento das vendas de fora. Seria uma alternativa a desenvolver. No México, elas já são 15% do volume total, com times inteiros dedicados a esse modelo — observou Yunes, que participa de evento do Mercado Livre para 15 mil vendedores brasileiros da plataforma.

Novos centros de distribuição

Enquanto compete com rivais internacionais, o Mercado Livre está expandindo sua infraestrutura logística no Brasil. A companhia anunciou, nesta quarta-feira, a abertura de dois novos centros de distribuição (CDs), elevando para dez o total. Um deles acaba de ser aberto no Rio, no bairro de Cordovil, Zona Norte da capital; o outro será aberto no ano que vem no Recife. Além disso, a empresa diz ter acrescentado uma aeronave à sua frota própria, chegando a nove aviões.

— Esses CDs vão permitir a entrega no mesmo dia para os consumidores do Grande Rio e do Grande Recife — explicou Yunes, acrescentando que a companhia negocia a abertura de um CD no Ceará. — Estamos esperando um decreto ser publicado autorizando o modelo com que operamos, pelo qual a empresa não precisa abrir um CNPJ no estado onde o CD está.

Hoje, 80% das entregas no país são feitas em até 48 horas, e 50%, até o dia seguinte. (No pré-pandemia, a taxa era de 13%).

A empresa diz que os novos CDs criarão 1 mil empregos diretos, mas não precisa o valor do investimento. No total, o Mercado Livre prevê investir R$ 19 bilhões este ano no Brasil.

Fidelidade

A companhia também anunciou a criação de um novo programa de fidelidade, batizado de Meli+, que embute assinaturas dos serviços de streaming Disney+, Star+ e Deezer, compras com frete grátis para valores a partir de R$ 29 e possibilidade de entregas agendadas. O Meli+ vai custar R$ 17,99 por mês — um subsídio agressivo para atrair clientes interessados em serviços de streaming que custam mais caro individualmente.

Este mês, o Mercado Livre já havia lançado seu próprio serviço de streaming, o Mercado Play, que é gratuito e exibe conteúdo selecionado de parceiros, como Disney+, Star+, HBO Max e Paramount+. O serviço exibirá anúncios.

— O Meli+ pode ser subsidiado, mas o streaming tem publicidade que gera mais receita. Fazemos isso com disciplina, não existe a possibilidade de gente fazer um grande investimento e depois dar prejuízo, como muitos concorrentes fazem — justificou o CEO do Mercado Livre, o argentino Marcos Galperin, ao ser questionado sobre o retorno financeiro do programa de fidelidade.

Apesar da desaceleração do e-commerce na ressaca do pós-pandemia, os executivos dizem que o Mercado Livre está aumentando vendas e crescendo participação de mercado. De acordo com Yunes, este mês de agosto foi o maior em vendas já registrado pela plataforma, com crescimento da ordem de 30% na comparação com o ano anterior.

Inteligência artificial

Galperin contou que uma das ferramentas que a companhia está estudando é a inteligência artificial generativa, sobretudo os chamados LLM (Large Language Models), como o ChatGPT. A companhia fez um hackaton interno com 1,5 mil desenvolvedores em busca de soluções baseadas na tecnologia.

— A IA generativa terá um impacto importante na plataforma e vai ajudar os vendedores, por exemplo, a responder perguntas e preparar os produtos que exibe na plataforma. Ela vai mudar muito nosso produto e nossa plataforma nos próximos cinco anos — explicou.

*O repórter viajou a convite do Mercado Livre

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