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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

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Uma eventual fusão das operações de Azul e Gol deixaria mais da metade da oferta de assentos do país sem qualquer concorrência — situação que tende a elevar ainda mais os preços das passagens.

Juntas, Gol e Azul teriam 59% da demanda no mercado doméstico, e um total de 412 rotas: em 65% delas, ou 268 rotas, a nova empresa combinada operaria sozinha. Em volume de assentos, a falta de concorrência alcançaria 46% da oferta das duas empresas juntas, mostra um levantamento obtido pela coluna. (A diferença nos percentuais tem a ver com as frequências e o tipo de aeronave em cada rota.)

A Latam opera sozinha em 19 de um total de 122 rotas (16%). Essas rotas exclusivas representam 6% do volume de assentos total da companhia. Isso significa que haveria um cenário de monopólio em 52% dos assentos ofertados no mercado doméstico.

— Essa seria uma operação que preocuparia demais do ponto de vista concorrencial — diz o economista Cleveland Prates, professor da FGV-SP e ex-conselheiro do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). — Essas empresas concorrem diretamente em várias rotas e a análise concorrencial teria que avaliar onde elas concorrem e deixarão de concorrer. Seria ainda pior se fosse Gol com Latam, onde a sobreposição de rotas é maior. Mas a Azul está em vários aeroportos em que a Gol opera e uma unificação vai restringir a competição —.

Hoje as três empresas estão presentes competindo nos 11 principais aeroportos do país — mas não necessariamente com as mesmas rotas. São eles: Guarulhos, Congonhas, Brasília, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Santos Dumont, Galeão, Belo Horizonte (Confins) e Recife. Nos três últimos, Gol e Azul ficariam responsáveis por 80% dos pousos e decolagens.

CHAPTER 11

Desde que a Gol entrou com pedido de proteção judicial nos EUA, dentro das regras do Capítulo 11 da lei americana, o CEO da Azul, John Rodgerson, vem manifestando interesse em uma associação com a rival, embora não haja confirmação de que uma oferta tenha sido feita. Quando a Latam entrou no Chapter 11, a Azul fez um movimento similar, sem avanços.

Em entrevista esta semanana ao jornalista Carlos Sambrana, do NeoFeed, na CNN Brasil, Rodgerson defendeu seu interesse pela Gol e minimizou os efeitos de uma concentração dizendo que em diversos países, como Portugal, Colômbia e Reino Unido, uma única empresa detém mais de 70% do mercado.

A comparação, contudo, não leva em conta o tamanho continental do país. O Brasil hoje é o 4o maior mercado doméstico do mundo — atrás de EUA, China e Índia, que são mercados de dimensão mais comparável e que contam com diversas companhias concorrendo entre si. — O que o mercado precisa é de empresas fortes — disse o CEO da Azul na entrevista. — Eu acho que há uma possibilidade que alguma coisa aconteça, mas eu estou super focado no que nós temos na Azul hoje —.

CONGONHAS

O principal interesse da Azul, além de eliminar um concorrente, seria absorver os slots da Gol em Congonhas, avalia o ex-conselheiro do CADE. — As duas empresas têm perfis diferentes, aeronaves diferentes. Não há ganhos de escala em despesas como de manutenção, por exemplo. O que a Azul quer são os slots em Congonhas, o que poderia levar a uma redução de oferta em Campinas. Não é só tirar um concorrente do mercado, mas uma companhia com capacidade de competir de maneira forte — diz Prates.

A defesa de um mercado mais concentrado que gere mais eficiência destoa da postura da própria Azul em anos passados, sobretudo quando a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estava avaliando mudanças nas regras de distribuição de slots de Congonhas. Na época, a Azul promoveu uma campanha publicitária defendendo o aumento da competitividade no aeroporto. “95% dos horários de voos de Congonhas, em São Paulo, pertencem a duas companhias aéreas. A gente quer deixar esse número mais Azul para que você tenha mais opções de voar!” escreveu a empresa em uma postagem no antigo Twitter em 2019. Hoje a companhia tem 14% da oferta em Congonhas, contra cerca de 42% de Gol e 43% de Latam.

A soma de Gol e Azul em Congonhas ultrapassaria portanto os 45%, limite de participação estabelecido pela Anac para qualquer companhia no aeroporto. Se não houver mudança na regra, parte dos slots teriam de ser redistribuídos. — Num pais que se rasgou a Lei Geral de Telecomunicacoes para permitir que a Oi comprasse a Brazil Telecom, no governo Lula 1, tudo pode acontecer — diz Prates.

Na avaliação do economista, se os controladores da Gol — o grupo colombiano Abra, que tem a família Constantino, fundadora da companhia, entre os sócios — estiverem interessados em vender, “seria melhor, do ponto de vista concorrencial, uma outra empresa de fora comprar".

— Um dos critérios de análise antitruste sobre a alegação de eficiência na fusão seria de que não houvesse outra interessada que pudesse gerar um efeito menos anticompetitivo do que a compra da Gol pela Azul — diz ele.

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