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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

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Alvo de pedidos de falência e despejo em série, amargando prejuízo multimilionário e “sobrevivendo” com apenas seis lojas abertas — contra mais de 160 uma década atrás —, a Leader está com novo dono. A troca ocorre no momento em que o próprio administrador judicial da varejista carioca declara em juízo que, na sua opinião, o melhor desfecho para o negócio é a falência.

A coluna apurou que empresários ligados ao pouco conhecido Mauá Bank, uma financeira, acabam de assumir o negócio em crise. Os sócios Renato Vaz Heringer e Marcio Margreife Lima já assinam como presidente e diretor da varejista, respectivamente. (Não está claro se a dupla pagou alguma coisa para assumir o negócio em apuros, mas observadores apostam que a transação deve ter envolvido valor simbólico, diante do endividamento da Leader).

É a segunda mudança de controle no intervalo de um ano em uma companhia que está em recuperação judicial desde o início da pandemia — quando declarou dívida de R$ 1,1 bilhão — e que registrou prejuízo de R$ 159 milhões no ano passado.

Pandemia

Desde 2023, a Leader era tocada pelos sócios Marcos Antônio Lage e Eduardo Mendes Tavares, que assumiram depois que o empresário André Peixoto — hoje um dos donos da rede de lojas de material de construção C&C — deixou a sociedade. Peixoto era CEO da Leader quando, em 2020, comprou a varejista por R$ 1 mil das mãos de Fábio Carvalho.

Carvalho já havia comprado a Leader por valor simbólico em 2016 — a varejista pertencia ao BTG Pactual e à família Gouvêa — e implementou primeiro uma recuperação extrajudicial para equacionar a dívida com fornecedores. Pouco antes da pandemia, porém, a companhia entendeu que reestruturar sua dívida financeira também seria inevitável e partiu para uma RJ.

— O fato de a pandemia ter começado poucas semanas depois transformou em um processo complicado uma reestruturação que deveria ser muito rápida. Aí a companhia sentiu o baque. Mesmo assim, ela conseguiu aprovar seu plano de recuperação com um percentual alto — contou uma fonte próxima à Leader.

Mas a aprovação do plano não resolveu os problemas da companhia. Primeiro porque a varejista, cujas operações se dão praticamente 100% em lojas físicas, passou a sofrer concorrência direta de e-commerces internacionais como Shein e Shopee em seus segmentos de atuação: vestuário e artigos para o lar.

Rescisões não pagas

Nesse período, as chamadas dívidas extraconcursais — que não estão cobertas pelo plano — seguiram crescendo em ritmo acelerado. Uma das razões é o volume de novas dívidas trabalhistas provocadas pela estratégia de fechar lojas. Só nos últimos meses, 14 unidades foram fechadas, segundo levantou a administradora judicial, a Inova.

Como a Leader não estava pagando as rescisões, o Sindicato dos Comerciários do Rio ajuizou ação coletiva no Ministério Público contra a empresa. Segundo o presidente do sindicato, Márcio Ayer, 127 trabalhadores estão na ação. Ontem (3), o Ministério Público do Trabalho (MPT) organizou audiência entre as partes para resolver a situação, mas não houve acordo.

— A companhia propôs pagar os débitos de forma parcelada, em algo como 60 vezes, mas não aceitamos. Nossa contraproposta é que o prazo fosse bem menor, além de haver a possibilidade de manutenção do auxílio-saúde e a previsão de uma ajuda para alimentação nesse período — explicou Ayer, acrescentando que a Leader se comprometeu a apresentar uma nova proposta até o próximo dia 14.

‘Patamar insustentável’

A própria administradora Inova queixou-se à Justiça de que a Leader não vem pagando mais seus honorários desde fevereiro, deixando em aberto uma conta de R$ 947 mil nesses meses. Para piorar, a companhia não vem apresentando os dados periódicos exigidos por recuperações judiciais, o que impede a Inova de elaborar relatórios de atividade mensal que deveriam informar os credores sobre a real situação da empresa.

Diante disso e dos inúmeros pedidos de falência registrados na Justiça contra a companhia, a Inova foi taxativa em petição apresentada no último dia 24 e à qual a coluna teve acesso: “Os elementos fáticos que demonstravam um agravamento da saúde econômico-financeira alcançaram um patamar insustentável.”

“Infelizmente, o cenário de crise econômico-financeira superou os instrumentos até então utilizados para o soerguimento do Grupo Leader, o que culminou em descumprimentos de obrigações periódicas de qualquer sociedade que se vale do instituto da Recuperação Judicial, além daquelas de simples recebimento de intimações ou citações em sua sede e filiais”, explicou a administradora judicial.

A conclusão da Inova no documento é que a RJ deve ser convertida em falência:

“Diante de todos os fatos novos ora expostos e dos documentos igualmente apresentados, a gravidade da conjuntura desembarca na necessária constatação ou decretação do estado de insolvência.”

Apesar disso, a companhia e outras partes do processo de RJ ainda precisam se manifestar antes que o juiz tome qualquer decisão.

Marca valiosa dada em garantia

A coluna não conseguiu contato com a empresa para comentar sua situação financeira e a mudança societária.

Em 2022, a Leader teve um faturamento bruto de R$ 646 milhões e um prejuízo líquido de R$ 375 milhões. No ano passado, as vendas despencaram 55%, para R$ 329 milhões, com um prejuízo de R$ 159 milhões.

Talvez o ativo mais importante da Leader — sua marca, que há décadas é sinônimo de Natal para consumidores cariocas — foi dado em garantia ao Estado do Rio, em 2022, em acordo firmado com a Procuradoria Geral (PGE) para pagamento de uma dívida ativa de R$ 810 milhões.

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