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Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

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GERADO EM: 13/07/2024 - 04:01

Compromisso 1%: Empresas doando para causas sociais

Movimento 'Compromisso 1%' estimula empresas a doarem 1% do lucro a causas sociais. Empresas como Cyrela e Raia Drogasil já aderiram. Objetivo é promover a filantropia corporativa de forma perene, impactando positivamente a sociedade.

O IDIS, organização de fomento ao investimento social privado liderado pela economista Paula Fabiani, e o grupo Mol, empreendimento social de Rodrigo Pipponzi, herdeiro das farmácias Raia, estão lançando o Compromisso 1%, um movimento que visa tornar mais perene a filantropia corporativa, distribuindo dividendos a causas sociais.

Inspirado no Pledge 1% dos EUA, o Compromisso 1% quer mobilizar as empresas a doar 1% do lucro líquido a ações sociais. A campanha será lançada oficialmente em setembro, com o anúncio das primeiras empresas signatárias do compromisso. —As empresas têm que fazer a sua parte, e de forma perene. Os desafios são gigantes e o Estado não vai resolver os problemas da desigualdade sozinho — diz Paula.

No Brasil, duas grandes empresas já incorporam a doação de 1% do lucro como boa prática corporativa. A Cyrela — cujo fundador, Elie Horn, foi o único bilionário do país a aderir ao The Giving Pledge, movimento lançado por Bill Gates e Warren Buffett de doação da maior parte da fortuna em vida — faz isso há mais de dez anos. E em 2022, a Raia Drogasil firmou o mesmo compromisso, beneficiando iniciativas ligadas à saúde da população mais vulnerável.

Por que essa campanha?

Com a pandemia ficou claro que as empresas têm condição de doar, mas falta estímulo. A ideia é que a doação de empresa sirva de inspiração para a outra. Queremos engajar não só as grandes empresas, mas as pequenas e médias também. E estimular a responsabilidade social de uma forma mais perene.

E como vai funcionar?

A inspiração é o Pledge 1%, criado há dez anos pela Salesforce e que já conta com 18 mil adesões. O Pledge 1% estimula a doação de 1% de alguma coisa: lucro, ações, tempo da força de trabalho ou produtos e serviços. Por aqui, como não temos um mercado de capitais tão desenvolvido, vamos focar no lucro líquido. São os acionistas abrindo mão de rentabilidade em prol de gerar impacto positivo na sociedade.

Haverá estímulo a uma causa específica?

A gente vai mapear as causas para criar uma inteligência, mas a destinação é livre. Queremos estimular apoio às organizações da sociedade civil. Vamos lançar um site com um formulário para as empresas se engajarem e faremos uma triagem. O compromisso será bianual. As empresas vão ganhar um selo e vamos monitorar.

Mas elas podem doar para as próprias fundações? Isso conta?

Sim, conta. E fundos patrimoniais também. Mas leis de incentivo não conta. É doação livre. As empresas já podem abater do imposto a pagar até 2% do lucro operacional, não entendo porque não o fazem. O mais importante é criar um engajamento de longo prazo. É muito comum vermos empresas fazendo uma grande doação em um ano, e no seguinte não doarem nada. Quando você tem perenidade nas ações, você cria uma maturidade e a empresa vai descobrindo maneiras de gerar mais valor.

Na pandemia vimos um grande aumento no volume de doações. Como está hoje?

A gente saiu de um patamar de R$ 3 bilhões de doação corporativa para R$ 5,8 bilhões em 2020. Hoje está em torno de R$ 4 bilhões. Há espaço para crescer mais.

E como foi o comportamento das empresas com as enchentes no Rio Grande do Sul?

Houve uma grande movimentação, principalmente da sociedade civil e com algumas empresas, mas na fase mais emergencial. Mas agora, na reconstrução, são as empresas locais que estão mais engajadas.

Esse movimento de 1% é algo mais localizado nos EUA ou se espalhou pelo mundo?

Ele é forte no Vale do Silício. Na Europa as empresas já têm uma cultura mais avançada de doação. Na Índia, a responsabilidade social corporativa está prevista em lei e as empresas são obrigadas a doar 2% do lucro líquido. A lei é de 2013 e mudou a cara do terceiro setor na Índia.

É controverso transformar em obrigação legal o que em tese deveria ser o papel do Estado.

É controverso. Mas os problemas são tão grandes que o Estado não tem condições de fazer sozinho. Por mais rico que seja o país, e ainda mais agora com as ameaças de clima. Tem de ser uma responsabilidade dos três setores juntos. O governo não dá conta e o setor privado — empresas e ONGs — tem mais agilidade de execução e consegue fazer melhor uso dos recursos. No governo há mais burocracia, custa mais caro. Não se trata de substituir o Estado, mas de somar.

Por que uma empresa deveria se engajar no Compromisso 1%?

A prática filantrópica traz uma série de benefícios para as empresas, começando pela retenção do colaborador, que se engaja, sente orgulho. Hoje há uma camada de clientes realmente preocupada com essas práticas. Você melhora o relacionamento com todas as partes interessadas, pode engajar a cadeia de valor. É por meio das doações que as empresas endereçam o S do ESG — e isso vai melhorar a performance no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), da B3. E quando as empresas usam o ativo que têm à disposição para as causas — como uma empresa de logística que transporta doações, por exemplo —, elas geram ainda mais valor para o negócio, aumentando a chance de perenizar.

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