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Informações da coluna

Mariana Barbosa

No GLOBO desde 2020, foi repórter no Brazil Journal, Folha, Estadão e Isto é Dinheiro e correspondente em Londres.

Rennan Setti

No GLOBO desde 2009, foi repórter de tecnologia e atua desde 2014 na cobertura de mercado de capitais. É formado em jornalismo pela Uerj.

RESUMO

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GERADO EM: 27/08/2024 - 12:54

Fundador da Cosan enfrenta dilema na Vale e possível venda para os irmãos Batista da JBS.

O fundador da Cosan, Rubens Ometto, enfrenta dilema na Vale após fracasso em influenciar sucessão. Conflito com Lula, queda nas ações da Cosan e pressão financeira complicam situação. Possível venda de participação para os irmãos Batista da JBS é especulada.

A escolha de Gustavo Pimenta como novo CEO da Vale sacramentou uma derrota que vinha se desenhando há meses para Rubens Ometto. Mesmo após comprar quase 5% da mineradora em transação multibilionária, o fundador da Cosan não conseguiu emplacar seu braço-direito como sucessor de Eduardo Bartolomeo — o bilionário é simpático a Pimenta, mas este não era seu primeiro nome para a Vale... Agora, Ometto vê o balanço (e as ações) de seu império sucroalcooleiro pressionado pelo legado dessas ambições frustradas e terá que decidir se fica ou sai da mineradora.

(Depois da publicação original deste texto, fontes próximas a Ometto procuraram a coluna argumentando que, para elas, a eleição de Pimenta representou uma vitória, não uma derrota, para o empresário. Segundo essas fontes, Luiz Henrique Guimarães, seu braço-direito, já tinha se retirado da disputa meses atrás, e Ometto apoiou e “fez campanha” por Pimenta, eleito unanimemente. De acordo com essas fontes, diferentemente do governo Lula, o empresário sempre defendeu um perfil corporativo — como o de Pimenta — para o comando da Vale. Além disso, segundo esses interlocutores, Ometto não estaria pensando em sair da mineradora.)

No fim de 2022, quando a Cosan anunciou que compraria 4,9% (podendo chegar a 6,5%) da Vale em uma operação de até R$ 22 bilhões, gestores de Leblon e Faria Lima demonstraram cautela. Ok, Ometto é conhecido por movimentos societários agressivos, mas um naco tão pequeno da Vale não daria ao bilionário o condão para mudar os rumos da mineradora... De fato, as ações da Cosan despencaram imediatamente após o anúncio, mas mandar na Vale era exatamente o que o bilionário pretendia.

Sabendo que o mandato de Bartolomeo estava perto do fim, Ometto logo indicou Luiz Henrique Guimarães, CEO da Cosan, como conselheiro da Vale. Um ano depois, quando a sucessão na mineradora começava a esquentar, o bilionário retirou Guimarães do comando de sua própria empresa para posicioná-lo na disputa.

Ometto estava convencido de que, além de um caminhão de dinheiro, seu canhão de influência sopraria o vento a seu favor. De acordo com fonte próxima ao comando da Vale, Ometto chegou a apresentar Guimarães ao presidente Lula — de quem é, ou pelo menos era, próximo — como seu nome para o comando da Vale, em um pedido explícito de apoio.

Atribui-se a esse movimento, aliás, a convicção de Lula de que, mesmo décadas após a privatização da Vale, caberia ao Palácio do Planalto dizer quem manda na mineradora. E, para decepção de Ometto, Lula não estaria disposto a abrir mão dessa prerrogativa em favor do amigo. Começou-se, então, uma novela interminável sobre a sucessão da Vale sob a ótica de Brasília, com direito a elenco exótico para o papel, incluindo nomes como o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o atual presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas...

Rompimento com Lula

Ao ver o ímpeto de Lula para atropelar seus sonhos na Vale, Ometto partiu para a ofensiva. Em junho, durante o Fórum Anual do Grupo Esfera no Guarujá (SP), o dono da Cosan disparou sua metralhadora retórica contra o governo.

— Do jeito que está, com o governo querendo meter a mão, querendo taxar tudo, não dá — criticou Ometto, segundo registro do enviado do site Poder360 ao fórum, acrescentando que a equipe de Lula “desrespeita” as leis aprovadas no Congresso.

Segundo um empresário presente no evento, havia um acordo para que outros “nomões” do PIB fizessem o mesmo, mas apenas Ometto foi à frente com o plano.

O movimento foi lido como um rompimento público entre o bilionário e Lula — e, de fato, as relações permanecem geladas desde então, segundo interlocutores. Mas o comportamento de Ometto serviu para ostracizar ainda mais Luiz Henrique Guimarães na corrida pelo comando da Vale. Nas últimas semanas, seu nome já era dado como carta fora do baralho...

Enquanto suas ambições no topo da mineradora se frustravam, Ometto via a pressão sobre o balanço da Cosan atingir níveis insuportáveis. Isso porque, para comprar seu pedaço da Vale — que está avaliada em R$ 263 bilhões na Bolsa hoje —, a Cosan (valor de mercado: R$ 26 bilhões) se alavancou de forma agressiva junto a bancos como Itaú e Bradesco. A estrutura financeira acabava comprometendo a distribuição de dividendos de outros negócios de Ometto para a Cosan, como a Raízen (etanol) e a Compass (gás), que ajudavam a servir a dívida da operação.

Não à toa, em abril, a Cosan se viu obrigada a vender mais de R$ 2 bilhões em papéis da Vale. O objetivo era reduzir a alavancagem da Cosan, cuja dívida terminou 2023 em quase R$ 23 bilhões. A venda reduziu de 4,92% para 4,14% a participação do conglomerado de Ometto na mineradora. Ao mesmo tempo, a companhia decidiu que não exerceria a opção de comprar mais 1,68% da Vale. De todo modo, as ações da Cosan acumulam uma perda de 27% no ano na Bolsa...

Família Batista?

Com a Cosan pressionada e a sucessão definida, o dilema que se apresenta a Ometto é o que fazer com a participação que ainda detém na Vale. Seguirá vendendo até se desfazer de tudo? O problema é que, quando anunciou a compra da fatia, as ações da Vale giravam acima de R$ 70; hoje, estão na casa de R$ 60.

— Ele vai ficar na janela olhando o baile? Mas, agora, ele perde muito se sair hoje. Venderá com prejuízo? — disse uma fonte que orbita ao redor da Vale.

Mas, nos bastidores de Leblon e Faria Lima, circula a informação de que uma saída poderia se desenhar para Ometto, caso ele de fato decida sair da Vale. De acordo com três fontes que acompanham o assunto, os irmãos Batista, da JBS, seriam potenciais interessados na fatia da Cosan na Vale.

Nada de concreto foi firmado até agora, mas o fato é que o conglomerado da família entrou em mineração em 2022, justamente com a compra de minas de ferro e manganês no Mato Grosso do Sul que pertenciam à Vale. Avaliados em US$ 1,2 bilhão, os ativos ficam hoje sob o guarda-chuva da LHG Mining, que pertence à J&F.

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