A primeira convocação de Arthur Elias como treinador da seleção feminina principal dá algumas pistas sobre o trabalho que será desenvolvido nos próximos quatro anos. O novo treinador, que irá comandar um período de treinos do dia 18 a 26 deste mês, indicou que deseja "mudar a mentalidade" da seleção e obter resultados a curto prazo. O tom da apresentação indica, pelo menos nas expectativas, a valorização do futebol praticado pelas brasileiras, dentro e fora do país, e a retomada do protagonismo no panorama mundial.
A eliminação precoce da seleção brasileira na fase de grupos da Copa do Mundo, pior resultado em 28 anos, foi um duro golpe na autoestima da equipe. No duelo contra o Panamá, na última rodada da fase de grupos da competição, a treinadora Pia Sundhage foi criticada por não apostar no favoritismo do Brasil como elemento para vencer a partida. Já para Arthur Elias, o peso da camisa volta a ser um fator determinante.
— Minha missão é mudar a mentalidade da seleção e buscar resultados já nas Olimpíadas. Não vão escutar mais que tem alguém mais bem preparado que a seleção brasileira. O país de primeiro mundo incentivando, massificando, investindo no futebol feminino é um ponto. Mas dentro de campo a seleção compete com qualquer uma. A seleção brasileira precisa voltar a ser protagonista mundial.
De resultados, Arthur Elias tem um currículo expressivo: no Corinthians desde 2016, ele ergueu 14 taças em oito temporadas, incluindo títulos da Libertadores, nacionais e estaduais. E poderá levantar mais três, até a saída definitiva da equipe, em outubro: o clube atualmente disputa as semifinais do Brasileirão e do Paulistão, e no próximo mês viaja para jogar a Libertadores.
Da lista das 30 convocadas, nove são suas atuais comandadas no alvinegro, representando a maior parte das 16 jogadoras que atuam no Brasil, enquanto as restantes estão espalhadas na Europa e nos Estados Unidos. Sem amistosos marcados para a Data Fifa de setembro, o período será dedicados aos treinamentos, mas o técnico acredita que a falta de jogos não influenciará nesta primeira etapa do trabalho.
— Não me atrapalha. Achei bom ter um período de treinos. É mudança de mentalidade. Vocês não vão me ver lamentando, não sei o planejamento de outras seleções, estou preocupado aqui. Estou satisfeito em ter o grupo na Granja Comary, em um modelo de jogo diferente — analisou.
Ainda sem dar detalhes sobre o esquema adotado, mas afirmando que os torcedores podem esperar um Brasil mais ofensivo, a convocação também marcou um retorno importante. Cristiane, que foi preterida por Pia desde 2021, e não jogou as Olimpíadas de Tóquio-2020 e a Copa, voltou a fazer parte da lista. Aos 38 anos, é um ano mais velha que Marta, também convocada, e embora as duas sejam presenças pouco prováveis no próximo Mundial, representam a experiência da seleção brasileira e o alto nível até agora. Em 2022, Cristiane foi a artilheira do Brasileirão com 12 gols, mesmo com o Santos não avançando para as eliminatórias.
— Elas ainda têm muito a contribuir para a seleção. A Cris é um retorno muito merecido pelo que a vem fazendo em termos de performance. É uma goleadora, e na minha visão, as portas da seleção estarão sempre abertas.. Pra mim, seleção é momento e vai valer muito o que elas fizerem nos treinos e nos jogos.
Outras mudanças
Mesmo com uma lista larga, seis jogadoras que viajaram para a Austrália não foram chamadas na primeira convocação de Arthur Elias: Bárbara, Mônica, Gabi Nunes e Andressa Alves já eram ausências esperadas. Mas duas faltas, entre as mais novas, a suplente Aline Gomes, de 18 anos, e a zagueira Lauren, que aos 20 foi titular de dois jogos da Copa, chamaram atenção. Especialmente porque o trabalho da seleção brasileira foi apresentado como "integrado" desde a base até a equipe principal.
As mudanças também foram realizadas fora de campo. Nos últimos dias, além da saída de Pia Sundhage, a CBF dispensou a coordenadora de seleções femininas Ana Lorena Marche e a supervisora Mayara Bordin. Jonas Urias e Bia Vaz, ambos do sub-20, também deixaram os cargos, e Rosana Augusto, agora ex-treinadora da equipe feminina do Bragantino, assumiu o comando. Na apresentação do novo técnico, Simone Jatobá, que acumula a função de treinar as seleções sub-15 e a sub-17, também esteve presente.
— Muito feliz pela CBF ter confiado essa função a mim. Vou poder trabalhar novamente com Arthur, fui atleta dele, temos filosofia parecida. Com a Jatobá joguei muitos anos. Vim para isso, para ser o elo entre as duas seleções — disse Rosana.
Rosana vai desempenhar a função de auxiliar técnica de Arthur Elias neste mês, enquanto o próximo dono do cargo, Rodrigo Iglesias, continuará no Corinthians até outubro. Outros três novos integrantes da comissão, todos deixando o clube paulista, também assumiram cargos: Marcelo Rossetti, preparador físico, Edson Júnior, preparador de goleiras, e Tiemi Saito, nutricionista. Ainda não há mais informações sobre o restante do departamento de futebol, mas a expectativa é de que novos anúncios sejam feitos em breve.
Veja a lista de convocadas para a seleção brasileira
- Goleiras: Letícia (Corinthians), Luciana (Ferroviária), Camila (Santos), Kemelli (Corinthians)
- Zagueiras: Rafaelle (Orlando Pride-EUA), Tainara (Bayern de Munique-ALE), Kathellen (Real Madrid-ESP) e Antônia (Levante-ESP)
- Laterais: Tamires (Corinthians), Yasmim (Corinthans), Kati (Corinthians), Bruninha (NJ/NY Gotham)
- Meio-campistas: Ary Borges (Racing Louisville-EUA) Luana (Corinthians), Duda Sampaio (Corinthians), Angelina (OL Reign-EUA), Ana Vitória (PSG), Brena (Santos)
- Atacantes: Kerolin (North Carolina Courage-EUA), Debinha (KC Current-EUA), Bia Zaneratto (Palmeiras), Geyse (Manchester United), Nycole (Benfica), Gabi Portilho (Corinthians), Jhennifer (Corinthians), Eudimilla (Ferroviária), Amanda (Palmeiras), Adriana (Orlando Pride-EUA), Marta (Orlando Pride-EUA) e Cristiane (Santos)