Carlota
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Carlota

Um olhar analítico e informativo de tudo que envolve as mulheres no futebol

Informações da coluna

Tatiana Furtado

Formada em jornalismo pela Uerj, trabalha no GLOBO desde 2004. Há 15 anos, atua no jornalismo esportivo, tendo participado da cobertura de três Copas do Mundo.

Por — Rio de Janeiro

A primeira convocação de Arthur Elias como treinador da seleção feminina principal dá algumas pistas sobre o trabalho que será desenvolvido nos próximos quatro anos. O novo treinador, que irá comandar um período de treinos do dia 18 a 26 deste mês, indicou que deseja "mudar a mentalidade" da seleção e obter resultados a curto prazo. O tom da apresentação indica, pelo menos nas expectativas, a valorização do futebol praticado pelas brasileiras, dentro e fora do país, e a retomada do protagonismo no panorama mundial.

A eliminação precoce da seleção brasileira na fase de grupos da Copa do Mundo, pior resultado em 28 anos, foi um duro golpe na autoestima da equipe. No duelo contra o Panamá, na última rodada da fase de grupos da competição, a treinadora Pia Sundhage foi criticada por não apostar no favoritismo do Brasil como elemento para vencer a partida. Já para Arthur Elias, o peso da camisa volta a ser um fator determinante.

— Minha missão é mudar a mentalidade da seleção e buscar resultados já nas Olimpíadas. Não vão escutar mais que tem alguém mais bem preparado que a seleção brasileira. O país de primeiro mundo incentivando, massificando, investindo no futebol feminino é um ponto. Mas dentro de campo a seleção compete com qualquer uma. A seleção brasileira precisa voltar a ser protagonista mundial.

De resultados, Arthur Elias tem um currículo expressivo: no Corinthians desde 2016, ele ergueu 14 taças em oito temporadas, incluindo títulos da Libertadores, nacionais e estaduais. E poderá levantar mais três, até a saída definitiva da equipe, em outubro: o clube atualmente disputa as semifinais do Brasileirão e do Paulistão, e no próximo mês viaja para jogar a Libertadores.

Da lista das 30 convocadas, nove são suas atuais comandadas no alvinegro, representando a maior parte das 16 jogadoras que atuam no Brasil, enquanto as restantes estão espalhadas na Europa e nos Estados Unidos. Sem amistosos marcados para a Data Fifa de setembro, o período será dedicados aos treinamentos, mas o técnico acredita que a falta de jogos não influenciará nesta primeira etapa do trabalho.

— Não me atrapalha. Achei bom ter um período de treinos. É mudança de mentalidade. Vocês não vão me ver lamentando, não sei o planejamento de outras seleções, estou preocupado aqui. Estou satisfeito em ter o grupo na Granja Comary, em um modelo de jogo diferente — analisou.

Ainda sem dar detalhes sobre o esquema adotado, mas afirmando que os torcedores podem esperar um Brasil mais ofensivo, a convocação também marcou um retorno importante. Cristiane, que foi preterida por Pia desde 2021, e não jogou as Olimpíadas de Tóquio-2020 e a Copa, voltou a fazer parte da lista. Aos 38 anos, é um ano mais velha que Marta, também convocada, e embora as duas sejam presenças pouco prováveis no próximo Mundial, representam a experiência da seleção brasileira e o alto nível até agora. Em 2022, Cristiane foi a artilheira do Brasileirão com 12 gols, mesmo com o Santos não avançando para as eliminatórias.

— Elas ainda têm muito a contribuir para a seleção. A Cris é um retorno muito merecido pelo que a vem fazendo em termos de performance. É uma goleadora, e na minha visão, as portas da seleção estarão sempre abertas.. Pra mim, seleção é momento e vai valer muito o que elas fizerem nos treinos e nos jogos.

Outras mudanças

Mesmo com uma lista larga, seis jogadoras que viajaram para a Austrália não foram chamadas na primeira convocação de Arthur Elias: Bárbara, Mônica, Gabi Nunes e Andressa Alves já eram ausências esperadas. Mas duas faltas, entre as mais novas, a suplente Aline Gomes, de 18 anos, e a zagueira Lauren, que aos 20 foi titular de dois jogos da Copa, chamaram atenção. Especialmente porque o trabalho da seleção brasileira foi apresentado como "integrado" desde a base até a equipe principal.

As mudanças também foram realizadas fora de campo. Nos últimos dias, além da saída de Pia Sundhage, a CBF dispensou a coordenadora de seleções femininas Ana Lorena Marche e a supervisora Mayara Bordin. Jonas Urias e Bia Vaz, ambos do sub-20, também deixaram os cargos, e Rosana Augusto, agora ex-treinadora da equipe feminina do Bragantino, assumiu o comando. Na apresentação do novo técnico, Simone Jatobá, que acumula a função de treinar as seleções sub-15 e a sub-17, também esteve presente.

— Muito feliz pela CBF ter confiado essa função a mim. Vou poder trabalhar novamente com Arthur, fui atleta dele, temos filosofia parecida. Com a Jatobá joguei muitos anos. Vim para isso, para ser o elo entre as duas seleções — disse Rosana.

Rosana vai desempenhar a função de auxiliar técnica de Arthur Elias neste mês, enquanto o próximo dono do cargo, Rodrigo Iglesias, continuará no Corinthians até outubro. Outros três novos integrantes da comissão, todos deixando o clube paulista, também assumiram cargos: Marcelo Rossetti, preparador físico, Edson Júnior, preparador de goleiras, e Tiemi Saito, nutricionista. Ainda não há mais informações sobre o restante do departamento de futebol, mas a expectativa é de que novos anúncios sejam feitos em breve.

Veja a lista de convocadas para a seleção brasileira

  • Goleiras: Letícia (Corinthians), Luciana (Ferroviária), Camila (Santos), Kemelli (Corinthians)
  • Zagueiras: Rafaelle (Orlando Pride-EUA), Tainara (Bayern de Munique-ALE), Kathellen (Real Madrid-ESP) e Antônia (Levante-ESP)
  • Laterais: Tamires (Corinthians), Yasmim (Corinthans), Kati (Corinthians), Bruninha (NJ/NY Gotham)
  • Meio-campistas: Ary Borges (Racing Louisville-EUA) Luana (Corinthians), Duda Sampaio (Corinthians), Angelina (OL Reign-EUA), Ana Vitória (PSG), Brena (Santos)
  • Atacantes: Kerolin (North Carolina Courage-EUA), Debinha (KC Current-EUA), Bia Zaneratto (Palmeiras), Geyse (Manchester United), Nycole (Benfica), Gabi Portilho (Corinthians), Jhennifer (Corinthians), Eudimilla (Ferroviária), Amanda (Palmeiras), Adriana (Orlando Pride-EUA), Marta (Orlando Pride-EUA) e Cristiane (Santos)

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