Daniel Becker
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Conversas sobre infância, no plural: pelo bem-estar de crianças, famílias e sociedade

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Daniel Becker

Pediatra, sanitarista, palestrante e escritor. Ativista pela infância, saúde coletiva e meio ambiente.

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GERADO EM: 28/07/2024 - 04:30

Aumento alarmante da violência contra crianças e mulheres no Brasil: Anuário de Segurança Pública de 2023 alerta para cenário preocupante.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023 revela um aumento alarmante da violência contra crianças e mulheres no Brasil. Estatísticas preocupantes incluem crescimento de crimes como abandono de incapaz, pornografia infantil e estupros, principalmente dentro de casa. A organização Think.Olga destaca a necessidade de mobilização e proteção. O governo atual atua na prevenção da violência contra mulheres, mas a sociedade também precisa se envolver, denunciando e apoiando as vítimas. O artigo ressalta a importância de ações efetivas para combater essa realidade covarde e brutal.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública do ano de 2023, divulgado em 18 de julho, mostra a triste e inaceitável situação da violência contras as infâncias no Brasil, e contra quem cuida das crianças: as mulheres.

Todas as formas de violência contra crianças e adolescentes aumentaram desde 2022: abandono de incapaz em 22%, pornografia infantil em 42% e exploração sexual em 24%. Foram quase 30 mil casos de maus tratos, sendo 60% em menores de 10 anos.

O Rio foi protagonista no crime de homicídio por arma de fogo, que aumentou 131% para crianças e 31% para adolescentes. Com um estado dominado pela milícia e tráfico, e um governo cuja política de segurança é realizar invasões em favelas, inclusive em horário escolar, a situação tende a piorar.

A violência sexual também cresceu: o país registrou um estupro a cada 6 minutos (em 2022 o intervalo era de 8 minutos). Foram 83.988 casos, e de novo, a maioria contra crianças: 61,6% das vítimas têm até 13 anos de idade, e incluem bebês e crianças até 4 anos (11%). O ato covarde e brutal é cometido majoritariamente dentro de casa (61%), por familiares ou conhecidos (84,7%).

É preciso lembrar que esses são apenas os crimes registrados. O IPEA estima que o número pode ser dez vezes maior, pelo seu caráter de fenômeno doméstico, e pelas múltiplas barreiras para que uma mulher possa chegar até o registro. E as crianças muitas vezes sequer percebem o que acontece, não conhecem os canais de denúncia ou sequer têm a quem relatar. Estaríamos falando de meio milhão de crianças estupradas. Mas cifras não são suficientes para expressar o tremendo sofrimento de nossas meninas.

O número de feminicídios subiu para 1.467, sendo mais de 63% mulheres negras, 85% por atuais ou ex-parceiros. Todas as formas de violência contra a mulher aumentaram: violência doméstica, ameaças, perseguição/stalking, violência psicológica, assédio sexual e divulgação de cena de estupro/sexo. A misoginia se espalha nas redes sociais e chega até os meninos. E todos sabemos quem são os sujeitos desses crimes: os homens (90%).

Uma sociedade que massacra suas mulheres e crianças. É covarde, espantoso e inconcebível.

A organização Think.Olga se manifestou nas redes sociais: “a cada ano, o Brasil se torna mais violento para mulheres e meninas, que convivem com a morte, o sofrimento e o medo. Ainda assim, não nos comovemos o suficiente. Os dados são motivo para indignação e mobilização... para um Estado que trate este problema como prioridade máxima. Mas nada ou pouco acontece”... “não podemos jamais normalizar a brutalidade. Proteger mulheres e meninas é dever do Estado, das forças de segurança, da Justiça, da família. E de cada cidadão, já que as vítimas desses crimes podem estar na sua casa, no círculo de amigos, entre os colegas de trabalho, na vizinhança”.

Ao contrário do anterior, no governo atual o Ministério da Justiça vem atuando na prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres. E foi recriado o ministério das Mulheres, cuja Secretaria Nacional de Enfrentamento à Violência (SENEV) coordena a formulação de políticas, da prevenção até à assistência. Um de seus programas é a Central de Atendimento à Mulher - Ligue 180, que orienta sobre os direitos e sobre os serviços da Rede de Atendimento à Mulher em situação de violência, além de analisar e encaminhar os casos para os órgãos competentes. O Disque 100 do Ministério de Direitos Humanos segue recebendo denúncias sobre violência contra crianças.

Cabe a nós também como cidadãos vigiar com atenção as suspeitas de violência contra mulheres e crianças. Os canais de denúncia existem para serem acionados.

Esperamos mais de nossas autoridades. Um massacre como o que vivemos é inaceitável, e precisamos de mais recursos e mais ação. E isso deve incluir também estados e municípios. Na hora de votar este ano, pense nas mulheres e nas crianças.

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