Daniel Becker
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Conversas sobre infância, no plural: pelo bem-estar de crianças, famílias e sociedade

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Daniel Becker

Pediatra, sanitarista, palestrante e escritor. Ativista pela infância, saúde coletiva e meio ambiente.

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GERADO EM: 04/08/2024 - 04:30

"Importância do Esporte na Infância: Desafios e Recomendações"

As Olimpíadas inspiram a infância e destacam a importância do esporte. A prática esportiva desde cedo é essencial para a saúde, mas no Brasil há desafios como sedentarismo e falta de políticas públicas. Estimular as crianças a se exercitarem, seja brincando ou praticando atividades físicas, é fundamental. A próxima coluna trará mais recomendações nesse sentido.

Me pergunto se existe algum ser vivo no país que não esteja assistindo pelo menos um pouquinho das Olimpíadas e se emocionando com elas. Difícil passar incólume pelo choro de Beatriz Souza, pela graciosidade e grandeza de Rebeca Andrade, pelos abraços das meninas do vôlei, pela decepção e tristeza dos que perderam, e tantos outros momentos comoventes.

Não são apenas as vitórias e histórias pessoais inspiradoras de superação, resiliência, luta, esforço sobre-humano. A identidade nacional entra na equação com força, e até mesmo o sentido de união dos povos, apesar de um tanto ilusório, também toca nossa alma.

E claro que é ótimo assistir aos jogos com as crianças (sem exagero de telas, de preferência). Elas aprendem um bocado: sobre superação e esforço, sobre erros e derrotas como parte da vida e do processo de conquistas, sobre espírito de equipe e colaboração.

No entanto, talvez o mais importante seja a compreensão da importância da prática esportiva, a exposição a tantas modalidades. Nenhuma criança precisa ser um atleta de alto nível, mas toda criança precisa praticar atividade física, e desenvolver a paixão pelo esporte é um ótimo caminho.

Essa é a lição mais importante das Olimpíadas. E a infância é o momento para se começar a estimular esse hábito essencial para a vida — de preferência associado ao prazer. Ao lado da boa alimentação, a atividade física é sem dúvida o fator mais importante para a saúde e a longevidade. Só que nosso estilo de vida atual e as condições sociais no Brasil nos empurram para o lado oposto: o sedentarismo e o confinamento.

Trabalho excessivo, cidades engarrafadas, poluídas e inseguras, com poucos ou precários espaços de recreação, lazer e esportes, são obstáculos para as famílias levarem suas crianças a atividades. E enquanto no mundo mais desenvolvido a escola é o lugar do esporte, no Brasil a educação física é oferecida em geral duas vezes por semana. Ou pior: muitas escolas colocam os dois tempos em horários consecutivos, por que assim “dá menos trabalho”. Em vez de valorizarmos o esporte onde a criança é educada, o “jogamos para escanteio”.

A OMS recomenda um mínimo de 60 minutos diários de atividades físicas vigorosas para crianças e adolescentes. De acordo com pesquisas internacionais, menos de 80% dos adolescentes alcançam esse tempo. E no Brasil, dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar de 2015 mostravam que 2/3 dos alunos do 9º ano do fundamental não chegavam aos 300 minutos por semana. Me arrisco a dizer que nos últimos dez anos, com a chegada das telas e o excesso de tempo na imersão digital, esses números devem ter piorado imensamente.

Precisamos de políticas públicas de incentivo ao esporte – não apenas de alto rendimento, mas à prática da atividade física na cidade, no dia a dia da população, especialmente as mais periféricas e com menos acesso a recursos.

Individualmente, sempre recomendo às famílias que estimulem as crianças a se movimentar e se exercitar. Para os pequenos, até cinco anos, isso se dá pela brincadeira, especialmente na natureza. O parque ou a praia convidam a criança ao movimento: o território é o bastante. Correr, subir barrancos, se equilibrar em troncos, pular cordas, jogar bola, andar de bicicleta, tudo isso faz muito bem à saúde física e mental.

Quando possível, recomendo o início precoce da natação, pela sua importância na segurança da criança e seus inúmeros benefícios. E por motivos culturais, sugiro que os meninos aprendam futebol desde cedo, pois ele é a base da sua socialização, especialmente a partir do ensino fundamental (nada contra futebol para meninas, mas ainda não é tão importante para elas do ponto de vista social).

Na próxima coluna, vou prosseguir com ideias e recomendações para as crianças maiores e adolescentes. Esse é um tema que merece toda nossa atenção. Depois de assistir aos melhores momentos das Olimpíadas, claro.

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