Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

O governo de Joe Biden não suporta Benjamin Netanyahu e ignora Mahmoud Abbas. Considera o líder israelense uma ameaça à democracia de Israel, ainda mais agora na liderança de uma coalizão com membros ultrarradicais. De volta ao poder semanas atrás, o premier também é visto como um aliado de Donald Trump em Washington, além de ter sido desrespeitoso com Barack Obama quando o democrata governava os EUA. Já o presidente palestino, desgastado, incompetente e impopular, tornou-se irrelevante para a Casa Branca já faz muitos anos, independentemente da administração.

Com foco total na aliança ocidental contra a Rússia na Guerra na Ucrânia, que substituiu Israel como maior receptor de ajuda militar americana, e realista em relação ao conflito entre israelenses e palestinos, Biden sequer ambiciona negociar um acordo de paz — uma posição diferente de seus antecessores ao longo de mais de três décadas.

Qualquer um com um mínimo de conhecimento da região sabe ser impossível o governo mais extremista da História de Israel fazer concessões que viabilizem um Estado palestino. Na verdade, o risco é o inverso, com membros de extrema direita da coalizão defendendo a anexação formal de partes da Cisjordânia e a mudança no status da Esplanada das Mesquitas, ou Monte do Templo para os judeus — lembre que Netanyahu é o menos direitista em sua coalizão.

No lado palestino, Abbas tem menos força do que um síndico de prédio que não consegue consertar o elevador há anos e apenas segue no cargo por falta de opção. Foi eleito há 18 anos para um mandato de quatro e consegue se perpetuar no poder, em parte com apoio de Israel e dos EUA, que temem o Hamas como uma alternativa. Aliás, o grupo terrorista segue no comando da Faixa de Gaza, embora agora com acordos pontuais com os israelenses mediados pelo Egito.

A viagem do secretário de Estado, Antony Blinken, não tinha, portanto, como ambicionar grandes mudanças para resolver o conflito. Avesso a embates, evitou criticar os israelenses ao lado de Netanyahu, assim como não criticou os palestinos ao lado de Abbas. Um discurso para cada público. O único ponto mais importante foi alertar para o risco de uma escalada da violência, que pode vir a ocorrer independentemente da postura dos EUA.

A instabilidade em certas áreas da Cisjordânia, como Jenin, é enorme, com crescentes confrontos entre colonos radicais israelenses e militantes extremistas palestinos. Novos atos terroristas como os da semana passada em Jerusalém podem ocorrer, assim como Israel deve seguir com ações militares que resultam na morte de civis palestinos.

No caso de Israel, os EUA trabalham em três frentes. Primeiro, quer impedir a deterioração da democracia israelense e a transformação de Netanyahu em um "Orbán de Jerusalém", usando como referência o governante da Hungria. Esse medo é compartilhado pela oposição israelense das mais distintas vertentes ideológicas e por parte da comunidade judaica dos EUA. Em segundo lugar, busca uma coordenação para tentar conter o Irã, cada vez mais próximo do patamar de enriquecimento de urânio necessário para produzir uma bomba atômica. Por último, as negociações para o estabelecimento de relações diplomáticas entre Israel e a ditadura sanguinária de Mohammad bin Salman na Arábia Saudita, que seria o maior acordo geopolítico no Oriente Médio desde a assinatura da paz entre Israel e Egito mais de quatro décadas atrás.

E no caso palestino? Os EUA seguirão fingindo que ainda existe a possibilidade de uma solução de dois Estados enquanto aguardam um futuro ainda mais caótico sem Abbas.

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