Guga Chacra
PUBLICIDADE
Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

O presidente Lula corrigiu o erro ao cancelar jantar em Paris com o ditador saudita, Mohammad bin Salman, que estava previsto na sua agenda distribuída a jornalistas pela assessoria do Palácio do Planalto. Seria lamentável o líder brasileiro se reunir com uma pessoa acusada por diferentes serviços de inteligência de ter ordenado o esquartejamento do jornalista dissidente Jamal Khashoggi, de ter cometido atrocidades na Guerra do Iêmen, de impor um Apartheid contra as mulheres e homossexuais, de perseguir xiitas e proibir Igrejas e sinagogas. Para completar, o regime saudita deu joias de presente a Jair Bolsonaro em um escândalo envolvendo o agora ex-presidente.

Sem dúvida, Lula não seria o único líder internacional a se reunir com o ditador. Joe Biden e Donald Trump o visitaram em Riad. Emmanuel Macron acabou de recebê-lo em Paris. A Arábia Saudita, uma gigante do petróleo, desfruta de enorme poder econômico e geopolítico. O regime de Bin Salman também tem adotado uma política para tentar melhorar a sua imagem, associada ao assassinato de Khashoggi, através do esporte. Tem Messi como garoto propaganda do “Visit Saudi”. Contratou Cristiano Ronaldo e Benzema para jogarem em times sauditas. Comprou o Newcastle da Inglaterra. Organiza corridas de F1 e na prática passou a ser dono do maior torneio de golfe do planeta.

É impossível, claro, não ter relações com ditaduras. Todas as democracias do mundo mantêm relações com regimes ditatoriais. Basta lembrar que a China é o maior parceiro comercial da maioria dos países do planeta, incluindo o Brasil e os EUA. Mas ter diplomacia e comércio não significa ter de participar de um jantar com o líder saudita. As relações podem ser feitas através da chancelaria ou da área econômica do governo. Não há necessidade de um governante que diz defender a democracia e a liberdade de se encontrar em Paris com o líder de uma ditadura.

Mais recente Próxima Mediterrâneo, cova de imigrantes

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY