Guga Chacra
PUBLICIDADE
Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

Israel precisa decidir se anexará a Cisjordânia, concedendo cidadania a 3 milhões palestinos, ou se aceita, mediante negociações, que seja criado um Estado palestino nesse território. O status quo é errado. Afinal, além do domínio militar, os israelenses colonizam há mais de cinco décadas essa área, na qual residem mais de 400 mil colonos. Diferentemente dos palestinos, eles têm cidadania e todos os direitos em Israel.

Por que a diferença no tratamento dado aos palestinos, que são árabes do Levante de religião islâmica e cristã, e os judeus na Cisjordânia? Caso Israel avalie ser inviável conceder cidadania aos 3 milhões de palestinos porque sem dúvida ameaçaria a maioria judaica, deveria desocupar o território para ali ser criado o Estado da Palestina. Caso queira manter o controle sobre a área, tem a obrigação de conceder cidadania a todos os seus habitantes. O status quo é indefensável.

Para entender o contexto, a Cisjordânia foi conquistada por Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967. Antes estava sob controle da Jordânia. Não adianta querer voltar ao passado. Apenas podemos analisar o que ocorreu a partir daquele momento, 56 anos atrás. Os sucessivos governos israelenses não levaram adiante apenas uma ocupação militar com o intuito de se defender. Implementaram também uma ampla política de colonização por meio da construção de assentamentos.

Com os Acordos de Oslo, cerca de um quarto de século mais tarde, foi iniciado o processo de negociação de paz. Ficou acertado que, por um período de transição, a Cisjordânia seria dividida da seguinte forma. A chamada “Área A”, correspondente a 18% do território, ficaria sob controle de segurança e administrativo da Autoridade Nacional Palestina. Seriam especialmente os centros urbanos. Mesmo assim, Israel realiza operações militares quando bem entende nessa área. Outros 22%, chamados de “Área B”, estão sob administração palestina, mas a segurança é de Israel. Por último, os 60% restantes estão totalmente sob controle israelense. O problema é que as negociações não avançaram e um lado culpa o outro pelo fracasso — ambos têm culpa, mas existe um Estado israelense e não existe um palestino.

População carrega o corpo de um dos atiradores que matou quatro israelenses na Cisjordânia — Foto: JAAFAR ASHTIYEH/AFP
População carrega o corpo de um dos atiradores que matou quatro israelenses na Cisjordânia — Foto: JAAFAR ASHTIYEH/AFP

Nos anos 2000, Israel ergueu uma barreira que não segue as linhas fronteiriças de 1967, ao incorporar áreas palestinas. Os palestinos habitantes da Cisjordânia precisam enfrentar uma série de postos de controle israelenses para ir de uma cidade para outra. São impedidos também de utilizarem estradas destinadas somente a israelenses para irem e voltarem dos assentamentos. Alguns argumentam que uma retirada pode transformar a Cisjordânia em Gaza, que foi dominada pelos terroristas do Hamas após a retirada israelense. Para ficar claro, Gaza segue ainda sob bloqueio terrestre de Israel e Egito, e os israelenses mantêm controle do espaço aéreo e marítimo. Dito isto, fica a dúvida — como os assentamentos garantem a segurança israelense? Trata-se de colonização civil, além da ocupação militar. É justo 3 milhões de pessoas seguirem sem Estado e cidadania?

A violência de terroristas palestinos deve ser condenada. Mas nada justifica Israel manter assentamentos na Cisjordânia ou, como alternativa caso queira mantê-los, não conceder cidadania aos palestinos ali residentes. Infelizmente, o status quo seguirá e a ocupação se ampliará. Caso acabasse com os assentamentos, Israel seria uma das nações mais admiradas do planeta.

Mais recente Próxima Duas décadas depois, a história se repete em Jenin

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY