Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por Guga Chacra — Nova York

Talvez o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, venha a ser atacado por republicanos pela troca de prisioneiros com o Irã que teve a primeira parte implementada nesta quinta-feira. Seus opositores provavelmente irão distorcer dizendo que a Casa Branca pagará US$ 6 bilhões para o regime dos aiatolás. Mas essa não é a realidade. Na verdade, Biden deve conseguir a libertação de cinco americanos presos no Irã por motivações políticas em troca de entregar a Teerã o montante de dinheiro que já pertence ao país. Estes bilhões serão transferidos para o banco central do Qatar, que servirá de intermediário, e apenas autorizará o uso destes dólares para o pagamento de itens usados para questões humanitárias.

Basicamente, os EUA apenas descongelarão dinheiro que já é do Irã e restringirá seu uso. O regime de Teerã não poderá enviar este dinheiro para o Hezbollah no Líbano, investir no desenvolvimento de armamentos nucleares ou no apartheid contra as mulheres.

Em um primeiro momento, os cinco americanos serão transferidos da célebre prisão de Evin, conhecida por ser um lugar que não respeita os direitos humanos, para um hotel. Eles ficarão lá até os trâmites burocráticos para a transferência do dinheiro iraniano para o Qatar, em um processo que pode durar semanas. Iranianos presos nos EUA por violarem as sanções impostas por Washington também serão soltos.

Alguns podem argumentar que essa troca pode incentivar adversários dos EUA a prenderem cidadãos americanos para usarem como moeda de troca. A própria Rússia prendeu meses atrás o correspondente do Wall Street Journal em Moscou em uma clara ação de viés político. Este argumento é válido. Mas qual a alternativa? Permitir que aqueles americanos permaneçam anos ou mesmo até o fim da vida em prisões como Evin? Além disso, muito provavelmente estes regimes prenderiam americanos de qualquer maneira e troca de prisioneiros é algo que ocorre há milênios.

A negociação da troca de prisioneiros, mediada por nações como Omã e Qatar, não estaria relacionada com a possibilidade de um novo acordo nuclear entre os EUA e o Irã. Durante o governo de Barack Obama (2009-2017), o regime de Teerã assinou um acordo com os americanos e outras potências como a Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha. Os iranianos se comprometeram e cumpriram sua parte ao desmantelar centrífugas e a restringir o enriquecimento de urânio a patamares baixíssimos, além de não poderem armazenar o material enriquecido. Em troca, receberam o levantamento das sanções internacionais.

Donald Trump decidiu retirar os EUA do acordo nuclear com o argumento de que negociaria um pacto melhor ainda e também impôs fortes sanções unilaterais, apesar dos apelos de líderes europeus para aprimorar o já existente. Com o colapso do acordo, o Irã passou a enriquecer urânio a patamares altíssimos, ficando mais próximo da capacidade de produzir uma bomba atômica, ainda que não tenha tomado essa decisão. O governo Biden tentou retornar ao acordo, mas o contexto mudou completamente no âmbito internacional, nos EUA e no Irã, e até agora não houve grandes avanços.

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