Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

A queda do presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Kevin McCarthy, diante da rebelião de uma minoria de extremistas radicais republicanos de viés trumpista provoca o caos e a incerteza não apenas para o futuro do Partido Republicano, que demonstra enorme divisão interna, como também para o da política americana. Ao mesmo tempo, expõe a covardia do establishment republicano diante do radicalismo de trumpistas nos últimos anos.

Existe risco de paralisação legislativa diante da provável dificuldade para que um novo nome seja escolhido para comandar uma das casas do Congresso americano. A oposição republicana tem maioria, mas, diante do radicalismo de alguns de seus membros, será difícil unir todo o partido ao redor de uma liderança para substituir McCarthy ou para o retorno dele. Os democratas, minoritários, tampouco terão condições de eleger alguém.

O Partido Republicano não pode ser mais considerado algo monolítico há algum tempo. O trumpismo conseguiu transformar a agremiação, hoje bem mais radical do que uma década atrás. Ao longo das últimas eleições, foram eleitas figuras extremistas, que são indiferentes à disciplina partidária e institucional. Seria como se fizessem parte de outro partido, de extrema direita. Pense em uma aliança entre um partido da direita tradicional europeia com outro da extrema direita, mas com ambos em teoria com o nome de Partido Republicano. Não se trata de diferentes alas do partido, como ocorre entre os democratas, onde há alguns mais progressistas e outros mais centristas, mas com capacidade para agir em conjunto na maioria dos casos.

Esse movimento de radicalização do Partido Republicano começou com a emergência do Tea Party, em 2010, no início do governo de Barack Obama. Ainda assim, esse grupo adotava uma agenda fiscalista em sintonia com o restante dos republicanos, ainda que mais radical. Seguia como uma ala do partido e não uma coisa monstruosa como os radicais trumpistas atuais. Apesar de resistentes em alguns momentos, eram relativamente disciplinados. O cenário mudou com a emergência de Donald Trump. O Tea Party deu lugar a um grupo com uma agenda nacionalista de extrema direita de ideologia trumpista, pregando o caos e preocupado mais com seus vídeos nas redes sociais do que com o futuro do país. O establishment, em vez de bater de frente com o radicalismo, acovardou-se, temendo acima de tudo Donald Trump.

No começo do ano, já havia sido instalado o caos por esses extremistas. McCarthy conseguiu ser eleito apenas depois de 15 votações, quando fez uma série de concessões à ala radical — que insistia em votar contra o nome dele — tornando-se refém dos extremistas. Por meses, o líder republicano obteve sucesso para se manter no poder cedendo aos radicais. No fim de semana passado, no entanto, viu a eclosão da rebelião após negociar com os democratas a manutenção do governo aberto por mais 45 dias, evitando o chamado shutdown.

Em qualquer circunstância, o acordo negociado por McCarthy seria elogiado como uma grande conquista legislativa. Teve o apoio da maioria dos republicanos e mesmo de democratas, obtendo concessões dos adversários. Mas essa iniciativa revoltou os extremistas, e Matt Gaetz, um deputado trumpista da Flórida, levou adiante a moção para removê-lo do cargo.

Os democratas poderiam até ter salvado McCarthy, mas ainda guardam rancor por ações como abrir o inquérito de impeachment. Ficaram contra e querem ver o Partido Republicano desmoronar. Devem, porém, tomar cuidado para o impacto no futuro da democracia dos EUA.

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