Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

A ajuda militar à Ucrânia, no formato atual, tem os meses contados, a não ser que as forças ucranianas consigam avanços improváveis no outono e inverno no Hemisfério Norte depois do fracasso na contraofensiva da primavera e verão. Até agora, os ucranianos reconquistaram apenas uma pequena parte do território perdido, enquanto a Rússia conseguiu manter sua coesão, apesar da rebelião do Grupo Wagner. Fora do campo de batalha, o cenário está gradualmente se tornando menos hostil a Moscou e mais reticente em relação a Kiev.

Há ao menos quatro fatores contribuindo para o enfraquecimento da posição ucraniana na comunidade internacional e todos tendem a se acentuar, ainda que a maior parte dos governos ocidentais siga firme no apoio a Volodymyr Zelensky. Primeiro, existe uma fadiga internacional com o conflito que provoca impacto negativo na economia global, com inflação nos preços dos alimentos e dos combustíveis. Preferem uma resolução mais rápida a um prolongamento da guerra e de seus efeitos econômicos negativos. Muitos que integram este grupo são governos do agora chamado Sul Global. Levam em consideração, ainda, o que veem como uma preocupação excessiva do Ocidente em proteger os ucranianos se comparado ao observado em conflitos na África e no Oriente Médio.

Um segundo motivo é o de um aumento, em países ocidentais, no questionamento aos gastos bilionários de seus governos com a ajuda militar à Ucrânia. Em alguns casos, querem mais transparência de Kiev diante de suspeitas de corrupção. Em outros, avaliam que essas dezenas de bilhões de dólares poderiam ser gastos em problemas domésticos. É o que ocorre nos Estados Unidos, com uma ala do Partido Republicano reivindicando mais dinheiro para proteger as fronteiras em vez de seguir enviando para os ucranianos. Outros, da esquerda do Partido Democrata, dizem que a administração de Joe Biden encontra sempre fundos para armar as forças ucranianas, mas não para investir na educação pública dos EUA.

Um terceiro fator é a propaganda da narrativa da Rússia em setores mais radicais da direita e da esquerda ocidentais e junto a uma série de governos em diferentes países do mundo. Esta propaganda inclui tanto intensificar pontos de vista legítimos, como os dois citados acima (fadiga com a guerra e gastos militares), como também de outros controversos, como os argumentos russos para invadir uma nação soberana. Há também uma estratégia de destruição da imagem de Volodymyr Zelensky. Basta observar no Brasil, onde os ataques ao líder ucraniano são comuns por certos setores da esquerda com uma agenda anti-americana. Nos EUA, ironicamente, são setores da direita trumpista que possuem uma visão negativa do presidente da Ucrânia.

Ao longo dos próximos meses, a fadiga com a guerra apenas aumentará. As eleições nos EUA devem ampliar os debates sobre os gastos com a Ucrânia. Por último, a imagem de Zelensky deve seguir se desgastando. Basta ver que, mesmo em Nova York e Washington, sua presença já não foi tão bem recebida como meses atrás. No fim, como já escrevi aqui outras vezes, haverá um cessar-fogo com a Rússia controlando áreas do território ucraniano. O mundo seguirá em frente, como segue com a ocupação de dois quintos do Chipre e das colinas do Golã. Assim como na semana passada, quando o mundo se calou diante de uma limpeza étnica de armênios cometida pelo Azerbaijão.

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