Além da credencial do Ministério da Informação libanês, precisamos de autorização do Hezbollah para realizar reportagens em áreas controladas pela organização no Líbano — como milícias no Rio de Janeiro. Peguei a minha no centro de imprensa do grupo em um prédio em Dahieh, como é chamada a região de maioria xiita no Sul de Beirute. No dia seguinte, visitei a antiga prisão de Khiam, usada por Israel e aliados cristãos libaneses para prender membros do Hezbollah durante a ocupação israelense do Sul do Líbano, que durou de 1982 até o ano 2000. Dois membros da organização, fluentes em português por terem morado no Brasil, me receberam. Um deles estava com a camisa do Corinthians e fez brincadeiras comigo quando afirmei ser torcedor do Palmeiras. Disse que "palmeirense é pior do que israelense".
O fato de eles integrarem o Hezbollah e terem morado no Brasil não significa que os xiitas brasileiros ou libaneses façam parte do grupo. Alguns podem até ter parentes ou amigos, mas é difícil generalizar. Além disso, há milhões de libaneses e descendentes no Brasil das mais variadas religiões. Eu mesmo possuo cidadania libanesa por ser neto de libaneses de origem cristã greco-ortodoxa.
Há uma vila sunita chamada Sultan Yaqoub no Vale do Beqaa onde a língua oficial é o português — o Luciano Huck já fez reportagem ao visitar o vilarejo, de onde muitos libaneses imigraram para São Bernardo do Campo. Lembro que o Hezbollah no Líbano enfrenta enorme oposição de cristãos, sunitas e drusos. Mesmo muitos xiitas se opõem a uma nova guerra contra Israel, ainda que a maioria dos libaneses, de todas as religiões, sejam solidários aos palestinos e críticos de Israel.
Imagens mostram grupo de estrangeiros deixando Gaza pela 1ª vez
![Uma mulher ajuda uma criança a beber água de uma garrafa enquanto espera ao lado das ambulâncias do Ministério da Saúde palestino — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/2Ax3GcFfo3cZ1nd1E5Gksk1BjWA=/0x0:1500x1000/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/m/U/bwsWE3RgAK5d9nxi88cA/whatsapp-image-2023-11-01-at-7.08.18-am.jpeg)
![Uma mulher ajuda uma criança a beber água de uma garrafa enquanto espera ao lado das ambulâncias do Ministério da Saúde palestino — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/_EYR49R20HDPHXba3XzbYX_TQRA=/1500x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/m/U/bwsWE3RgAK5d9nxi88cA/whatsapp-image-2023-11-01-at-7.08.18-am.jpeg)
Uma mulher ajuda uma criança a beber água de uma garrafa enquanto espera ao lado das ambulâncias do Ministério da Saúde palestino — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Um jornalista filma com uma câmera de vídeo enquanto um homem conduz uma carroça puxada por um burro carregando bagagens fora da passagem de fronteira de Rafah com o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: MOHAMMED ABED / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/pnSenQjB4Ak50lI0ZwO_AyoriFI=/0x0:1500x1000/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/a/g/JGo8sQQmuLz9PvAPQbww/whatsapp-image-2023-11-01-at-7.07.45-am.jpeg)
![Um jornalista filma com uma câmera de vídeo enquanto um homem conduz uma carroça puxada por um burro carregando bagagens fora da passagem de fronteira de Rafah com o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: MOHAMMED ABED / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/ZhR6horBeVus0wYJscylo4dT-vE=/1500x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/a/g/JGo8sQQmuLz9PvAPQbww/whatsapp-image-2023-11-01-at-7.07.45-am.jpeg)
Um jornalista filma com uma câmera de vídeo enquanto um homem conduz uma carroça puxada por um burro carregando bagagens fora da passagem de fronteira de Rafah com o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: MOHAMMED ABED / AFP
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![Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/a7DzuvpWO4opq32a4fNSWs6Ut6Y=/0x0:6000x4000/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/l/T/9A8ruAQdGQdqRZTHfCBg/33zk2h2-highres.jpg)
![Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/0c3gfL8hzkRBvLtcxFQ-05jiQ5k=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/l/T/9A8ruAQdGQdqRZTHfCBg/33zk2h2-highres.jpg)
Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Um homem ferido está dentro de uma ambulância esperando a passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de receber cuidados médicos no Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/pHQvIKIw_4CcwEYjvMyVowFHiyY=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/M/3/mcnNXxTHeep3b4Mwseww/33zn9yc-highres.jpg)
Um homem ferido está dentro de uma ambulância esperando a passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de receber cuidados médicos no Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP
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![Pessoas entram na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzarem para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/mhh5m67JyTvydbCMo6RbcYZYdrA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/J/e/c8yYDCTwigOtBpDuMN0w/33zk2hy-highres.jpg)
Pessoas entram na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzarem para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/9647wd1P5Gc3oQKHNlkxnEg2C5M=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/q/x/K4WLodROOsBODulSLctQ/33zk2gv-highres.jpg)
Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaza — Foto: Mohammed ABED/AFP
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![Dezenas de portadores de passaportes estrangeiros presos em Gaza começaram a deixar o território palestino devastado pela guerra — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/Y23x5pTy3fHZWFGB246rS3ulzSg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/l/h/ryJiL1S0mZgs7qcxKLbg/33zk2j4-highres.jpg)
Dezenas de portadores de passaportes estrangeiros presos em Gaza começaram a deixar o território palestino devastado pela guerra — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Um homem empurra uma criança numa cadeira de rodas enquanto as pessoas entram na passagem da fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzarem para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/wted0SaDTBhwZNCAIOCJAnV5TCA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/D/8/RVfadFQHWPXC9TSjWUrA/33zk2hw-highres.jpg)
Um homem empurra uma criança numa cadeira de rodas enquanto as pessoas entram na passagem da fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzarem para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP
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![Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaz — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/WEa7W3uQdgfZKspiJgxpI3zUSP0=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/t/S/dTUC9HRyWqocnjxvVlkA/33zk2jb-highres.jpg)
Pessoas atravessam um portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah para o Egito, no sul da Faixa de Gaz — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Um homem ferido está dentro de uma ambulância esperando na passagem de fronteira de Rafah — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/hYkP9y-gcbQOYy4wHLkLzegdUZ0=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/N/A/yner5LSXqpic1DZvr9iw/33zn9yu-highres.jpg)
Um homem ferido está dentro de uma ambulância esperando na passagem de fronteira de Rafah — Foto: Mohammed ABED/AFP
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![Uma jovem deita-se com papéis e um telefone dentro de uma ambulância esperando na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de receber cuidados médicos no Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/_zSrsInTstTYmeB8PCZY2rU6134=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/n/z/1BbxTzReA7gpYWccfwxQ/33zp2t4-highres.jpg)
Uma jovem deita-se com papéis e um telefone dentro de uma ambulância esperando na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de receber cuidados médicos no Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP
![Jornalistas filmam enquanto uma ambulância do Ministério da Saúde palestino atravessa o portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzar para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/RjBFKRYGHrPbFIWRcwXizEtaWCg=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/J/3/zzbrQ6RDiM0G8cCmerSw/33zp2t6-highres.jpg)
Jornalistas filmam enquanto uma ambulância do Ministério da Saúde palestino atravessa o portão para entrar na passagem de fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, antes de cruzar para o Egito — Foto: Mohammed ABED/AFP
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Mais importante: faz parte do modus operandi do Hezbollah um atentado como o que supostamente estaria sendo planejado no Brasil? Primeiro, é importante frisar que o Hezbollah nunca assumiu um atentado terrorista. Diferentemente do Hamas, não há históricos de uso de homens-bomba fora do contexto de guerra civil no Líbano, e ainda assim nos anos 1980.
O grupo é acusado de, antes mesmo de adotar o atual nome, ter cometido o atentado contra os fuzileiros navais dos EUA em Beirute e a explosão da embaixada americana na capital libanesa — ambos há cerca de quatro décadas. Também é acusado de um ataque contra israelenses na Bulgária e contra Rafik Hariri, que havia sido premier e se opunha ao Hezbollah, em um atentado em 2005 em Beirute. O que teria mais similaridade com um possível atentado no Brasil são os ataques de que o Hezbollah é acusado de ter cometido na Argentina contra a embaixada israelense em 1992 e contra a Amia (entidade judaica) em 1994.
- Após um mês de guerra: Gaza tem cheiro de morte, corpos em valas comuns e cirurgias sem anestesia
Faria sentido para o grupo um atentado no Brasil agora? O Irã, que o apoia, certamente não teria interesse em prejudicar as relações com o governo Lula e o Hezbollah não bateria de frente com Teerã. Não existe a menor possibilidade de o grupo xiita que atua no Líbano realizar um ataque terrorista dessa magnitude no Brasil sem o aval do regime iraniano. Não temos, no entanto, como cravar nada sem saber dos detalhes da investigação da PF, que teve como base informações da Mossad, o serviço secreto de Israel, que é inimigo do Hezbollah e do Irã.
O risco de ações antissemitas certamente é gigantesco em todo o mundo neste momento, seja ligado ao Hezbollah ou não. Se for mesmo ligado ao grupo xiita do Líbano, tenham certeza de que o Irã estaria envolvido. Neste caso, o Brasil precisaria rever suas relações com o regime de Teerã, afinal os iranianos estariam dispostos a atacar o território brasileiro e entidades judaicas brasileiras. Não existe meio termo no caso. Agora, resta à PF apurar as informações para verificar este episódio.
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