Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna
Por — Nova York

Dez semanas depois do atentado terrorista cometido pelo Hamas em Israel e da devastadora resposta israelense na Faixa de Gaza, os ânimos entre defensores de cada um dos lados se radicalizaram não apenas em Ramallah e Tel Aviv, mas também ao redor do planeta. Sequer precisaria explicar isso, já que o próprio leitor deve ter sua própria opinião sobre a guerra e com certeza concorda ou discorda de mim e de pessoas com as quais convive. Não há no mundo nenhuma questão geopolítica que polarize tanto a sociedade quanto a israelo-palestina.

Estabeleci, logo no início da cobertura, três regras para cobrir o conflito. Em primeiro lugar, o Hamas é terrorista (desde o início dos anos 1990, quando começou a cometer e assumir atentados suicidas dentro das fronteiras de Israel reconhecidas internacionalmente). Em segundo, os palestinos têm direito a um Estado nacional coexistindo em paz e segurança ao lado de Israel — a ocupação com assentamentos da Cisjordânia por Israel é ilegal, segundo a legislação internacional. Por último, Israel tem direito de se defender do atentado terrorista, mas deve respeitar a Convenção de Genebra na sua resposta militar.

Com base nestes parâmetros, já critiquei todos os lados envolvidos e, naturalmente, desagradei alguns mais árduos defensores de um dos lados. Quer dizer, não exatamente defensores. Porque aprendi a diferenciar pessoas pró-Palestina de pessoas anti-Israel, assim como diferencio pessoas pró-Israel de pessoas anti-Palestina. Afinal, defender o direito de os palestinos terem um Estado não significa pregar o fim do Estado de Israel, assim como defender o direito de Israel existir não significa rejeitar a existência da Palestina.

Temos, portanto, quatro grupos distintos: o primeiro é anti-Israel; o segundo, pró-Palestina; o terceiro, pró-Israel; e o quarto, anti-Palestina. Muitas vezes, de forma equivocada, os grupos anti-Israel e o pró-Palestina são descritos como se fossem uma coisa só, assim como os grupos pró-Israel e o anti-Palestina também passam a ser vistos como um bloco único. Esta visão tem prevalecido neste momento e acaba apenas por distanciar pessoas dos grupos pró-Palestina e pró-Israel que teriam muitas opiniões comuns.

Uma pessoa defensora de um Estado palestino na maior parte da Cisjordânia e na Faixa de Gaza não é tão diferente de uma que defende um Estado de Israel dentro das fronteiras definidas antes de 1967. Talvez haja discordância sobre o status final de Jerusalém e a questão dos refugiados. Mas estes temas são justamente os que precisam de diálogo para se negociar uma solução justa na qual Israel e Palestina vivam em paz e segurança.

Um anti-Israel prega a destruição do Estado israelense. Isso é inaceitável e deve ser descrito como antissemita. Já um anti-Palestina defende que os palestinos não tenham direito a um Estado, e tampouco cidadania, caso Israel mantenha a ocupação. Isso também é inaceitável e deve ser descrito como racismo.

Minha recomendação, portanto, é que pessoas pró-Palestina e pró-Israel dialoguem e descubram que estão do mesmo lado, de dois Estados vivendo em paz e segurança. Já os anti-Israel e anti-Palestina são intolerantes e apenas agravam o conflito. Infelizmente os anti-paz têm ganhado a guerra contra os pró-Paz, em Israel, na Palestina e no resto do mundo.

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