Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

Pequenas pedras com uma imagem do menino Jesus simbolizam as ruínas da Faixa de Gaza no presépio da Igreja da Natividade em Belém. As lideranças das diferentes denominações cristãs que cuidam do local onde, segundo a tradição, nasceu Jesus, buscam desta forma se solidarizar com os palestinos mortos nas ações militares israelenses naquele território. A tradicional celebração de Natal também foi cancelada, e a Praça da Manjedoura não está enfeitada.

Isso não significa, para ficar claro, que haja qualquer forma de simpatia pelo atentado terrorista do Hamas de 7 de outubro, quando militantes do grupo mataram 1.200 pessoas em Israel e sequestraram cerca de 240. Apenas demonstra uma solidariedade com os 20 mil mortos na resposta israelense na Faixa de Gaza, sendo grande parte crianças. Cristãos também morreram. Dias atrás, um franco-atirador israelense matou uma idosa e sua filha dentro da paróquia católica da Sagrada Família em Gaza. O Papa Francisco condenou a ação de Israel, que nega ter sido responsável. Há apenas cerca de mil cristãos em Gaza, sendo a maior parte deles greco-ortodoxos, que se reúnem na Igreja de São Porfírio (também atingida por Israel), além de uma pequena minoria católica romana e alguns batistas.

Majoritariamente greco-ortodoxos, com minorias católica romana, armênia apostólica, maronita, melquita, siríaca, copta e protestante, os cristãos da Terra Santa, na quase sua totalidade, identificam-se como palestinos, independentemente de viverem em Israel, Cisjordânia e Gaza. Cabe aqui diferenciar o contexto no qual vive cada um deles. Os palestinos cristãos que ficaram no que hoje é Israel são cidadãos e muitas vezes sentem uma dupla identidade palestina e israelense. A imensa maioria deles se recusa a servir no Exército, mas busca se integrar à sociedade israelense, sem deixar de lado a Causa Palestina. Na Cisjordânia, os cristãos se concentram mais em Belém e Ramallah. Houve uma redução na população cristã nas últimas décadas e, de acordo com o Centro de Estudos e Pesquisas de Ramallah, isso se deveu a questões econômicas e à ocupação israelense.

No passado, os cristãos palestinos estiveram na vanguarda da Causa Palestina. Um dos primeiros grandes líderes palestinos foi o cristão George Habash, que comandou a Frente Popular pela Libertação da Palestina. Edward Said, mais proeminente intelectual palestino e autor de “Orientalismo”, também era cristão, assim como o historiador George Antonius e políticos como Hanan Ashrawi, figura histórica na Organização pela Libertação da Palestina, e Vera Baboun, ex-prefeita de Belém (prefeitos de Belém sempre são cristãos). Até o atentado terrorista de Munique, em 1972, contra atletas israelenses foi comandado por um cristão.

No começo do século XX, os cristãos representavam cerca de 10% da população. Atualmente, não passam de 1% em Israel, 2,5% na Cisjordânia e uma fração em Gaza. Assim como sírios e libaneses, grande parte emigrou na época para a América. Enquanto os do Líbano foram para o Brasil e os da Síria mais para a Argentina, os da Palestina, em especial de Belém, emigraram para o Chile — o time de futebol Palestino de Santiago foi fundado por cristãos palestinos. Basicamente, os cristãos palestinos são como os libaneses, mas de vilas que ficaram do lado britânico da fronteira desenhada artificialmente pelas potências coloniais francesa e britânica depois do colapso do Império Otomano. Não podemos resumir a causa palestina ao islamismo.

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