Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

Benjamin Netanyahu não esconde mais ser contrário a uma Palestina independente. Disse tanto em voz alta em como também nas redes sociais que não irá "comprometer o total controle da segurança de Israel em toda a área ao oeste do Rio Jordão — e isso é contrário a um Estado palestino". São as palavras do próprio premier. Não há outra forma de interpretar. O líder israelense defendeu literalmente a ideia de uma Israel "do rio até o mar", já que isso significa um só país da fronteira da Jordânia até o Mediterrâneo — uma ironia, já que "Palestina do rio até o mar" era o grito de manifestantes anti-Israel em universidades dos EUA.

Este anúncio formal de Netanyahu elimina, ao menos enquanto sua coalizão de extrema direita estiver no poder, a possiblidade de uma solução de dois Estados, que na prática realmente se tornou um sonho.

Até agora, o primeiro-ministro ao menos fingia ser a favor de que negociações levassem ao estabelecimento de um Estado palestino, ainda que em parâmetros quase inaceitáveis para a criação de uma nação viável. Dizia que o problema para atingir este resultado era o de palestinos não aceitarem Israel existir, apesar de Autoridade Nacional Palestina (ANP) e a Organização para a Libertação Palestina (OLP) aceitarem a existência de Israel desde o início dos anos 1990. Agora, é o próprio líder de Israel que não aceita o direito de a Palestina existir — e muito provavelmente tampouco aceitaria conceder cidadania aos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza.

O momento do discurso de Netanyahu indica uma intenção de agradar a base de ultradireita da sua coalizão, embora essa muito provavelmente seja sua posição genuína. Cada vez mais, o premier depende de radicais. Afinal, a maioria da população israelense se opõe ao seu governo desde bem antes do ataque terrorista do Hamas devido ao seu histórico de corrupção, suas ações para enfraquecer a Suprema Corte e sua aliança com algumas das figuras mais radicais da sociedade israelense. Para complicar, toda a sua estratégia para controlar o Hamas se mostrou um fiasco diante do atentado terrorista de 7 de outubro.

Para se ter uma ideia da impopularidade de Netanyahu em Israel, caso eleições fossem realizadas hoje, o Likud (partido de Netanyahu, de direita) teria apenas 16 das 120 cadeiras do Knesset (Parlamento de Israel), segundo pesquisa divulgada pelo Canal 13. Sua coalizão de extrema direita, atualmente com 64 (maioria), se tornaria uma minoria com somente 46 parlamentares. Portanto, o premier, que teme ser preso uma vez fora poder, sabe que precisa manter o atual governo, custe o que custar. Para isso, busca agradar radicais como Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich.

Mesmo sabendo que pode desagradar ao governo de Joe Biden, o primeiro-ministro israelense calcula que o apoio a Israel segue muito forte no Congresso dos EUA e o presidente dificilmente faria uma ruptura total e seguiria com algumas críticas inócuas, evitando o confronto. Há ainda a possibilidade de Netanyahu sobreviver mesmo com uma relação ruim com Biden até novembro, quando Donald Trump pode voltar à Casa Branca e suas posições anti-Palestina talvez contem com um apoio maior em Washington.

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