Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

Cresce um movimento entre a comunidade árabe-americana para não votar em Joe Biden nas eleições presidenciais em novembro. Na avaliação de muitos eleitores com origem palestina, síria, iraquiana, libanesa e egípcia, entre outras, o presidente ultrapassou todos os limites em seu apoio a Israel no conflito na Faixa de Gaza e o culpam por ser cúmplice na morte de 30 mil palestinos, sendo a imensa maioria civil e incluindo milhares de crianças — o Departamento de Estados dos EUA e a ONU trabalham com números similares aos de autoridades de saúde em Gaza, ligadas ao Hamas.

Apenas 17% dos árabes-americanos votariam em Biden se a eleição fosse hoje, com o apoio despencando em relação aos 59% que votaram no democrata em 2020, segundo pesquisa do Instituto Árabe-Americano. Nesta terça, em Michigan, dará para se ter uma ideia maior do impacto que Biden pode sofrer nas eleições gerais por seu apoio a Israel. Os eleitores de origem árabe se mobilizam para votar em “não-comprometido” nas primárias em vez de votar em Biden em Michigan, onde as pessoas de origem árabe compõem importante parcela do eleitorado de Michigan, um dos maiores swing states, como são conhecidos os Estados sem predomínio democrata ou republicano.

A imigração inicial de pessoas do mundo árabe para Michigan foi no início do século 20 e era composta acima de tudo por cristãos do Líbano e da Síria, de forma similar ao que ocorreu no Brasil no mesmo período. Ao longo das décadas, palestinos, iraquianos, egípcios e mais sírios e libaneses de diferentes religiões seguiram imigrando.

O sentimento é de que não existe nada pior do que a morte de milhares de crianças palestinas nas ações de Israel, muitas vezes usando armamentos dos EUA. Os argumentos de que com Donald Trump seria pior não se sustentam entre muitos árabes-americanos porque nada supera apoiar ações que resultam na morte de crianças. Biden também seguiu por muito tempo relutante em defender um cessar-fogo e é acusado de não demonstrar empatia pelos palestinos civis mortos em muitos de seus discursos.

Para completar, Biden defende que seja enviada uma ajuda adicional de US$ 14 bilhões para Israel, além dos US$ 4 bilhões anuais para os israelenses. O governo dos EUA também defendeu Israel na Corte Internacional de Justiça em Haia no processo de genocídio levado adiante pela África do Sul. Os norte-americanos inclusive chegaram a defender a ocupação israelense da Cisjordânia.

Na visão de árabes-israelenses, Biden poderia fazer mais para pressionar Israel a suspender suas ações em Gaza, que provocaram a destruição de quase 70% das edificações do território, incluindo hospitais e escolas, além de forças oito em cada dez palestinos a deixarem o território. Os EUA vetaram uma série de resoluções pedindo cessar-fogo na ONU. O governo Biden, diante das críticas, passou a adotar um tom um pouco mais crítico em relação a Israel, mas ainda é visto como insuficiente pelos árabe-americanos.

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