Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Informações da coluna

Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

No ano passado, pouco antes do atentado terrorista cometido pelo Hamas e da subsequente ação militar de Israel na Faixa de Gaza, mais de 100 mil armênios foram vítimas de uma limpeza étnica cometida pelo Azerbaijão. A República armênia de Artsakh, em Nagorno-Karabakh, foi destruída pelas tropas azeris. Chegou a haver um cerco para bloquear a entrada de alimentos e remédios para os armênios. O argentino Luís Moreno Ocampo, ex-procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI) e responsável pela condenação dos ditadores da Argentina, afirmou que um genocídio estava em andamento.

A comunidade internacional simplesmente ignorou a limpeza étnica cometida pelo Azerbaijão. Na Assembleia Geral da ONU, apenas os representantes do Líbano, Argentina e França (todos com grande diáspora armênia), além da Armênia, demonstraram solidariedade com os armênios. O resto do mundo se calou. Pior, escolheram a ditadura do Azerbaijão para sediar a COP desse ano.

No caso de Israel e Hamas, tem sido diferente. O ataque terrorista foi condenado em quase todo o planeta. A intensidade da resposta israelense, também. Há, claro, defensores em ambos os casos. Apologistas do terrorismo no caso do Hamas. E aqueles que tentam minimizar a dimensão das ações de Israel na Faixa de Gaza, justificando a morte de milhares de crianças.

A decisão da procuradoria do Tribunal Penal Internacional, que ainda precisa ser acatada pelos juízes da corte, de pedir a prisão de Benjamin Netanyahu, seu ministro da Defesa e de três líderes do Hamas foi criticada pelos EUA e países europeus — no caso dos israelenses, não dos terroristas. Segundo eles, não se pode equiparar o primeiro-ministro de Israel, eleito democraticamente, com terroristas do Hamas. A procuradoria do TPI argumenta que está equiparando as vítimas, não os algozes.

Vidas palestinas e israelenses e a de qualquer vítima civil de guerra e atentados terroristas, de fato, valem o mesmo. Não existe querer justificar a morte de crianças e civis. É errado e ponto final. O que pode-se discutir é o pedido de prisão feito pela procuradoria do TPI e se Israel age para reduzir a morte de civis no seu direito de defesa depois do atentado. Trata-se de uma questão jurídica com diferentes visões de juristas respeitados no direito internacional. Cabe aguardarmos a decisão dos juízes sobre o pedido de prisão das lideranças israelenses e do Hamas feito pela procuradoria do TPI.

O que temos lamentar mesmo é que tantos algozes de crimes contra a Humanidade, como o ditador do Azerbaijão, Ilham Aliyev, responsável pela limpeza étnica dos armênios em Artsakh, sigam livres e ainda premiados pela comunidade internacional. Neste caso, não houve equiparação das vítimas.

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