Meses atrás, levei meus filhos para conhecerem a Filadélfia, berço da independência dos EUA. Ao visitarmos o Constitutional Center, vimos uma montagem com a foto de todos os presidentes americanos. Aos 8 anos, minha filha Julia, nascida em Nova York, reclamou o que praticamente todas as meninas da idade dela e mulheres como um todo reclamam: “É errado não ter havido nenhuma mulher presidente”. Não, nunca uma mulher ocupou a Presidência nos EUA. Desde que George foi eleito em 1789, 45 homens exerceram o cargo. Com a exceção de Barack Obama, todos brancos.
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Brasil, Argentina e Chile foram governados por mulheres. O México acabou de eleger sua primeira presidente. Reino Unido, Alemanha e Itália tiveram mulheres como chefes de governo. Até mesmo em Turquia, Paquistão e Bangladesh pessoas do sexo feminino ocuparam o poder. Verdade que há nações democráticas como Japão e Espanha que sempre foram governadas por homens (França e Canadá tiveram primeiras-ministras por períodos curtos). Ainda assim, chega a ser quase inacreditável que nenhuma tenha sido eleita para a Casa Branca. Mais grave, apenas Hillary Clinton disputou a Presidência por um dos dois grandes partidos — Geraldine Ferraro e Sarah Palin integraram chapas como candidatas a vice.
Kamala Harris já fez história ao ser primeira mulher eleita para a vice-presidência dos EUA. Agora, pode ser a primeira a finalmente vencer a eleição e ocupar a Casa Branca. Além de mulher, é negra, filha de imigrantes jamaicano e indiana, e casada com um judeu. Sua vitória seria um divisor de águas gigantesco para história americana. No futuro, tenham certeza, acharão absurdo que ao longo de 235 anos todos os presidentes foram homens — isso, claro, se ela derrotar Donald Trump, que ainda segue com enorme potencial para vencer, mesmo sendo um criminoso condenado tanto na Justiça penal quanto na civil.
Embora ainda prevaleça, especialmente no exterior, o estereótipo do americano ser um homem branco de propaganda de cigarro dos anos 1980, como bem descreveu meu colega de Globonews Arthur Dapieve, a sociedade dos EUA é bem mais diversa. Mulheres são majoritárias na população (168 milhões de pessoas do sexo feminino contra 165 milhões do feminino). Os brancos são maioria (71%), e foram representados por 44 dos 45 presidente — somente um representava os outros 39%. Apesar de todo o discurso xenófobo de Donald Trump, 26% das crianças e adolescentes americanos com menos de 18 anos possui pelos menos um dos pais nascidos em outro país. A mãe de Kamala, uma renomada biologista, nasceu na Índia. Seu pai, professor emérito de Stanford, na Jamaica. Para completar, o marido da Kamala é judeu, uma minoria religiosa nos EUA.
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Claro que além da questão histórica de poder ser a primeira mulher e a segunda pessoa negra a ser eleita para a Presidência dos EUA, Kamala precisa também apresentar uma agenda que convença a população de que ela é será uma opção melhor do que Trump para governar o país. Nos seus primeiros discursos, a provável candidata já indicou algumas áreas que pretende focar em sua Presidência.
Por último, existe o contraste entre Kamala e Trump. Ela, antes de ser senadora e vice-presidente, foi procuradora-geral da Califórnia e combateu criminosos similares justamente ao seu rival, o primeiro condenado com chances de vencer as eleições.
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