Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 23/08/2024 - 18:02

Kamala Harris mantém apoio incondicional a Israel na Convenção Democrata

Kamala Harris rejeita pressão para se distanciar de Israel e mantém apoio militar incondicional. Discurso na Convenção Democrata destaca defesa de Israel, sem culpar país por catástrofe em Gaza. Postura histórica de apoio a Israel é mantida, gerando críticas e apoio. Posicionamento gera controvérsias, especialmente sobre a resposta israelense em Gaza. Palestinenses não têm voz na convenção. A candidata foca em patriotismo, populismo e segurança, sem abordar críticas a Israel.

Kamala Harris adotou mesmo o discurso do establishment democrata sem concessões para a esquerda do partido em relação ao conflito entre Israel e Palestina. Não falo exatamente da Guerra de Gaza. Nesse ponto, ambos os lados concordam na necessidade de um cessar-fogo e a libertação de reféns. A diferença se dá no apoio militar a Israel. A candidata, em seu discurso na noite de quinta na convenção, não deixou nenhuma dúvida em seu compromisso incondicional com a manutenção do suporte militar americano para os israelenses caso seja eleita presidente.

— Deixe-me ser clara. Eu sempre defenderei o direito de Israel de se defender, e sempre garantirei que Israel tenha a capacidade de se defender, porque o povo de Israel nunca mais deve enfrentar o horror que uma organização terrorista chamada Hamas causou em 7 de outubro, incluindo violência sexual indizível e o massacre de jovens em um festival de música — disse Kamala para os democratas em meio a aplausos.

Essa posição é histórica entre os democratas e também entre republicanos. Há décadas, os EUA consideram estratégico o apoio a Israel no Oriente Médio tanto pela segurança israelense, no caso de ameaças do Hezbollah e do Hamas, como para própria para segurança nacional americana, no caso da ameaça iraniana. Todos os anos, Washington fornece uma ajuda bilionária em armamentos a Israel que aumentou ainda mais desde o atentado do Hamas no ano passado.

Os defensores dessa política afirmam que, sem o suporte dos EUA, a existência de Israel estaria ameaçada. Já os críticos dizem que os armamentos fornecidos por Washington com dinheiro do contribuinte americano têm sido usados pelas forças israelenses em ações militares que resultaram em mortes de milhares de civis palestinos. Lembram ainda que o premier Benjamin Netanyahu é acusado de crimes de guerra pela promotoria do Tribunal Penal Internacional.

Kamala mencionou também o drama dos palestinos. Segundo a vice-presidente disse em seu discurso, “o que aconteceu em Gaza nos últimos 10 meses é devastador. Tantas vidas inocentes perdidas. Pessoas desesperadas e famintas fugindo em busca de segurança, repetidamente. A escala do sofrimento é de partir o coração. O presidente Biden e eu estamos trabalhando para acabar com esta guerra, de modo que Israel esteja seguro, os reféns sejam libertados, o sofrimento em Gaza acabe e o povo palestino possa realizar seu direito à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação.”

O tom foi forte, mas a candidata democrata em nenhum momento responsabiliza Israel pela catástrofe em Gaza. De uma certa forma, parece até que os palestinos do território foram vítimas de uma tragédia natural como um terremoto e não de uma guerra. Sem dúvida, o conflito não teria eclodido caso o Hamas não tivesse cometido o atentado. O que se questiona, no caso, é a dimensão da resposta israelense que já resultou na morte de milhares ou mesmo dezenas de milhares de civis, incluindo crianças. Cerca de 90% da população foi removida de suas casas e dezenas de hospitais e escolas destruídos.

Para completar, Kamala não deu espaço para palestinos-americanos falarem sobre o drama de Gaza na Convenção Democrata. A candidata democrata não esclareceu o motivo do veto. Ninguém discordou da sua correta decisão de chamar familiares de reféns, incluindo a ala pró-Palestina do partido. Aliás, uma coisa não seria em contraposição à outra, mas em adição. Inclusive, os familiares de reféns demonstraram bastante empatia com a situação dos palestinos.

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