Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 05/09/2024 - 07:04

"Análise da Teoria dos Jogos: Cessar-fogo em Gaza depende de troca de prisioneiros"

A aplicação da Teoria dos Jogos ao conflito em Gaza revela que um cessar-fogo com troca de prisioneiros beneficiaria israelenses e palestinos. Netanyahu enfrenta pressões internas por acordo, mas questões de segurança e política dificultam a resolução. A libertação dos reféns depende do cumprimento da Resolução da ONU. Netanyahu é acusado de não priorizar os reféns, enquanto Hamas explora divisões em Israel. O fim das mortes e a libertação estão condicionados a um acordo entre as partes.

Se aplicarmos Teoria dos Jogos ao conflito na Faixa de Gaza, um acordo de cessar-fogo com a libertação dos reféns em uma troca de prisioneiros seria o resultado de equilíbrio que mais beneficiaria as sociedades israelense e palestina, além de toda a comunidade internacional. Pela lógica, a guerra já deveria ter acabado meses atrás, com mais de 100 israelenses capturados pelos terroristas no atentado de 7 de outubro de volta para as suas famílias e milhares de vidas palestinas salvas. Esse seria o equilíbrio, ainda que ambos os lados não atingissem todos os seus objetivos.

Ao invés disso, palestinos seguem sendo mortos nas ações militares de Israel, seis jovens reféns israelenses foram assassinados pelo Hamas e dezenas de outros estão há 11 meses nas mãos dos terroristas. Isso para não entrarmos nos confrontos entre Israel e o grupo libanês pró-Irã Hezbollah, na fronteira norte de Israel, que possivelmente chegaria ao fim no caso de um cessar-fogo em Gaza — não está claro se a situação se acalmaria na Cisjordânia, onde os embates vêm se intensificando.

Mas por que os dois lados não chegaram a um acordo até agora? Sabemos os termos, delineados na Resolução 2735 das Nações Unidas. Seriam três etapas. Na primeira, não há divergências. Haveria um cessar-fogo, com Israel se retirando dos principais centros populacionais, libertação de reféns civis em troca de prisioneiros palestinos e retorno da população palestina para as suas casas.

Na segunda etapa, segundo o texto elaborado pelos EUA e aprovado pelo Conselho de Segurança, reféns militares seriam trocados por outros prisioneiros palestinos, e Israel precisaria se retirar de toda a Faixa de Gaza. O premier Benjamin Netanyahu, no entanto, rejeita a saída das forças israelenses de todo o território. Argumenta que, por questões de segurança, Israel precisa manter as tropas no Corredor Filadélfia, na fronteira entre Gaza e Egito, e em Netzarim, que divide o território ao meio. Diante desse cenário, o premier defende que essa segunda etapa deveria ser adaptada para acomodar a presença israelense nessas áreas.

O primeiro-ministro tem ainda uma outra equação além da envolvendo o cessar-fogo em Gaza, que seria a relacionada à sua permanência no poder. Membros ultrarradicais de sua coalizão são contrários a um acordo de cessar-fogo e querem ir muito além de uma presença militar em Gaza. Defendem a construção de assentamentos e a expulsão de ao menos parte da população palestina do território, no que seria configurado como limpeza étnica.

Essas posturas de Netanyahu e de seus aliados levam a acusações dentro de Israel de que o primeiro-ministro não prioriza a libertação de reféns. Afinal, na visão dos parentes dos sequestrados e da oposição israelense, vale pagar o custo de uma retirada total para que os reféns voltem para as suas famílias, ainda que a segurança possa ser afetada. O Hamas sabe da divisão dentro de Israel e tenta explorá-la. Basta ver que, na semana passada, matou seis jovens israelenses e ameaça matar mais se não houver um acordo.

No fim, todos sabemos que Israel não tem condições de resgatar todos os reféns pela via militar. A imensa maioria deles apenas voltará para as suas famílias — e palestinos deixarão de morrer — quando houver um cessar-fogo nos parâmetros da resolução da ONU. Esse é o equilíbrio e a lógica. Mas a decisão está nas mãos de Netanyahu e seus aliados, de um lado, e de Yahya Sinwar, líder do Hamas, do outro.

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