Janaína Figueiredo
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Janaína Figueiredo

Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e desde 2019 é repórter especial.

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Janaína Figueiredo

Colaborou com a GloboNews, CBN e La Nación. Foi correspondente do GLOBO em Buenos Aires e hoje é repórter especial. Escreveu o livro “Qué pasa, Argentina?”

Por — Buenos Aires

A liberação dos americanos Airan Berry e Luke Denman, nesta terça-feira, era uma das notícias que o governo do presidente americano, Joe Biden, mais esperava por parte de Caracas. Este ano, o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Jorge Rodríguez, e o assessor para a América Latina da Casa Branca, Juan González, se reuniram pelo menos sete vezes, confirmaram fontes venezuelanas, em diversos lugares do mundo, entre eles o Catar. A agenda bilateral incluiu essencialmente três elementos: controle da migração de venezuelanos para os Estados Unidos, flexibilização de sanções americanas contra a Venezuela e liberação de presos americanos.

Nas últimas semanas, acrescentaram as fontes, as pressões do governo americano — sempre via contatos de González com funcionários do governo Maduro — se intensificaram de forma expressiva. Em meio à escalada de tensões entre Venezuela e Guiana, os EUA pediram ao Palácio de Miraflores que cumprisse pontos centrais dos acordos bilaterais, nunca divulgados publicamente. Nos últimos meses, o governo americano suavizou algumas sanções que aliviariam a situação da estatal Petróleos da Venezuela (PDVSA) — que fechou acordos com companhias como a Chevron e conseguiu, assim, retornar ao mercado americano —, e pediu, em troca, gestos a Maduro. A ameaça era clara: se os gestos não acontecessem, as sanções seriam repostas.

O governo brasileiro acompanha de longe as conversas entre EUA e Caracas, e sempre soube, confirmou uma fonte do Palácio do Planalto, que a liberação de presos era um dos pontos mais sensíveis para a Casa Branca. O Brasil não foi informado sobre a decisão confirmada nesta terça, mas, como os EUA, tinha em seu radar que a liberação de presos podia acontecer ainda este ano.

Maduro está isolado na região, e ficou ainda mais isolado após as ameaças de invasão à Guiana. Os governos latino-americanos ficaram em estado de alerta e praticamente todos apoiaram o governo de Georgetown. O acordo selado semana passada na ilha de São Vicente e Granadinas, com presença do Assessor Especial da Presidência da República, Celso Amorim, acalmou as tensões, mas o presidente venezuelano continua acuado em matéria externa.

Internamente, longe de cumprir os acordos de Barbados, selados em novembro — também com a presença do Brasil como observador —, o governo Maduro não dá qualquer sinal sobre o início de um processo eleitoral que leve a eleições democráticas e transparentes em 2024. Pelo contrário. Nas últimas semanas foram presos colaboradores da líder opositora Maria Corina Machado que, segundo fontes venezuelanas, hoje não tem a menor possibilidade de ser habilitada para disputar uma eleição presidencial. Dentro da Venezuela, o chavismo continua usando uma das técnicas nas quais é mais eficiente: dividir a oposição e, assim, enfraquecê-la.

Na frente externa, o presidente venezuelano busca ganhar tempo, e reduzir as pressões. Em San Vicente e Granadinas se mostrou disposto a suspender ameaças de invasão, atendendo a um pedido generalizado na região, e defendido com veemência pelo Brasil de Lula.

Agora, com os EUA, o presidente venezuelano atendeu a uma das demandas que mais interessava ao governo de Biden. Se dentro da Venezuela a repressão continua firme e forme, fora do país Maduro busca fazer uma correção de rumos.

Os entendimentos selados nos encontros entre Rodríguez e González interessam mais à Casa Branca do que um eventual processo eleitoral na Venezuela. O governo americano é próximo de Maria Corina, algo que todos sabem em Caracas, mas tem plena consciência que as chances da líder opositora disputar uma eleição são muito baixas.

Nesse cenário, Washington quer continuar deportando venezuelanos para seu país de origem — como faz cada vez com maior frequência —, retomar as operações de empresas estrangeiras no setor petroleiro americano e garantir a liberdade de seus cidadãos. Maduro, por sua parte, precisa preservar o alívio conseguido em matéria de sanções, e decidiu entregar aos americanos o que pedem, para obter um respiro financeiro.

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