Lauro Jardim
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Em seus depoimentos à PF em janeiro deste ano, Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro, e Flávia Carneiro, ex-superintendente de Controladoria, os dois ex-executivos da Americanas que fizeram delação premiada, narraram os dias tensos que antecederam o anúncio, no dia 11 de janeiro de 2023, via fato relevante, de que nos balanços da empresa havia "inconsistências contábeis " — expressão que, com o tempo, ficou para trás, sendo substituída por "fraudes", termo mais adequado.

Numa reunião, ocorrida em 4 de janeiro, Sergio Rial, que assumira o comando da Americanas dois dias antes, soube de parte da encrenca em que se metera. Ouviu do (futuro delator) Marcelo Nunes sobre as maquiagens cometidas pela gestão de Miguel Gutiererez em relação às operações de risco sacado com os bancos. Nunes nem chegou, registre-se, a mencionar as fraudes com os números fraudados do VPC.

Deste encontro, na sede da empresa, participaram os diretores Timotheo Barros, Anna Saicali, Marcio Cruz, Fabio Abrate e André Covre (o único diretor que fora levado por Rial), além do delator, a quem coube expor as traquinagens feitas nos balanços.

Assim que ouviu a exposição de Nunes, Covre imediatamente perguntou "onde estava o risco sacado". A resposta foi: "na conta do fornecedor". Espantado, segundo a descrição do futuro delator, Covre reagiu: "isso é uma fraude".

E fez mais perguntas, que ninguém respondia. "Foi um constrangimento generalizado", de acordo com o depoimento de Nunes à PF.

Dois dias depois, uma nova reunião na sede da Americanas reuniu o mesmo grupo e mais Beto Sicupira e Eduardo Saggioro, respectivamente um dos controladores da empresa e presidente do conselho.

Nela, números falsos de uma reunião de apresentação da empresa para Rial, ocorrida em 27 de dezembro, foram mostrados. Houve, portanto, uma insistência em manter parte das maquiagens.

Na véspera da divulgação do fato relevante, Marcelo Nunes, a pedido de Covre, reuniu-se com os auditores da Price para lhes expor os problemas no balanço. Neste encontro, do qual participou também Flávia Carneiro, as explicações dadas "foram, bastante superficiais" e "o problema real" não foi apresentado. 

No dia seguinte, finalmente, no início da noite, o fato relevante tornou-se público. Mais cedo, ocorreu uma outra reunião convocada por Rial com Covre, Timotheo, Anna Saicali, Márcio Cruz e os dois delatores. Rial os avisou que divulgaria um fato relevante. E pediu números para embasá-lo.

Nunes e Flávia se encarregaram da tarefa. Segundo o relato dele, os dois "saíram pegando os dados de planilhas gerenciais", "pegaram tudo o que  tinham naquele momento" e "esta planilha embasou o fato relevante". No material entregue, claro, havia maquiagens a rodo. Relata Nunes que não foram passadas a Rial "as informações com total transparência, portanto, ele não tinha ciência do VPC falso e demais artifícios".

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