Lauro Jardim
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As revelações contidas nas investigações da PF e do MPF no escândalo da Americanas não param de estarrecer. O acesso aos depoimentos de Marcelo Nunes, ex-diretor financeiro, e Flávia Carneiro, ex-superintendente de Controladoria, os dois ex-executivos da varejista que fizeram delação premiada, deixa ver a desfaçatez com que as fraudes eram montadas.  São dois depoimentos dados em janeiro à PF.

Flávia relata, por exemplo, que o ex-CEO Miguel Gutierrez "fazia questão de ter acesso a todas as versões do resultado", ou seja, queria receber tanto o resultado real da varejista quanto o modificado.  Por e-mail, Flavia encaminhava as versões  "com alterações dos resultados" com cópia não só para o então CEO como também para Anna Saicali, um dos seus braços-direitos.

Ela afirma também possuir "mensagens do Miguel Gutierrez pedindo para alterar o resultado". Diz ainda que em outros momentos era Anna Saicali "quem não tinha gostado do resultado e que era necessário alterá-lo"

Mais explícito que isso é difícil imaginar. 

Flávia Carneiro explicou em seu depoimento que o conselho de administração aprovava um orçamento enviado pela diretoria e, depois, cabia à ela fazer "adaptações até chegar ao número que o Miguel Gutierrez queria". Essas "adaptações" eram uma rotina feita mensalmente. E que os "valores alterados auxiliavam nas fraudes e não tinham base nenhuma" na realidade. 

Valia tudo para se chegar aos números desejados pela diretoria. Estorno de despesas já contabilizadas, ausência de provisionamento de despesas. Ela disse que desconhecia se algum integrante do conselho sabia dessas modificações fraudulentas. 

A ex-superintendente de Controladoria narrou também que o então diretor de TI, João Guerra, fez mudanças no sistemas da Americanas  para alterar transações que eram  falsas e poderiam ser identificadas pela auditoria.

Havia um cuidado extra: alguns arquivos com os resultados da empresa eram salvos apenas em seu computador e não na rede da empresa. Assim, esses dados "transitavam apenas entre a sua máquina e das pessoas interessadas, via e-mail".

O depoimento de Marcelo Nunes, dado em 26 de janeiro à PF, confirma que Gutierrez não só era, segundo o MPF, o comandante do processo, como acompanhava tudo de perto.

Nunes relatou que o ex-CEO da Americanas recebia mensalmente um arquivo chamado "00.anotações" com as duas versões dos resultados da empresa, o verdadeiro e o arquivo com as fraudes contábeis.

A versão manipulada é  a que seria divulgada oficialmente ao mercado. Mas ali havia um cuidado extra: essa planilha 00.anotações era entregue impressa a Gutierrez e a outros diretores envolvidos; não era permitido que fosse distribuída em arquivos digitais.

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