Lauro Jardim
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Aulas de Eduardo Bolsonaro em seu curso “Formação Conservadora” foram destrinchadas num relatório inédito que será lançado amanhã no Rio de Janeiro pela Fundação Heinrich Böll.

A entidade, ligada ao Partido Verde da Alemanha, escalou os jornalistas Andrea Dip e Niklas Franzen (ela de origem brasileira, ele alemão) para se matricularem nas aulas on-line do deputado e, agora, revelarem o conteúdo dos 12 módulos ministrados por ele ao custo de R$ 598.

A dupla assistiu a vídeos de Eduardo ao lado de convidados do calibre de Damares Alves, Nikolas Ferreira, Mario Frias, Chris Tonietto e Gustavo Gayer, entre outros expoentes do conservadorismo. Observaram, entre outros aspectos descritos abaixo, que a maioria do público interagindo via chat era de homens acima dos 50 anos, identificados com Jair Bolsonaro, seus filhos e seus apoiadores.

As palestras, relatam ambos, passeiam por conceitos relevantes para a direita internacional (como “guerra cultural” e “globalismo”), emendam em temas da realidade brasileira, como o aborto e a causa LGBT+, e resvalam em críticas a figuras que vão de Paulo Freire a Anitta e Felipe Neto.

Em 2022, quando se candidatou à reeleição como deputado federal, Eduardo informou à Justiça Eleitoral que havia faturado R$ 600 mil com a empresa Eduardo Bolsonaro Cursos, graças a treinamentos on-line — o “Formação Conservadora”, segundo a fundação, foi lançado em 2023.

Confira abaixo, ponto a ponto, as ideias que Eduardo dissemina em seu curso:

* “Guerra cultural” é um conceito que permeia quase todos os módulos do curso de Eduardo. Trata-se de um “aparato que a esquerda usa para impor sua ideologia”, nas palavras dele. Muitas dessas menções são críticas ao filósofo italiano Antonio Gramsci e elogiosas — surpresa! — à obra de Olavo de Carvalho;

* O investidor George Soros é um dos maiores alvo de Eduardo em meio ao curso — o “Zero Três” o chama de “bilionário globalista”;

* As aulas, aliás, contemplam percepções sobre o dito “globalismo”, descrito como a implantação de políticas internacionais que acabam com “as peculiaridades de cada povo”. A convite de Eduardo, o influenciador de direita Fernando Conrado exemplifica aos alunos sobre a causa LGBT+: “Apenas 5% são homossexuais, então por que implementar uma política que afeta 100% da população?”;

* Numa aula relativa aos ideais de família, Damares Alves, palestrante da vez, faz propaganda de seus feitos enquanto ministra da era Bolsonaro. Antes da gestão bolsonarista, diz a senadora, o governo tinha “erotização de crianças em políticas públicas”, além de “pênis de borracha, professora falando em masturbação para meninas” e “festas com travestis fazendo strip-tease”;

* Quando a pauta é aborto, Eduardo diz que, além de apoiar o Estatuto do Nascituro (que “dá direitos” ao feto), diz que tem um feto de plástico em casa e que sua filha brinca de “dar comidinha” ao objeto;

* Ainda sobre interrupção da gravidez, Nikolas Ferreira, a convite, ataca as feministas que, na visão dele, usam o aborto como solução para a “libertinagem”: “Se quiser casar com cachorro é válido, porque elas acreditam em toda forma de amor, com criança (...). Querem a destruição da sua família”;

* Eduardo também fala de “libertinagem”: “O casamento protege a mulher. Da libertinagem sexual proposta pelas feministas surgem essas paternidades irresponsáveis e o aborto surge como solução”;

* Há também apontamentos sobre a influência da esquerda no meio acadêmico, já “cem por cento dominado” por membros desse espectro político, segundo Eduardo. Nikolas endossa: “As pessoas mudam quando entram na universidade porque elas têm uma lavagem cerebral com as questões artísticas. Livros, arte, cultura, Marcuse, faça amor não faça guerra, hippies (...)”.

* Na área da Educação, Paulo Freire é quem entra na mira. Segundo o relatório, o educador é descrito por Eduardo e Nikolas como alguém cuja obra visaria a “destruição da família”. Percepções do curso sobre o que acontece nas escolas também envolvem figuras contemporâneas. Gustavo Gayer, enquanto convidado, diz: “De um lado estão os pais, do outro os professores, a Anitta e o Felipe Neto”;

* Ao tratar sobre armamentos, Eduardo defende: “A violência pode ser boa, a violência de legítima defesa. Uma pessoa entra na minha casa e começa a tentar estuprar uma pessoa da minha família. Eu pego minha arma e atiro (...). É preferível um estuprador morto a uma mulher estuprada”;

* Já em relação às redes sociais, Eduardo descreve o X (antigo Twitter) como um espaço onde nascem as narrativas. Também ressalta a importância do Facebook, do Instagram e do YouTube, mas recomenda que os alunos criem contas em redes mais à direita, como Parler e Getrr, para que consigam migrar caso sejam punidos por violações nas outras plataformas.

* Eduardo se mostra, na avaliação dos jornalistas e da Fundação Heinrich Böll, como “um dos mais importantes representantes brasileiros” conectados à extrema-direita mundial. Numa das aulas, ele diz: “Eu tenho uma articulação internacional, já estive com (José Antonio) Kast; (Javier) Milei; (Donald) Trump; com o pessoal do VOX, gente ligada a Marine Le Pen na França (...)”.

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