Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

Preocupado com a recente aproximação de Luiz Inácio Lula da Silva com lideranças do agronegócio, o presidente Jair Bolsonaro expôs na semana passada suas duas apostas para anular a ofensiva política do petista.

No discurso que fez na reunião com representantes do agronegócio de Mato Grosso, no Palácio do Alvorada, na última quarta-feira, Bolsonaro deixou claro que vai explorar o temor do MST e a indefinição sobre o marco temporal para a demarcação de terras indígenas.

Na ocasião, Bolsonaro deu ordem para que seus aliados “descarreguem" votos para o Senado em Mato Grosso no bolsonarista Wellington Fagundes (PL-MT), que busca mais um mandato, contra o deputado federal Neri Geller (PP), que também concorrerá a uma vaga no Senado.

O agronegócio por ¼ do PIB brasileiro, surfou na onda bolsonarista que varreu o país em 2018 e ainda mantém forte apoio ao presidente. Mas há insatisfação com os rumos do governo, especialmente no tensionamento das relações diplomáticas com a China, principal parceiro comercial do Brasil.

Agora, o atual ocupante do Palácio do Planalto se vê confrontado com a movimentação de Lula, que tenta superar resistências do segmento e atraindo apoios como os de integrantes do grupo Amaggi, uma das maiores empresas exportadoras de soja do mundo, conforme mostrou O GLOBO.

Além de Neri Geller, o senador licenciado Carlos Fávaro (PSD-MT) também anunciou apoio a Lula recentemente, o que acendeu um alerta na campanha à reeleição de Jair Bolsonaro.

No encontro, que não foi aberto à imprensa, Bolsonaro insistiu nas comparações entre a sua gestão e a dos antecessores, concentrando-se nos dois pontos que ele sabe que mais preocupam os produtores rurais.

No caso do MST, segundo relatos obtidos pela coluna, o presidente afirmou que, nos governos FHC e Lula, a média de invasões de propriedades rurais era de uma por dia, e hoje teria despencado para quatro por ano.

Em outra frente, reforçou a artilharia contra o ministro Edson Fachin na questão do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, que está pendente no Supremo Tribunal Federal.

Fachin é relator de uma ação sobre o tema, cujo julgamento foi iniciado e logo suspenso em setembro de 2021.

A retomada da discussão havia sido marcada para 23 de junho deste ano, mas foi retirada da pauta por decisão do presidente do STF, Luiz Fux, em meio ao tensionamento na relação entre o tribunal e o Planalto.

Na reunião com os representantes do agro mato-grossense, Bolsonaro disse que as reservas indígenas ocupam 12,5% do território brasileiro e repetiu a ameaça que já fez em abril passado.

Disse que, se o entendimento de Fachin contra a fixação do marco temporal para a demarcação das reservas prevalecer, ele só terá duas alternativas: “entregar as chaves” do país a quem quiser ou descumprir a determinação do STF.

Os aplausos entusiasmados ao presidente neste momento mostram que o discurso de Bolsonaro tem apelo no agro e pode funcionar para blindar esse eleitorado da aproximação de Lula. O público do evento no Alvorada eram prefeitos, vice-prefeitos, presidentes de câmaras municipais de Mato Grosso.

As lideranças do PT têm a dimensão da resistência do agro à candidatura de Lula e dão como certa a derrota do ex-presidente para Bolsonaro no estado. Ainda assim, o partido considera importante continuar tentando apoios no agro. Para os petistas, qualquer redução na vantagem de Bolsonaro sobre Lula já é considerada uma vitória.

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