Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

Por Johanns Eller

Chamado de “padre de festa junina” por Soraya Thronicke (União Brasil) e de “impostor” por Lula (PT) durante o debate da TV Globo, o candidato à presidência pelo PTB, Kelmon Luis de Souza, o Padre Kelmon, rebateu os adversários e insistiu ser um legítimo sacerdote ortodoxo. Mas nem a obscura instituição peruana da qual ele faz parte é reconhecida pela comunhão ortodoxa.

Como revelou o blog em agosto, ainda antes de Kelmon assumir a candidatura à presidência, com a impugnação de Roberto Jefferson, o "padre" não integra e nem foi ordenado pelas igrejas ortodoxas estabelecidas no Brasil.

Apesar disso, em seu site, o PTB já se referiu a Kelmon como bispo eleito pelo Santo Sínodo, autoridade suprema da Igreja Ortodoxa.

Após os questionamentos públicos, o petebista se disse ligado à autoproclamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa del Peru, uma controversa instituição fundada pelo peruano Angelo Ernesto Morel Vidal que não possui qualquer ligação com a comunhão ortodoxa.

A entidade, por sinal, não é reconhecida pelas chamadas igrejas canônicas do antigo patriarcado ortodoxo, e seu status controverso já havia sido reportado pela imprensa peruana em 2019.

Fotomontagem coloca Kelmon ao lado de líderes da autoproclamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, que não é reconhecida pelas igrejas canônicas dos antigos patriarcados — Foto: Reprodução/redes sociais
Fotomontagem coloca Kelmon ao lado de líderes da autoproclamada Igreja Católica Apostólica Ortodoxa do Peru, que não é reconhecida pelas igrejas canônicas dos antigos patriarcados — Foto: Reprodução/redes sociais

No último dia 17, a página da igreja no Facebook reproduziu um comunicado assinado por Vidal reiterando que o petebista tem um vínculo com a igreja peruana.

Só que nesse mesmo documento a própria igreja se descreve como “autocéfala” – ou seja, que não responde a nenhuma autoridade superior e se autogoverna. Afirma, ainda, ter seu próprio Santo Sínodo – grupo de bispos que compõe o comando da igreja.

A entidade também admite não ter “nenhum relacionamento com outras convenções ortodoxas dentro do território do Peru ou em nenhuma das missões no exterior”.

É o próprio Morel Vidal, chefe da igreja peruana, quem assina os dois comprovantes de escolaridade entregues por Kelmon ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em outra publicação no Facebook realizada em agosto, a igreja peruana parabeniza Kelmon pela candidatura à vice-presidência na chapa de Jefferson e repete o slogan bolsonarista (por sua vez adaptado do integralismo e do fascismo italiano): “Deus, Pátria, Família e Liberdade”.

Como mostrou O GLOBO na última quinta-feira, Kelmon faz uso indevido de vestimentas religiosas nos debates e nas redes sociais. Há várias contradições, desde o crucifixo que usou durante o encontro com rivais na Globo até a bandana com cruzes, que confundem segmentos religiosos e diferentes graus hierárquicos.

Sacerdotes ortodoxos ligados ao antigo patriarcado ouvidos sob reserva pela equipe da coluna afirmam que a apropriação de indumentárias e até de denominações, como a ortodoxia, têm sido mais recorrentes no Brasil e em países vizinhos.

Figuras como Kelmon, afirma um destes sacerdotes, têm se aproveitado da legislação que garante a liberdade religiosa para “abrirem qualquer CNPJ” e se passarem como lideranças ortodoxas legítimas, enganando fiéis e reproduzindo um argumento de autoridade.

Essas entidades autoproclamadas, que podem se identificar da maneira que desejarem e não ferem a lei, seriam formadas por religiosos que não conseguiram ascender dentro da comunhão ortodoxa e integrantes expulsos destas igrejas por diferentes motivos.

Nesta sexta, depois da polêmica em torno da autenticidade do padre, Kelmon postou em suas redes sociais um vídeo em que um homem usando as vestes da religião ortodoxa e identificado como Dom Ioannes de Catarina reitera o alegado sacerdócio de Kelmon.

Ele é líder da autointitulada Igreja Apostólica Ortodoxa da América, que também não tem vínculo com a comunhão ortodoxa no Brasil.

Foi justamente o alegado sacerdócio que catapultou a atividade política de Kelmon. Como publicamos na última quinta, foi um vídeo disseminado nas redes de extrema-direita que levou Roberto Jefferson a viajar para a Bahia apenas para conhecê-lo e, posteriormente, convidá-lo para o PTB.

No debate, Kelmon serviu de escada para Jair Bolsonaro, tanto na discussão com Lula como no confronto com outros candidatos por temas religiosos.

Em mais de uma ocasião, tanto na Globo quanto no debate do SBT no sábado passado, Kelmon explorou o fechamento de igrejas na Nicarágua e temas sensíveis como o aborto em dobradinhas com o presidente.

Depois da discussão com o petista, bolsonaristas divulgaram em suas redes vídeos em que afirmam que Lula ofendeu um padre e não gosta de religiosos.

Mais recente Próxima