Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

As urnas passaram diversos recados ontem tanto a Lula quanto a Bolsonaro. A mensagem ao presidente da República foi ele mesmo quem resumiu, quando disse ter entendido que "tem muito voto que foi (contra ele) pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos".

Na fala após o resultado, Bolsonaro adotou um tom até humilde para quem elegeu 20 senadores numa disputa de 27 vagas e fez uma bancada de 99 deputados só no próprio partido.

Agiu assim porque sabe que, apesar de ter surpreendido em relação ao que estimavam as pesquisas, apresentou proporcionalmente o pior desempenho de primeiro turno entre todos os presidentes que já disputaram a reeleição.

Sabe, ainda, que vai precisar trabalhar muito para conquistar os 6 milhões de votos de que precisa para superar Lula no segundo turno.

Já Lula, se entendeu o recado, não admitiu. Depois da votação, disse que o que vem por aí é uma "apenas uma prorrogação", porque ele vai ganhar.

Como a expressão facial e a linguagem corporal dos petistas que o cercavam no palco indicava tudo, menos confiança na vitória, é possível inferir que o ex-presidente entendeu sim os recados das urnas. Só não estava disposto a reconhecer.

A primeira conclusão, óbvia, é que o ensaio de frente ampla que Lula fez no primeiro turno, juntando o apoio de ex-candidatos à presidência, ex-presidentes do STF e alguns economistas ortodoxos, não convenceu.

Era uma união bonita para as fotos, assim como a conversa de que estavam dando um cheque em branco a Lula em nome da democracia. Os apoios e o cheque em branco certamente eram reais, mas quem os assinou não tinha saldo na conta – os votos.

Quem tinha os votos – os partidos de centro e do Centrão, ficou solto no primeiro turno – , cada um empenhado em formar a maior bancada possível para ter mais poder de barganha no Congresso, qualquer que fosse o presidente eleito.

Partidos como o PSD (42 deputados), MDB (42) e União Brasil (76) não tinham por que fechar com Lula e comprar brigas internas sem nenhuma contrapartida além da defesa da democracia. Para fechar com eles agora, o petista terá que firmar vários compromissos que evitou no primeiro turno.

Não que não saiba fazê-lo. Lula já demonstrou em diversas ocasiões que é hábil em compor alianças e ceder poder quando é necessário.

Agora, porém, ele enfrenta um bolsonarismo vitaminado pelas urnas , com palanques fortes nos dois principais colégios eleitorais do Brasil, São Paulo e Minas Gerais, e uma tropa de deputados e senadores já eleitos percorrendo o país fazendo campanha para ele.

Lula enfrenta, ainda, a máquina azeitada pelo orçamento secreto e novamente mobilizada pela perspectiva de manter-se no poder. Difícil saber quantos dos eleitores mais pobres ainda poderão ser convencidos a mudar de voto à base de auxílios e emendas.

Tudo indica que fez muita diferença, também, um fator que Lula e seus aliados subestimaram nesta eleição – o antipetismo.

O caso de São Paulo foi exemplar.

Na avaliação do consultor e dono do instituto Ideia Big Data, Maurício Moura, a maior parte dos votos de eleitores que se declaravam indecisos nas pesquisas espontâneas migrou para Tarcísio de Freitas, "A rejeição do PT em São Paulo foi foi fundamental para o resultado mais favorável do que se previa a Bolsonaro, porque a maior parte dos votos dos indecisos no estado migrou para Tarcísio e para o presidente da República".

Mesmo assim, Moura considera que Lula continua sendo favorito, porque a quantidade de votos a ser conquistada por Bolsonaro ainda é muito grande, e não há tantos bolsões de onde tirá-los.

Mas o presidente pelo menos demonstrou que captou o desafio e vai partir para cima com as armas que tem. Quando afirma compreender que a população quer mudança, "mas tem certas mudanças que podem vir para pior", ele mostra que tem um rumo, investir na rejeição do adversário.

A mensagem do eleitorado neste domingo é claríssima: não dará moleza nem a Bolsonaro e nem a Lula. O presidente da República sacou as regras do jogo e arregaçou as mangas. Lula ainda precisa reconhecer que não tinha cheque em branco e sair a campo entregando suas próprias promissórias.

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