Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília

Tem nome e sobrenome a liminar que o ministro do Supremo Ricardo Lewandowski deu na noite desta quinta-feira acabando com a quarentena para políticos assumirem cargos de direção em empresas públicas – e atropelando o julgamento sobre a Lei das Estatais que ainda aguarda desfecho.

A pressa do ministro em fazer valer sua vontade, com um gesto tão atípico para o Supremo, visava atender à necessidade do governo de nomear para a presidência do Banco do Nordeste o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara.

Foi o que relataram à equipe da coluna seis fontes, entre magistrados, auxiliares do presidente do Lula e interlocutores de Lewandowski.

Câmara foi convidado por Lula para assumir o comando do banco, que tem orçamento de R$ 2 bilhões, e aceitou. Mas a indicação não passaria pelos critérios da Lei das Estatais, já que ele era o primeiro-vice-presidente do PSB Nacional até janeiro passado.

Pela lei, dirigentes de partido político ou de campanha eleitoral têm que cumprir 36 meses de quarentena antes de assumir um cargo em empresas públicas – como o BNB – ou de capital misto - como a Petrobras.

Câmara é próximo do PC do B, partido de sua vice-governadora, Luciana Santos, que hoje é ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação de Lula. Não é estranho, portanto, que o PCdoB tenha entrado com a ação pedindo para que esse dispositivo da lei das estatais fosse suprimido.

E não é coincidência tampouco que Lewandowski esteja tão empenhado em atender o governo. O ministro – para quem a lei fere a Constituição por representar uma "restrição de direitos" dos políticos de serem nomeados para cargos em estatais – , também busca ele mesmo conseguir que Lula nomeie seu candidato a sucedê-lo no STF após a aposentadoria, que ocorrerá até maio.

Paulo Câmara também não é o único político que está de olho em diretorias e conselhos de estatais. Segundo auxiliares do próprio Lula, há ministros de Estado e secretários-executivos de olho em vagas em conselhos de estatais, que pagam bons jetons, e uma fila de outros aliados esperando que a lei caia para poder encontrar uma colocação.

A ex-senadora Katia Abreu, por exemplo, está cotada para assumir uma das vice-presidências do Banco do Brasil e pode ser beneficiada com o afrouxamento das regras da Lei das Estatais.

Mas o texto não andou no Senado e portanto não está valendo, o que exaspera o time do Palácio do Planalto. "Está tudo travado, não é só o Câmara", reclama um assessor palaciano.

O gesto de Lewandowski, porém, pode acabar sendo em vão.

O ministro já tinha votado pelo relaxamento da lei na semana passada, no plenário virtual, mas André Mendonça pediu vista, suspendendo a discussão por tempo indeterminado.

Diante do impasse, Lewandowski transformou seu voto em liminar, em uma espécie de "gol de mão" que costuma provocar reações negativas no STF.

A primeira resposta já foi dada ontem, quando Mendonça devolveu o pedido de vista e liberou o caso para o julgamento. A expectativa no Supremo é a de que Mendonça vote para manter de pé as restrições da Lei das Estatais e seja acompanhado por pelo menos mais dois colegas.

Ao contrário de Lewandowski, que deseja manter a discussão no plenário virtual, André Mendonça devolveu o processo às pressas para julgamento, numa tentativa de levá-lo para o plenário físico.

A aposta é clara: fazer com que o assunto seja avaliado numa sessão tradicional do STF transmitida pela TV Justiça, onde um voto para restringir as indicações de políticos em empresas públicas não deve pegar bem perante a opinião pública.

Para a liminar ficar de pé, são necessários pelo menos mais cinco votos, algo que os próprios aliados de Lewandowski acham difícil, mas não impossível.

Procurado pela equipe da coluna, o gabinete de Lewandowski alegou que a decisão do ministro foi tomada em uma ação direta de inconstitucionalidade movida pelo PCdoB, um “processo de controle concentrado" (que discute se a Lei das Estatais viola a Constituição), mas ressaltou que não saberia informar “a quem beneficia subjetivamente”.

Atualização às 12h30: O ex-governador Paulo Câmara não se filiou ao PCdoB, como constava na reportagem. A informação foi corrigida.

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