Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por Johanns Eller

Depois de receber a adesão de 205 deputados e ficar a ponto de ser instalada, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Americanas entrou em compasso de espera e pode acabar agora entrando para a extensa lista de investigações do Congresso que foram sepultadas antes mesmo de começar — por dois motivos.

O principal é o fato de que os acionistas e seus credores estão próximos de um acordo. Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles devem injetar na companhia algo em torno de R$ 12 bilhões. Nesta segunda-feira, também foi apresentado à Justiça o plano de recuperação judicial da companhia.

E embora a fraude contábil que maquiou um rombo de R$ 20 bilhões não tenha deixado de existir, o cessar fogo diminui consideravelmente o ímpeto que fez credores e operadores políticos se mobilizarem para fazer a CPI acontecer.

Enquanto credores e acionistas se digladiavam nos bastidores, o requerimento do deputado André Fufuca (PP-MA), do mesmo partido do presidente da Câmara, Arthur Lira, ganhou adesão rapidamente.

O argumento para ampliar a apuração já está na ponta da língua do deputado Fufuca. Segundo ele tem repetido nos bastidores, os “fatos novos” anunciados desde o início da coleta de assinaturas, em fevereiro, permitem “caminhos muito diferentes” do que o previsto inicialmente.

Depois de passar alguns dias sem movimentação, o requerimento para a instalação da CPI chegou em 10 de março a 205 assinaturas — 34 mais do que o mínimo necessário.

Desde então, lobistas representando bancos credores, a Americanas e até mesmo os executivos que estão sob investigação na CVM e na Polícia Federal passaram a circular em Brasília na tentativa de impedir que ela vá adiante.

Um deles foi o ex-ministro das Comunicações de Jair Bolsonaro, Fábio Faria, que hoje trabalha como gerente sênior de relações institucionais do BTG Pactual, um dos bancos empenhados na batalha judicial contra a Americanas.

Interlocutores da companhia também fizeram seus mapas de aliados e potenciais inimigos, além de trabalhar para que a CPI, caso fosse instalada, também contemplasse os bancos, cujas áreas de crédito nunca detectaram a fraude multibilionária.

Embora tenham passado as últimas semanas se engalfinhando nos bastidores, nenhum deles – nem os acionistas, nem os banqueiros – está a fim de ser exposto e muito provavelmente constrangido em depoimentos televisionados.

Para impedir que isso acontecesse, vários desses operadores têm ido bater à porta do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a quem cabe decidir se ela será ou não instalada.

Na Câmara, a decisão de instalar ou não uma CPI é do presidente da Casa – diferentemente do que acontece no Senado e nas comissões mistas (que reúnem deputados e senadores), que têm de ser instaladas tão logo o mínimo de assinaturas recolhidas seja atingido.

Isso significa que, por mais assinaturas que uma CPI tenha, se Arthur Lira não quiser, ela não sai. E o presidente da Câmara já deu pistas a vários interlocutores diferentes de que não fará nada para a comissão ser instalada.

A sinalização de Lira e a proximidade de um acordo colocaram em marcha lenta o movimento de Fufuca e seu grupo, que já tinham até passado a ventilar nos bastidores que consideravam ampliar o escopo das investigações.

Além de investigar outras empresas controladas por Lemann, Sicupira e Telles, os deputados já falavam em incluir concorrentes da Americanas, como o Magazine Luiza e a Marisa, e ainda os bancos, que continuaram recebendo os juros das operações de antecipação de pagamentos a fornecedores antes mesmo da comissão ser instalada.

Agora tudo isso vai para uma gaveta. A menos, é claro, que apareça um novo foco de crise nas negociações entre acionistas e credores da varejista.

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