Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Rafael Moraes Moura — Brasília

Enquanto articulam a composição da CPI mista dos Atos Golpistas, os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva já elegeram seu primeiro alvo na comissão: o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, considerado peça-chave para explicar a “escalada golpista” que antecedeu os atentados contra a sede dos três poderes em 8 de janeiro.

Preso há mais de 100 dias em um batalhão da PM em Brasília, Torres era secretário de segurança pública do Distrito Federal quando extremistas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF).

A estratégia governista tem dupla conveniência: além de ter tido papel relevante nos acontecimentos que antecederam os atentados de janeiro, um depoimento de Torres não teria o mesmo poder de intimidar os parlamentares do que Bolsonaro ou mesmo militares.

Daí porque pretendem começar os trabalhos com sua convocação. Além do depoimento, quatro parlamentares aliados do governo Lula ouvidos pela coluna dizem que defendem a quebra do sigilo telefônico e acesso a todos os ofícios e relatórios de inteligência por ele recebidos no período em que já tinha assumido a secretaria do governo Ibaneis Rocha.

Durante os atentados, o então secretário estava em viagem de férias com a família nos Estados Unidos, apesar da intensa mobilização da caravana de bolsonaristas rumo à capital federal para protestar contra a vitória de Lula.

Mas não é apenas a omissão de Torres que os petistas querem explorar a fundo nos trabalhos da CPI. Os integrantes da base de Lula também pretendem esmiuçar o papel do ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro no processo eleitoral, com enfoque no uso político da Polícia Rodoviária Federal para tumultuar a votação de eleitores em regiões predominantemente petistas.

Nesse caso, outro alvo dos lulistas da CPI será a ex-diretora de inteligência do Ministério da Justiça Marília Alencar, que confirmou à PF ter feito um mapeamento dos locais onde Lula havia obtido mais votos no primeiro turno para orientar os bloqueios da PRF no dia da eleição.

Segundo antecipamos na coluna, Marília disse à PF que o levantamento foi um pedido de Torres.

De acordo com o advogado da ex-diretora de inteligência, Octavio Orzari, ela disse no depoimento que "a orientação era de prevenção e repressão a crimes eleitorais, tudo dentro das atribuições legais, e tal levantamento foi uma forma de verificação de um possível indicativo de compra de votos, caso a diferença se mostrasse muito grande”.

E mais: aliados de Lula também avaliam que há espaço na CPMI para retomar as suspeitas envolvendo a confecção da infame minuta golpista, encontrada na casa do ex-ministro. O documento criava um certo “estado de defesa” no TSE, dando poderes a Bolsonaro para interferir na atuação da Corte – o que é flagrantemente inconstitucional.

Em diversas ocasiões, quando confrontado a dar explicações sobre a minuta, Torres disse que não separava os documentos que trazia para levar para sua casa, função que seria de uma assessora. Ela seria responsável por coletar a papelada deixada em cima da mesa do ex-titular do ministério da Justiça e antigo braço-direito de Bolsonaro.

Em depoimento prestado à Polícia Federal, no entanto, a ex-assessora de Anderson Torres Gizela Lucy Barros informou que apenas organizava a mesa, “mas os papéis, a sua triagem do que era importante ou não, o próprio ministro assim fazia”.

Na base lulista, há quem defenda inclusive que a CPMI peça ao Supremo o compartilhamento das provas reunidas nos inquéritos em andamento que se debruçam sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

Esses casos estão sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que já compartilhou provas de um desses inquéritos com o TSE, em uma das 16 ações que podem declarar Bolsonaro inelegível e afastá-lo de disputar eleições pelos próximos oito anos.

Mas a “dobradinha” com o Supremo enfrenta resistência entre os próprios petistas.

Isso porque há quem tema que o compartilhamento de informações sigilosas com o Congresso, neste momento, possa fazer com que as investigações caiam nas mãos de parlamentares bolsonaristas que vão compor a CPMI.

O temor é o de que aliados de Bolsonaro tentem tentar tumultuar e até sabotar as apurações com o vazamento de dados sensíveis.

Já no entorno de Anderson Torres, a avaliação é a de que uma eventual convocação para depor na vitrine política nacional da CPMI não vai ser algo necessariamente ruim. “Ele terá condições de expor o posicionamento dele, mas precisa estar bem centrado”, diz um interlocutor do ex-ministro.

Na última segunda-feira, os advogados de defesa do ex-ministro conseguiram sensibilizar a Polícia Federal e adiou seu depoimento no inquérito que trata sobre o uso político da PRF para atrapalhar a votação de eleitores de Lula.

A alegação foi a de que o “estado emocional e cognitivo” de Torres sofreu uma “drástica piora”, após a decisão de Moraes de mantê-lo preso.

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