Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

Por Johanns Eller

Indicado para o Supremo Tribunal Federal (STF) por Luiz Inácio Lula da Silva, Cristiano Zanin, se confirmado, vestirá a toga após ter se destacado como advogado do petista na mais alta corte do país nos casos da Lava-Jato. Mas não foi sempre assim. Zanin e o presidente já estiveram em lados opostos no tribunal, há 17 anos.

Em janeiro de 2006, Zanin moveu um mandado de segurança contra um ato de Lula na condição de presidente da República – à época, no seu primeiro mandato – em nome da Transbrasil, companhia aérea que interrompeu as atividades em 2001 em meio a uma grave crise financeira e teve a falência decretada no ano seguinte. A Transbrasil era defendida pelo escritório de seu sogro, Roberto Teixeira, compadre de Lula.

Então sócio de Teixeira, Zanin questionou um ato de Lula que determinava a retomada de áreas aeroportuárias da União concedidas à Transbrasil diante da falência da companhia. A empresa, na época, tentava retomar suas operações.

O agora indicado para o STF sustentou que o petista “referendou os atos inconstitucionais, ilegais e arbitrários” determinados pela Infraero e pelo Departamento de Aviação Civil.

A principal reclamação da defesa da Transbrasil era que a Infraero estava retomando estruturas aeroporturárias - como hangares e terminais - construídas com financiamento da empresa em áreas da União e que ainda não haviam sido amortizadas, além de repassá-las para outras companhias “na calada da noite”, “sem licitação” e sem que a empresa fosse comunicada.

A peça protocolada no Supremo sustentava que o ato de Lula teria violado os princípios constitucionais da igualdade, proporcionalidade e razoabilidade porque a medida não teria sido aplicada a outras empresas aéreas em situações similares.

O mandado de segurança foi protocolado no Supremo em 11 de janeiro de 2006 por Zanin, Roberto Teixeira e Valeska Zanin, sua mulher e sócia. O ministro Gilmar Mendes foi sorteado como relator, mas o STF estava em recesso.

Dois dias depois, o então presidente da corte, Nelson Jobim, acatou os argumentos da defesa da Transbrasil durante o plantão do Judiciário e expediu uma liminar em favor da empresa alegando que os efeitos da não concessão seriam “mais desastrosos” do que concedê-la.

A decisão, no entanto, foi derrubada em novembro daquele mesmo ano pelo plenário do STF. No seu relatório, Gilmar argumentou que não houve afronta ao contraditório e nem ao direito de defesa da empresa no ato de Lula. A Transbrasil nunca mais operaria voos, e sua massa falida ainda é parte de diversos processos na Justiça brasileira.

Ao todo, Zanin representou a Transbrasil em 11 ações no Supremo – ora como autora da ação, ora como ré – em casos variados ligados ao processo de falência da empresa, que foi fundada em 1955 e chegou a operar rotas internacionais para os principais destinos do mundo antes de suas finanças e de seu crédito desabarem diante das crises econômicas nos anos 90.

Por ironia do destino, o jovem advogado, que tinha apenas 30 anos à época, seria indicado para o Supremo Tribunal Federal pelo mesmo presidente que questionava na corte na ocasião. Isso após liderar a estratégia jurídica de um caso muito mais espinhoso e intrincado do que o de uma combalida companhia aérea, que terminaria por reabilitar Lula politicamente para um terceiro mandato e impor uma dura derrota à operação Lava-Jato.

(Colaborou Rafael Moraes Moura, de Brasília)

Mais recente Próxima Casos de Zanin no STF dispararam com defesa de Lula na Lava-Jato