Malu Gaspar
PUBLICIDADE
Malu Gaspar

Análises e informações exclusivas sobre política e economia

Informações da coluna

Por Malu Gaspar

A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) admitiu em novo documento sigiloso à Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso (CCAI) que há divergências entre as duas versões do relatório com alertas sobre o risco de atos golpistas de 8 de janeiro e entregues anteriormente à comissão.

Os parlamentares constataram ontem em sessão secreta que a primeira cópia do relatório de informes da Abin, enviada em 20 de janeiro e produzida na gestão do general Gonçalves Dias no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) , omitiu a informação de que o próprio ministro recebeu em seu celular pessoal onze alertas sobre os crescentes riscos de tumulto e de invasão de prédios públicos.

Só que esses mesmos alertas constam de outra versão do documento enviado pela mesma Abin à mesma comissão em 8 de maio – agora com o GSI já sob o comando de outro general, Marco Antonio Amaro dos Santos.

Contudo, segundo esse novo documento da Abin, espécie de errata enviada à comissão do Congresso na última segunda-feira (29), o que houve foi um "erro material". A justificativa é de que o primeiro relatório – um compêndio de mensagens de WhatsApp enviadas pela agência a órgãos do governo entre 6 e 8 de janeiro – chegou aos parlamentares sem os alertas a Gê Dias porque teriam sido incluídos no relatório apenas as mensagens enviadas a grupos e não a indivíduos.

A primeira versão do documento foi enviada ao Congresso por requisição da própria CCAI. Já a segunda foi entregue por ordem do ministro Alexandre de Moraes, em resposta a um pedido da Procuradoria-Geral da República.

Moraes não só mandou que a Abin e a PM do DF fornecessem os relatórios à PGR como também determinou que a CCAI enviasse todos os relatórios de inteligência que recebeu das autoridades.

Além disso, a própria comissão requisitou à Casa Civil em 2 de maio que levantasse em 30 dias o sigilo imposto aos documentos. O prazo, portanto, vence amanhã. O ministério já informou ao GLOBO que vai torná-los públicos.

Na comissão de inteligência do Congresso, este último relatório da Abin foi entendido como uma tentativa de se antecipar à constatação de que o primeiro relatório foi adulterado para omitir os registros de que Gê Dias foi avisado sobre o risco de invasão na praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.

Isso porque tanto na oposição bolsonarista como entre os próprios aliados de Lula, a avaliação é de que será difícil evitar que Dias seja indiciado por prevaricação (quando o servidor público deixa de cumprir seu dever legal).

O general negou à Polícia Federal ter recebido os alertas, além de impor sigilo também às imagens do circuito interno de TV da Presidência da República que o mostram sem ação diante dos invasores que depredaram o Palácio do Planalto. E continuou negando ter sido informado do risco de invasão na semana seguinte, quando a Folha de S. Paulo publicou em primeira mão o conteúdo das mensagens enviadas ao seu celular.

As imagens, assim como as versões do relatório que mostram a adulteração realizada na gestão de Gê Dias, serão encaminhados agora à Comissão Parlamentar de Inquérito mista que investiga os responsáveis pelos atos golpistas.

A adulteração dos documentos oficiais pelo GSI de Lula deve se tornar o primeiro foco de disputa política na CPMI do golpismo, que está fortemente polarizada entre bolsonaristas e lulistas.

Desde que a comissão foi instalada, na semana passada, já foram apresentados quase 500 requerimentos com pedidos de convocação de autoridades ligadas ao 8 de janeiro.

Desses, cerca de 300 pedidos são de autoria da oposição, e o principal alvo é justamente Gê Dias. Já são mais de 13 requerimentos pedindo a convocação do general.

Mais recente Próxima Em menos de 6 meses, Lula enfrenta tempestade perfeita