Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

Uma troca de emails apresentada à CPI da Americanas nesta tarde pelo atual CEO, Leonardo Pereira, mostra que diretores da varejista comemoraram a aceitação, pelo Itaú, de uma carta com as explicações sobre demonstrações financeiras que escondiam as maquiagens contábeis.

"Parabéns aos envolvidos", escreveu o diretor financeiro Fábio Abrate no dia 19 de setembro de 2017, após uma longa troca de mensagens em que se discutiu a inclusão do "risco sacado" na carta que os bancos enviavam à auditoria da varejista com explicações sobre as operações financeiras que possuíam com a empresa.

E-mail de Fabio Abrate, então diretor financeiro da Americanas, no qual parabeniza 'todos os envolvidos' — Foto: Reprodução
E-mail de Fabio Abrate, então diretor financeiro da Americanas, no qual parabeniza 'todos os envolvidos' — Foto: Reprodução

Abrate comemorava o fato de que o Itaú aceitou a nova redação da carta, em que a expressão "sacado" tinha sido substituída por "emitido".

De acordo com os emails, a modificação foi uma sugestão do próprio banco, como informa o funcionário da área financeira Felipe Rodrigues: "O Itaú propôs a suavização do termo 'sacado', substituindo-o por 'emitido'."

A questão era sensível para a diretoria da Americanas. A omissão de R$ 18,4 bilhões em passivos com operações de risco sacado foi uma das principais fraudes cometidas no balanço, que podem somar R$ 45,9 bilhões, segundo comunicado divulgado ao mercado nesta manhã pela própria empresa.

No conjunto de documentos exibidos pelo CEO à CPI, um slide mostra que em julho de 2017 o então diretor de lojas físicas, logística e tecnologia da Americanas, Thimoteo Barros, já tinha cobrado Fabio Abrate a respeito por WhatsApp: "Fabio, como estamos com os bancos para retirar das cartas a info das operações com fornecedores." E completa: "Vida/Morte para nós".

Daí a celebração ocorrida em setembro, quando Abrate escreve num email enviado a diversos destinatários: "O Itaú acaba de informar que aprovou a redação abaixo. Parabéns a todos o envolvidos". Depois de transcrever o trecho do texto em que não consta a expressão "risco sacado", o diretor escreve: "Agora é assinarmos o contrato, fecharmos a parte sistêmica e estarmos prontos a voltar a operar".

O Itaú, porém, contestou as afirmações do CEO da Americanas na CPI e afirmou que "é leviano atribuir a terceiros a responsabilidade pela fraude, confessada pela companhia ao mercado no dia de hoje".

Durante a audiência na CPI, o presidente da Americanas, Leonardo Pereira, disse que estava abandonando a versão adotada desde janeiro, de que o que havia no balanço eram "inconsistências contábeis". Pereira afirmou que as evidências reunidas pela investigação interna da empresa eram de fraude, e anunciou que os diretores até então sob investigação estão sendo demitidos nesta terça-feira. Abrate e Barros, que enviaram os emails e mensagens, estão entre eles

Mensagens apresentadas por Pereira à CPI indicam ainda que os diretores da Americanas tinham um acompanhamento paralelo da contabilidade com duas planilhas diferentes. Uma delas, intitulada "Visão interna", trazia as informações reais sobre a situação contábil da empresa. Outra, chamada de 'Visão conselho", com dados falsos, e era entregue ao conselho de administração e divulgada ao mercado.

Como exemplo, Pereira mostrou uma "Visão interna" com dados de 2021 que mostrava um prejuízo de R$ 733 milhões. Na "Visão conselho", o resultado surgia positivo, com lucro de R$ 2 bilhões.

Atualização as 19h52 - O Itaú enviou a seguinte nota sobre as alegações do CEO da Americanas na CPI:

"O Itaú Unibanco esclarece que as cartas de circularização, que são instrumento de apoio aos trabalhos de auditoria, até 2017 traziam o saldo integral das operações de antecipação contratadas por fornecedores, denominadas “risco sacado”. A partir de 2018, após discussões de mercado, a carta de circularização foi restringida para refletir apenas as operações contratadas diretamente pela Americanas, com a exclusão do saldo das operações de antecipação contratadas por fornecedores. Por outro lado, como medida de transparência, foi adicionado o parágrafo que alertava para a realização de operações de antecipação de recebíveis emitidos contra a Americanas, permitindo que as empresas de auditoria conhecessem sua existência e questionassem sobre seu saldo, caso necessário. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é responsabilidade exclusiva da companhia e de seus administradores. É leviano atribuir a terceiros a responsabilidade pela fraude, confessada pela companhia ao mercado no dia de hoje."

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