Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília

Não é só o entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro que tem aguardado com apreensão os desdobramentos da delação premiada firmada pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid com a Polícia Federal.

Na cúpula do Exército, há um alto nível de ansiedade com os rumos que vão ser tomados agora com as investigações do ex-homem de confiança de Bolsonaro, cuja delação foi homologada na semana passada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Como ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel fazia a ponte entre o presidente e vários interlocutores importantes nas Forças Armadas. Por isso, já se espera no alto comando que as mensagens de celular e, mais importante, a delação de Cid implique alguns generais.

Três deles são considerados alvos certos da delação: o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e era um dos mais próximos de Cid no Planalto ; o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); e o ex-secretário-geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos.

“Ele, como ajudante de ordens, falava com todos os ministros”, resume um integrante do PL.

Se fosse só por esses três, a ansiedade já seria grande. Mas há muita dúvida sobre quais outros generais ainda podem ser implicados.

O principal temor dentro do Exército é o de que a delação de Mauro Cid traga à tona a participação dos generais na confecção da “minuta golpista”, encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

O documento previa a criação de um “Estado de Defesa na sede do Tribunal Superior Eleitoral”, com o objetivo de “garantir a preservação ou o pronto restabelecimento da lisura e correção do processo eleitoral presidencial do ano de 2022” – ou seja, para impedir a posse de Lula.

Conforme informou a equipe da coluna, um detalhe da minuta golpista intrigou membros do Judiciário: um dos artigos do documento, que cria uma “Comissão de Regularidade Eleitoral” para rever o resultado da eleição, estabelece que oito de seus 17 representantes seriam nomeados pelo Ministério da Defesa.

Essa “tropa eleitoral” formada pela Defesa despertou a suspeita de que militares do entorno de Bolsonaro também tenham participado da elaboração do documento.

Além de dominar a comissão, os militares poderiam facilmente impor sua vontade sobre o órgão, já que ele teria ainda um representante da Advocacia-Geral da União (AGU) e um da Controladoria-Geral da União (CGU), somando na prática 10 votos totalmente alinhados com Bolsonaro.

Mauro Cid entrou na mira de investigações envolvendo suspeitas relacionadas a fraude em carteiras de vacinação do ex-presidente, desvio e venda irregular de presentes dados ao governo brasileiro e também a ameaça de um possível golpe de Estado no país.

Uma das apostas do PL para disputar a prefeitura do Rio, Braga Netto escapou ileso do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que resultou na inelegibilidade de Bolsonaro em junho deste ano.

O general, no entanto, ainda é alvo de outras 15 ações que investigam a campanha do ano passado – entre elas as que miram um “ecossistema de desinformação” bolsonarista nas redes sociais e os ataques sistemáticos de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. A delação de Mauro Cid também pode trazer mais dor de cabeça ao ex-candidato a vice.

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