A CPI do 8 de Janeiro terminará na semana que vem sem convocar o ex-comandante da Marinha de Jair Bolsonaro, Almir Garnier Santos, para depor sobre as acusações do tenente-coronel Mauro Cid em sua delação premiada.
Conforme informou a colunista Bela Megale, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro revelou em um dos anexos já homologados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que o então presidente discutiu com os comandantes das Forças Armadas detalhes de uma minuta que abriria possibilidade para uma intervenção – e Garnier Santos teria dito a Bolsonaro que sua tropa estava pronta para atendê-lo. Na mesma ocasião, o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, teria se negado a aderir ao plano de golpe.
Depois que essas informações vieram à tona, a relatora da comissão de inquérito, Eliziane Gama (PSD-MA), disse que pretendia convocar Garnier.
Nesta sexta-feira, porém, parlamentares governistas ouvidos pela equipe da coluna afirmaram que o comandante não será ouvido porque o presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA), decidiu não fazer mais sessões deliberativas – o que impede a aprovação do requerimento de convocação.
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Maia confirma que não vai marcar mais sessões deliberativas, mas atribui a decisão à resistência da oposição em aceitar que também seja votada a convocação do coronel que comandava a Força Nacional no dia dos ataques, Sandro Augusto Queiroz.
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"No dia 8 de janeiro existiam na Praça dos Três Poderes três forças de segurança: o Exército, a PM do Distrito Federal e a Força Nacional. Vários generais importantes foram ouvidos. Da PM, vários comandantes da PM foram lá se explicar. E existe uma postura forte da oposição de que a Força Nacional foi inerte, mas o governo não aceita em nenhum momento que esses comandantes sejam ouvidos. Fica muito ruim concluir a CPI sem ouvir a Força Nacional e não faz sentido só chamar as personalidades que o governo deseja", disse Maia à equipe da coluna.
A equipe da coluna apurou que o veto à convocação do comandante foi do ministro Flávio Dino, da Justiça.
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Parlamentares da CPI afirmaram ter procurado o ministro e insistido pela convocação, mas Dino teria afirmado que o comandante é bolsonarista e não vai permitir que oposição utilize o depoimento para reforçar a narrativa de que Força Nacional de Segurança não agiu porque ele não mandou que ela entrasse em ação.
O governo também poderia permitir que o requerimento sobre o comandante da Força Nacional fosse votado e derrubá-lo, uma vez que tem 21 dos 32 dos parlamentares da comissão e, portanto, condições de aprovar qualquer requerimento.
Mas há outras variáveis. No dia seguinte à declaração de Eliziane, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e o comandante do Exército, Tomás Paiva, foram ao Congresso conversar com os governistas da CPI.
Na saída, Múcio e Tomás disseram que não se opunham à convocação de Garnier. Mas a portas fechadas se disseram preocupados com uma eventual contaminação da imagem do Exército pela presença de um comandante militar na CPI.
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Tudo indica que a decisão de Maia de não convocar mais ninguém não é afinal tão ruim nem para os bolsonaristas e nem para os governistas.