Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar — Rio

A diplomacia brasileira passou os últimos dias tentando executar uma estratégia pragmática para a votação do conselho de segurança da ONU sobre a Guerra entre Israel e o Hamas, que ocorre no início da noite desta segunda-feira.

A meta pela qual trabalharam os representantes do Brasil até o final desta tarde previa conseguir a aprovação dos 9 membros não-permanentes do conselho para sua proposta de resolução sobre o conflito, além de conseguir que os 5 membros permanentes se abstenham e não vetem o texto.

Para que uma resolução do conselho de segurança – que tem força de legislação – seja aprovada, é preciso que o texto receba pelo menos 9 votos favoráveis e nenhum veto.

A principal preocupação do Itamaraty em relação à essa votação é com a posição dos Estados Unidos e da Rússia, que evitaram se comprometer e deixaram claro aos brasileiros que será muito difícil não vetarem a proposta brasileira.

O texto propõe uma condenação enfática dos ataques terroristas do Hamas, pede um cessar-fogo humanitário e a libertação imediata de todos os reféns. Mas o que incomoda os Estados Unidos no rascunho submetido aos países membros do Conselho na madrugada desta segunda-feira é a menção à "desproporcionalidade" da ação de Israel na Faixa de Gaza, além do chamado para que os israelenses suspendam o ultimato feito aos moradores da parte norte de Gaza para que deixem o país antes de uma ofensiva terrestre.

Originalmente esse ultimato vencia no domingo, mas por ora Israel ainda não cumpriu a ameaça e nem a retirou.

A votação de hoje começa às 18h e vai avaliar primeiro a proposta feita pela Rússia na última sexta-feira, 10 minutos antes do início da reunião do conselho.

O projeto dos russos pedia por um cessar-fogo humanitário e o respeito aos princípios do direito internacional, mas não mencionava o Hamas e nem condenava os ataques terroristas que mataram centenas de inocentes e deram início ao conflito.

A proposta foi imediatamente rejeitada pelos americanos, mas a votação formal só ocorrerá na reunião de logo mais.

A seguir serão votadas as emendas apresentadas pelos outros países ao texto brasileiro. Há duas emendas russas que devem ser avaliadas.

Só depois a proposta brasileira será votada.

Internamente, há muito ceticismo no corpo diplomático brasileiro. Apesar de considerarem o texto um avanço e terem louvado nos bastidores a iniciativa do país de tentar conseguir um acordo, os diplomatas da maior parte dos países evitaram se comprometer, porque o momento é de muita tensão interna.

"A intensa polarização política no mundo também se repete no Conselho. A Rússia está muito isolada por causa da guerra da Ucrânia, e qualquer coisa que venha dos russos tende a ser rejeitada", diz uma fonte do Itamaraty.

Para se ter uma ideia do tamanho da paralisia, o conselho até hoje não conseguiu aprovar nenhuma resolução desde o início da guerra da Ucrânia, em fevereiro de 2022, já que a Rússia é um dos cinco membros permanentes do conselho e detém poder de veto.

"Existe uma pressão e uma frustração muito grande, porque o conselho não consegue ter nenhuma declaração pública sobre esse conflito há anos", explica uma fonte envolvida nas conversas, para quem uma estratégia possível é usar essa frustração para tentar tirar o conselho do imobilismo.

"É uma situação gravíssima e sem precedentes. Já morreram milhares de pessoas, e o ultimato que Israel fez aos palestinos para que saiam por uma invasão por terra torna um posicionamento ainda mais urgente", diz essa fonte.

O Brasil foi eleito em junho de 2021 para assumir uma das dez vagas para membros não-permanentes em um mandato de dois anos a partir de janeiro de 2022.

Esse é o 11º mandato do país no Conselho de Segurança desde a fundação da ONU, em 1945 – desempenho superado apenas pelo Japão entre os países não-permanentes que integraram o colegiado.

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