Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

O tumulto que paralisou o plenário da Câmara dos Deputados na noite da última terça-feira (10), quando a oposição obstruiu as votações após a aprovação de uma nota do PT que incluía o repúdio ao "Estado de Israel" junto com o repúdio ao Hamas, levou a uma troca de acusações entre os deputados evangélicos Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), segundo vice-presidente da Casa, e Marcos Pereira (Republicanos-SP), que é o primeiro vice e comandava a sessão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), está em viagem oficial pela Ásia.

Sóstenes diz que Pereira confirmou ter feito um acordo com o PT de olho na disputa pela presidência da Casa, em 2025. Pereira, por sua vez, afirma que Sóstenes está mentindo e sustenta que não fez acordo nenhum.

A confusão começou quando os parlamentares de oposição perceberam que tinham aprovado sem saber, no meio de um pacote de 15 moções partidárias supostamente destinadas a repudiar o ataque terrorista do Hamas, um requerimento do PT que também repudiava Israel.

Deputados da direita em geral e em especial os bolsonaristas, todos defensores de Israel, protestaram contra a inclusão do "jabuti" por considerarem que a manobra quebrava um acordo feito pelos líderes partidários minutos antes.

De acordo com os oposicionistas, a combinação era repudiar as mortes de civis em geral e o ataque do Hamas, mas não o "Estado de Israel".

Em meio à discussão acalorada, bolsonaristas gritavam chamando o petista Rogério Correia, de Minas Gerais, de "tchutchuca do Hamas".

Como parte do protesto, os líderes oposicionistas obstruíram os trabalhos e o impasse parou a Câmara.

"Fui abordar o presidente Marcos Pereira para saber se eu podia de alguma forma ajudar a resolver e ele disse que tinha feito um acordo com o PT", afirmou Sóstenes ao ser questionado pela equipe do blog sobre o episódio. "E ele (Pereira) falou: ‘Eu sou pré-candidato a presidente da Câmara, tenho que fazer aceno para todos os lados’".

Irritado com o colega, Sóstenes provocou, referindo-se ao fato de Pereira ser bispo licenciado da Igreja Universal: "Foi uma pegadinha que o presidente fez com todo o plenário. A Universal é um grande aliado do Estado de Israel. Será que o bispo Macedo (Edir Macedo, chefe da Universal) fica feliz com isso?"

Já Marcos Pereira nega a conversa com Sóstenes. "Não disse isso a ele. Mentira. O acordo feito foi na presença de todos os líderes e o que reflete a realidade é o que foi dito pelo Marcel Van Hattem (Novo-RS) no seu pronunciamento. O acordo foi que todos apresentariam as moções que julgassem em acordo com suas convicções e em globo."

Van Hattem, porém, disse na tribuna que o acordo previa juntar os 14 requerimentos de repúdio ao ataque terrorista em uma única moção, que faria ainda referência à morte de civis, mas não a Israel.

Para Marcos Pereira, as acusações de Sóstenes fazem parte de "uma pauta que interessa só aos radicais de extrema direita".

No entanto, deputados de esquerda também se manifestaram nas redes sociais após a confusão. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) descreveu no ex-Twitter a situação como "surreal".

"Câmara dos Deputados aprovou em bloco 14 moções, distintas caracterizações, sobre o que aconteceu em Israel e na Palestina", disse o comunista. "Agora, cada parlamentar dirá que sua moção foi aprovada e cabem todas as posições. Império da narrativa, morte da política!"

A obstrução durou pouco mais de uma hora. Depois de conversas de bastidores entre Pereira e os líderes, a sessão foi retomada e continuou normalmente.

Mesmo assim, a oposição ainda quer anular a votação que aprovou o pacote de requerimentos – que alguns deputados apelidaram jocosamente de "Big Mac das moções de repúdio". Questionado a respeito, Pereira não respondeu quais as chances de a votação ser derrubada.

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