Malu Gaspar
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Por Rafael Moraes Moura — Brasília

O julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que condenou Jair Bolsonaro e Walter Braga Netto por abuso de poder político e econômico nas comemorações do Bicentenário da Independência aprofunda o mal-estar da Corte Eleitoral com os militares ao declarar inelegível o general e companheiro de chapa da campanha do ex-presidente.

Na prática, o TSE implodiu os planos políticos de Braga Neto e o afastou do tabuleiro político até 2030, impedindo-o de disputar a prefeitura do Rio de Janeiro no ano que vem, ou o senado por Minas Gerais – sua terra natal – em 2026.

Braga Netto tem hoje 66 anos de idade, ou seja, só poderá voltar a disputar um cargo eletivo quando tiver 73 anos. "Tem havido uma sucessão de notícias, fatos, atos desabonadores envolvendo integrantes das Forças Armadas. A corporação está machucada. É mais uma flechada em São Sebastião", resumiu um general ouvido reservadamente pela equipe da coluna.

Em um primeiro momento, coube ao presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, dar o voto que desempatou provisoriamente o placar e selou o destino político de Braga Netto.

Com a maioria já formada pela inelegibilidade de Braga Netto, o relator do caso, Benedito Gonçalves, reajustou o voto que havia dado na semana passada e acompanhou o entendimento da maioria, sedimentando o placar de 5 a 2 para afastar o general das eleições até 2030.

Esta não é a primeira vez – e certamente não será a última – que Alexandre de Moraes entra em rota de colisão com os militares. O ministro é o relator no Supremo Tribunal Federal (STF) do inquérito que investiga o envolvimento de integrantes das Forças Armadas nos atos antidemocráticos que culminaram com a invasão e a depredação da sede dos três poderes em 8 de janeiro.

Durante as eleições, o presidente do TSE travou um cabo de guerra com as Forças Armadas, que insistiram na adoção de uma série de medidas sob a alegação de aperfeiçoar o sistema eleitoral. Após a turbulenta campanha do ano passado, Moraes excluiu os militares de uma comissão que fiscaliza o processo eleitoral no âmbito do TSE.

A punição mais severa a Braga Netto não havia sido defendida nem pelo vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, nem constava no voto original do relator das ações, ministro Benedito Gonçalves, conhecido pelos pares pelo rigor técnico na análise das condutas dos investigados.

Coube a um dos "novatos" do TSE, o ministro Floriano Azevedo, trazer a questão para o centro do debate, na sessão da última quinta-feira.

Nesta terça-feira, os ministros André Ramos Tavares, Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes acompanharam o entendimento do colega para declarar Braga Netto inelegível e afastá-lo das eleições até 2030.

O entendimento do TSE é no sentido de que, para impor a inelegibilidade a algum candidato pela prática de abuso de poder, é preciso comprovar que o político tenha participado direta ou indiretamente nos fatos tidos como abusivos.

Braga Netto acompanhou o desfile militar do ano passado, uma motociata e os discursos de Bolsonaro em trios elétricos no Rio e em Brasília.

“Houve um planejamento, uma organização desses atos e a execução no dia 7 de Setembro. A conduta vedada foi amplamente comprovada. O segundo investigado (Braga Netto) inclusive era da coordenadoria da campanha, tudo isso numa linha de sequência muito clara: um ato, depois do outro”, disse Cármen Lúcia.

“Parece-me inequívoca, portanto, que é uma participação, uma contribuição ostensiva de importância muito significativa. Tenho que nesse contexto que o segundo investigado há de ser declarado inelegível.”

Moraes, por sua vez, frisou que a prova de abuso era “extremamente robusta”. “Não há nenhuma dúvida da prática da conduta vedada e do abuso de poder político em relação a ambos os investigados”, disse o presidente do TSE.

“(Braga Netto) Foi chefe da Casa Civil, assessor da Presidência, era um dos coordenadores da campanha, se beneficiou com isso”, acrescentou Moraes.

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